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Quando o crime começa muito antes de o sangue ser derramado

Paulinho: mais uma vítima da violência

Por Joedson Telles

Deveria servir de alerta o desabafo da mãe do jovem de 18 anos, que morreu, na última terça-feira, dia 6, em confronto com policiais. A versão predominante repousa na lógica que, após receber voz de prisão, sob a acusação de ter participação no homicídio que vitimou o policial civil Paulo Sérgio Souza de Jesus, o Paulinho, 58, o jovem teria reagido e levado a polícia a fazer o mesmo. 

De acordo com a mãe do jovem, uma faxineira, que, inclusive, já havia prestado serviços para Paulinho, não faltou conselhos para que o filho evitasse o mundo do crime. Para deletar amizades que não constroem coisas positivas. Para não encher o corpo de tatuagens e coisas afins. Revelou tudo ao jornalista Marcos Couto, da Mix FM. Evidente deve ter aconselhado também o filho a estudar, se relacionar com pessoas de bem, buscar Deus… Mas…

Toda esta preocupação de evitar o que acabou sendo inevitável, inclusive, com desfecho trágico – para o filho e para Paulinho -, ainda tinha como adversários o tempo e a precária situação financeira. Separada do pai do jovem, ela explica que precisa trabalhar duro o dia todo para sustentar a família. Ou seja, não tem como acompanhar os passos dos filhos, que acabam sendo criados em ambientes e companhias (leia-se outras vítimas) que colocam suas vidas em xeque.

Em casos como este, note-se, nenhuma família está isolada. O erro é sempre coletivo. Isso mesmo: falhamos. Estado, município, Legislativo, Judiciário, escola, imprensa… A sociedade falhou e falha. Arcou e arca com as consequências terríveis.

Qualquer criança tem ciência que este relato de uma mãe, sofrendo por ver um filho de apenas 18 entrar de cabeça no mundo do crime e ser morto da forma que os fatos revelam, está longe de ser a exceção da regra. Nem todos os dias pessoas conhecidas ou com destaque na sociedade estão no papel de vítimas de jovens jogados à própria sorte, é verdade.

Porém, este tipo de crime é praxe entre excluídos. Praticamente, todos os dias estes jovens estão nas rinhas da vida que, vez por outra, acabam em morte. E, muitas vezes, são invisíveis ao Estado, município, Legislativo, Judiciário, escola, imprensa… A sociedade falhou e falha…

A luta árdua de mães e pais de famílias contra atitudes de jovens entregues à marginalidade, às drogas, ao que não presta é diária. Momentânea. Agora mesmo está a acontecer… Neste clima terrível sob o mesmo teto, após aconselhar, brigar, às vezes até usar da violência anos e anos, familiares tendem a jogar a tolha.

E o fazem porque não acreditam mais na solução. Cansaram. Foram vencidos. Em outros casos, temem uma agressão ou mesmo perderem a vida no embate. Muitas famílias, antes de entregarem a “grande tristeza” – homenageemos A Cabana – a Deus, batem à porta da escola, da polícia, do conselho, tutelar, de parlamentares, do Judiciário, da imprensa… Outras sequer sabem pedir socorro. Sofrem e, por vezes, conscientemente, apenas aguardam o pior. Para o filho ou para uma suposta vítima dele.

A questão é social queiramos ou não. E não é lúcido deixarmos quem pariu Matheus em ação isolada. Tampouco confundir polícia com lixeiro. Às vezes, o crime começa muito antes de o sangue ser derramado. Omissão é crime. Focar a adega de vinhos caros, viagens, últimos lançamentos de automóveis, engordar a conta bancária e dar de ombros ao problema “alheio” se mostra tática estúpida e falida.

Se a angústia destas famílias humildes não perpassa na busca coletiva por soluções urgentes, se o espírito não é o fraterno, se não provamos, na prática, sermos cristãos, de fato, precisamos, ao menos, ser inteligentes. Legislemos em causa própria. Usemos da empatia com Paulinho, entre outras vítimas a espelhar que o problema não está apenas no porão: chegou à sala de visitas e faz estragos irreparáveis.

Modificado em 08/06/2017 08:10

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