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O governo que cria expectativas e espalha frustrações

Por Joedson Telles

Depois de ventilar que liberaria a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600,00, o governo Jair Bolsonaro – especialista em anunciar e, em seguida, dizer outra coisa bem diferente – divulga uma nota informando que não antecipará mais o pífio socorro.

“Por fatores legais e orçamentários, pelo alto número de requerentes que ainda estão em análise, estamos impedidos legalmente de fazer a antecipação da segunda parcela do auxílio-emergencial”, tenta se justificar.

Em outras palavras, como se não bastasse a incompetência para fazer o dinheiro chegar com a rapidez necessária a todas as pessoas que passam fome, neste momento, o governo Bolsonaro, de forma perversa, cria expectativas e, posteriormente, espalha frustrações.

A impressão que fica é que o Poder Executivo, paradoxalmente, não consegue dar respostas positivas à gama da sociedade que mais precisa do seu comprometimento com a causa.

As cenas exibidas pelos telejornais que flagram filas quilométricas formadas por quem está impossibilitado de trabalhar, e, sem outra opção, se submete à humilhação intrínseca à burocracia para aventurar receber os míseros R$ 600,00 parece não comover um governo frio, que demonstra insensibilidade frente ao problema que não pode jamais ser visto como alheio.

Quem se candidata ao cargo de presidente da República do Brasil precisa ter preparo para a difícil missão. Precisa estar pronto para, em sendo eleito, administrar para todos, é óbvio. Mas precisa ter um olhar especial para os que mais precisam do poder público. E são momentos como este que ratificam que o presidente não tem condições de estar à frente de um governo.

Como se não bastasse sua desastrosa atuação na área da saúde, diante da pandemia do coronavírus, quando contrariando a OMS vai de encontro ao isolamento social, Bolsonaro ou não prioriza resolver o sofrimento dos mais necessitados, permitindo a trava instalada no seu governo, ou não tem comando sobre auxiliares para determinar e ser levado a sério o que precisa ser prioridade.

Estranhamente, contudo, quando o problema não é da nação, muito menos dos mais pobres, mas pessoal, quando atinge somente o umbigo do próprio presidente, a agilidade com que as pedras são removidas do caminho vai de encontro à lógica.

A exoneração do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que seguiu a cartilha da OMS, as orientações das autoridades médicas e sempre esteve coerente com a ciência, mas afrontou a vaidade do presidente, ilustra muito bem o abismo.

Abismo, a propósito, que representa muito mais o perigo eminente à medida que a insanidade que promove a crueldade encontra eco em quem não tem inteligência para discernir a distinção entre um servidor público de luxo bem remunerado com a obrigação de ser preparado para prover soluções coletivas e um ídolo, que não vive à custa de impostos e, portanto, não tem a obrigação de mover uma só palha em prol do social.

 

 

 

Modificado em 23/04/2020 17:29

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