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“O Jackson Barreto de ontem” seria a maior oposição ao “Jackson Barreto de hoje”

Eduardo: caindo na velha tática

Por Joedson Telles

O senador Eduardo Amorim optou por não restituir com a mesma linguagem a provocação feita pelo governador Jackson Barreto, que o classificou como um “político preguiçoso”. Que pérola, não? Digna de um grande boss de uma das maiores potências mundiais. Jackson chamando o senador de preguiçoso… Eduardo, porém, preferiu outra linha. Observou que como político conduz sua vida pública de maneira ética e respeitável. Mas, sem descer do salto, não deixou de cutucar: “Fui educado por meus pais e jamais agrediria uma pessoa chamando-a de preguiçosa numa emissora de rádio. Isso é postura de um governador? Não irei responder a uma agressão com mais agressões”, disse ao radialista Gilmar Carvalho.

Meto a colher no mingau alheio a contrariar a serventia mais uma vez: o senador Eduardo Amorim vacila, ao cair na mesma armadilha que o então candidato Eduardo Amorim caiu. Aliás, até o seu irmão, Edivan Amorim, cedeu à casca de banana, nas eleições passadas. Fez o que o senso comum batizou de “entrar na pilha”. E que pilha obsoleta, gasta…

Bolas! Está mais do que provado que o governador Jackson Barreto ou não quer governar ou não sabe mesmo administrar. Não nasceu para a coisa. Entende? É só olhar para Sergipe e atestar o óbvio em forma de caos. Como já disse seu amigo, o deputado estadual Robson Viana, corre o risco de deixar o governo como o pior governador da história de Sergipe. Agora, imagine a profundidade do buraco para um amigo precisar lavar a roupa malcheirosa numa emissora de rádio em forma de alerta?

Agora saca só a jogada: esperto, o governador Jackson Barreto provoca o senador e, assim, tenta desviar o foco da sua péssima gestão. Ofusca – ou pelo menos tenta ofuscar – o fracasso do seu primeiro ano de governo com cara de último. O tempo que Eduardo ou outra pessoa qualquer perde lhe respondendo deixa de ser usado para criticar construtivamente o desgoverno vivido por Sergipe. E óbvio: de joelhos, setores viciados da mídia ignoram o caos. Aliás, se o governador fosse João Alves Filho, Albano Franco ou Antônio Carlos Valadares, com este desgoverno flagrante, por certo, não havia tanta omissão “não se sabe o motivo”…

O curioso é observar que, na verdade, em se tratando de política, Jackson está no seu papel. Experiente, joga com as armas que acha melhor. Tem inúmeros problemas, seu governo não consegue dar respostas, mas tem língua, conta com o silêncio cúmplice de setores da mídia, o vacilo da oposição e ainda se reforça com o embrutecimento de grande parte da sociedade de um estado onde pensar soa artigo de luxo. Eis a ópera.

Aí eu indago: neste contexto, para quê mesmo o governador levar em conta que as pessoas merecem respeito? Que o alvo das ofensas tem esposa e filhos? Família? Que as críticas trazem a verdade? Respondo eu mesmo: é do jogo político. Não deveria ser assim, mas é. Há, aliás, dentro da própria política, comportamentos mais reprováveis pelo bom senso. Mas o governador deveria lembrar que ninguém tem a obrigação de seguir o mal exemplo. Há como ser diferente. Conseguir o mesmo objetivo político sem apelar para certos subterfúgios que não melhoram a imagem dos políticos frente à sociedade.  É só usar a cabeça e o tempo de vida que Deus lhe deu para encontrar o melhor caminho. Desrespeito e agressão nunca são as melhores opções.

Além de tudo, Sergipe não se resume a Eduardo Amorim. Jackson precisa deixá-lo em seu papel de oposição. Aprender a conviver com o contraditório. Pensar exclusivamente nos graves problemas dos sergipanos deve ser a bíblia. Até porque, Eduardo tem a vida resolvida. Permite-se ao luxo de não precisar dos “serviços” do governo. Não estuda em escola pública precária, não utiliza a saúde pública que deixa a desejar e, certamente, tem muito mais estrutura para se proteger dos bandidos que desmoralizam o governo do que Zé da Roda, que mora ali no Jeb Jeb e utiliza o transporte coletivo para trabalhar. Anda a pé quando a grana encurta de vez. É totalmente vulnerável à marginalidade triunfante nesta terra outrora tranquila. Eduardo também tem mais sorte que o servidor público estadual: o Senado paga infinitamente melhor, concede aumento e jamais parcela salários. Se não fosse senador, exerceria a medicina ou o direito – e estaria melhor que a maioria dos servidores públicos. Portanto, merece bem menos a atenção do governador que inúmeros sergipanos.

Se é flagrante que Sergipe respira problemas, se Eduardo ou qualquer mente independente usa da democracia e cobra soluções a quem, de fato, se deve cobrar, por que, então, não calar bocas queixosas com trabalho, competência e resultados positivos para o povo de Sergipe? Por que não usar da criatividade para vencer os problemas e, assim, sepultar quaisquer críticas oportunistas ou construtivas?

Desconheço algo mais arrogante em política que assumir o poder, errar e não aceitar criticas. Partir para sufocá-las com agressão. Até porque, se for para agredir quem está insatisfeito com o atual governo, será preciso sair por aí agredindo um oceano de gente. A começar pela própria cozinha. Será que todos os seus auxiliares estão satisfeitos com sua gestão, governador? Ou alguns usam da perfídia para não perder o emprego temporário, mas têm lá também suas críticas?

O mais curioso, talvez, é observar que se está falando da gestão Jackson Barreto, cuja história foi construída na oposição, apontando erros de governos adversários, ao tempo em que alimentava o sonho que Sergipe um dia daria certo no coletivo. Que os problemas teriam soluções. Que era possível governar para os mais pobres. Uma história bonita que “não precisaria” ter o desfecho incoerente que está tendo.

Às vezes, recorro ao monólogo. Coisa de jornalista inquieto. E, assim, indago a mim mesmo, neste momento, antes de colocar as letras do parágrafo final na tela do notebook, neste feriado: o que o Jackson Barreto do passado diria do Jackson Barreto governador? Que nota daria para não rasgar a coerência? Curioso, não? O que o Jackson Barreto, que fazia uma oposição em sintonia com os menos favorecidos, diria hoje ao governador que não aceita o contraditório, mesmo sabendo que a verdade factual jamais deve ser agredida? O que diria do político que mesmo vencendo a eleição e anunciando aposentadoria dá a entender não saber conviver com quem não se ajoelha aos pés dos erros da sua pífia gestão? A curiosidade queima no bom senso. Na lucidez. Penso que o Jackson Barreto de ontem seria a maior oposição ao Jackson Barreto de hoje, que, por sua vez, não surpreenderia se desse de ombros para o JB do passado e ainda tirasse uma onda. Como aquela história inacreditável dos óculos x professores.

Modificado em 08/12/2015 10:13

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