body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

O “mito” bate na cara. Os fãs esfregam o vermelhão e esperam a próxima

Por Joedson Telles

Não disse que fatia considerável dos que elegeram Jair Bolsonaro presidente do Brasil – sem sequer cobrar preparo – tem como discernimento único o ódio ao PT e a Lula? Votou pela dianteira nas pesquisas, mas se lixando para a possibilidade de jogar o país numa vala ainda mais funda. O episódio dos áudios vazados pelo ex-ministro Gustavo Bebianno ratifica o grau de inteligência: o “mito” bate na cara dos fãs com força. Estes esfregam o vermelhão e esperam a próxima. “Valeu, meu capitão. Manda outra…”

É óbvio que os tais áudios, de fato, não motivam um impeachment do presidente. Não o pegam confessando um crime de corrupção, por exemplo. E, faça-se justiça, já vimos coisa bem pior ser vazada. Todavia, é preocupante que diante do que se escutou vastamente ainda tenha gente para velar o presidente e seu governo de início atabalhoado. Lembra aquela história de traição que sobra para o sofá na insana preocupação de velar a mulher?

Bolas! O “mito” não sustentou a versão do filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL/RJ), que disse que Babianno havia mentido quando disse que havia conversado com o presidente? E pelos áudios quem é o mentiroso? Ou os mentirosos?

A voz inconfundível do próprio Bolsonaro não deixa dúvida: presidente e então auxiliar não apenas conversaram como também tocaram no esquema de candidaturas laranjas do PSL, revelado pelo jornal Folha de S. Paulo, custando, inclusive, o emprego de Bebianno. Não é postura de presidente.

Nunca enxerguei na pessoa de Bolsonaro exemplo de preparo intelectual. Aliás, não faltou quem me acusasse de agir com preconceito quando dizia, numa rede social, durante o primeiro turno, que o descartava de pronto pela falta de preparo. Entretanto, confesso minha surpresa com o fato de o “mito” desconhecer que o aplicativo Whatsapp permite ao usuário arquivar áudios.

E se tinha este básico conhecimento, demonstra ingenuidade parecida, ao sustentar a versão do filho, mesmo sabendo que a prova do contrário estava nas mãos de uma pessoa que o ajudou a ser eleito presidente, mas acabava de ser mandado embora do governo, mesmo jurando inocência. Até uma criança previa o que acabou acontecendo.

E é dentro deste contexto que, aliviadas, almas se arvoram a comemorar o conteúdo dos áudios com a mesma euforia que brasileiros que gostam de futebol vibram quando a Seleção faz gol na Argentina.

Longe da esperada indignação trivial por ter elegido para administrar o país um homem que falta com a verdade, mesmo existindo gravações como provas, não falta gente com a maior tranquilidade do mundo comemorando, sobretudo nas redes sociais (terreno onde pensar soa artigo de luxo), o conteúdo dos áudios. Educação segue o nosso maior gargalo. Nunca duvidei.

Para estes fanáticos, pelo jeito, bem mais bolsonaristas que brasileiros, não importa se há mentira na história, desde que não haja nada que a Polícia Federal enxergue como crime e comprometa o “mito”. Percebe o drama, internauta?

Lamentável. Bufo… O grau de simpatia com um político se torna nocivo quando ofusca do eleitor a obviedade: quem ocupa um mandato legitimado nas urnas não passa de um empregado público bem remunerado e cercado de mordomias. Precisa estar obrigado a agir com respeito, sinceridade e dar o seu melhor pelos que representam.

Mentiras não podem jamais fazer parte do repertório de um presidente da República, quanto mais serem aceitas por quem lhe deu poder. Idolatrá-lo, baixar a cabeça e dizer amém para o erro só prejudica o país.

Aliás, quanta ironia: uma resposta ao embrutecimento flagrante na devoção desavergonhada partiu, lá atrás, do próprio “mito”, ao recorrer a João 8:32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Quando? Eis o problema.

Modificado em 21/02/2019 04:36

Universo Político: