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O abismo entre certas mentes que velam Bolsonaro e a lucidez

Por Joedson Telles

A propósito da covarde agressão praticada por manifestantes bolsonaristas contra jornalistas do Estadão, posto em uma rede social que a manifestação precisa ser livre. Faz parte da democracia. Mas usar da violência contra quem está trabalhando é coisa de marginal.

O comentário motivou a postagem que segue na íntegra: “Foi porque quis, se nao gosta do presidente e la tem os apaixonados, ja sabe paixão é paixão. Você com certeza se fosse levaria pancada porque mostra tranquilamente durante todo o dia que nao gosta do presidente”, escreveu uma pessoa cujo nome opto por não assegurar o minuto de fama.

Agressões à gramática passam batidas quando a violência contra os jornalistas é não apenas aprovada, mas pensada de modo a revelar sentimentos de estendê-la a outras pessoas. Total repúdio.

Não há quem seja desprovido de inteligência ao ponto de desconhecer que o bom senso, a educação, a civilização… gritam para que os debates sejam no terreno das ideias. Da retórica. Da persuasão. É insano velar a violência.

Observe, internauta, estamos diante de um comportamento típico da maioria dos defensores do presidente Jair Bolsonaro nas redes. A fatia que age sem pensar. A turma do amém. A arrogância, a truculência e a ausência das mínimas condições de equilíbrio para viver em harmonia com o diferente num regime democrático afloram, jogando o próprio discurso por terra.

Os jornalistas não foram até lá porque, simplesmente, quiseram, mas estavam trabalhando. Cumprindo ordens. Estavam exercendo o ofício, lastreados no direito de circular assegurado na Constituição. E mesmo que estivessem passeando nada justifica violência.

Já a mencionada paixão não pode mitigar o desequilíbrio. Tampouco o fato de um jornalista supostamente não gostar do presidente ser motivo para ele ser agredido.

Aliás, no caso em foco, o juízo de valor feito por essa pessoa admiradora do Bolsonaro, quando imagina que, se este jornalista estivesse no local, “levaria pancada porque não gosta do presidente” é um retrato 3 x 4 do abismo entre certas mentes que velam o presidente e a lucidez atrelada à verdade factual.

Para muitos admiradores, o presidente não é visto dentro da realidade dos fatos, mas num trono intocável. Ainda que equivocado ao extremo, jamais pode ser contrariado. Criticá-lo soa pecado.

Esquecidos ou ignorantes, eles não levam em conta que um presidente da República, assim como um governador e um prefeito, por exemplo, são servidores públicos. De luxo, mas são. Seus rechonchudos vencimentos e demais vantagens são gerados por impostos pagos pelo contribuinte. Suor dos trabalhadores.

São representantes da população legitimados nas urnas, é óbvio. Mas nem por isso proprietários da União, Estados e municípios. São inquilinos do poder que emana do povo e em seu nome é exercido. Inquilinos que têm o relógio trabalhando contra.

Fiscalizá-los – e não concordar com passos equivocados – não é questão de gostar ou não de político A, B ou C, mas de não abrir mão do exercício da cidadania por um Brasil supremo. Quer ser intocável? Não receber críticas? Abra uma empresa e talvez, repita-se: talvez, seja possível. Mas a coisa pública é diferente. Precisa e será fiscalizada sempre.

Modificado em 04/05/2020 12:15

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