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Nem petralha nem coxinha: o coletivo

Por Joedson Telles

Animosidade que não serve ao coletivo

Veja o que posta em sua página no facebook o colega jornalista Cristian Góes. Entro em campo depois.

“Um amigo aqui de Portugal, que nunca esteve no Brasil, mas acompanha com interesse as notícias daí, perguntou-me: ‘Vi que as panelas voltaram a bater nos bairros nobres e que estará a ocorrer uma manifestação no dia 4 de dezembro pelos mesmos que derrubaram a presidenta. Não entendo? É a segunda fase do golpe? Essa manifestação do dia 4 é para facilitar a intervenção militar e fechamento do Congresso?’  Como é que respondo a ele?”

No gramado. Sugeri a resposta, de pronto: “Explique que manifestação faz parte da democracia. Que, diferente da baderna, é algo salutar. Diga também que não existe uma lei aqui deixando as pessoas reféns de decisões. Podemos estar com um político hoje e não estar amanhã, a depender dos seus atos. E não se esqueça de dizer ainda que Temer, de fato, chegou no golpe, mas pegou o Brasil na UTI por conta da “competência” do governo do PT, do qual ele era vice e comungou com pedaladas e tudo o mais. Aliás, ele deve ser minimamente informado, até porque ‘acompanha as notícias’… Mas diga, por fim, que no Brasil tem muita gente com dificuldade de pensar, de fato. Mas tem muita gente que pensa também – inclusive para discernir que os vícios brasileiros são apartidários.”

Eis minha postagem. Mas achei o debate tão oportuno que o trouxe para aprofundar na mídia. As redes sociais estão coalhadas de porcarias, mas postagens como esta do jornalista Cristian Góes são exceções que merecem respeito, espaço e destaque na imprensa. Limitei-me para não cometer a gafe de lançar um jornal inteiro na página alheia. Mas vamos aqui.

Por ora, não entro na essência da citada manifestação marcada para o dia 4. Mas me estendo no juízo já exposto na página do colega Cristian Góes.

Primeiro que estaríamos condenados ao mais cruel entre os martírios psicológicos se não pudéssemos mudar de opinião e manifestar isso. Inclusive com paneladas. Jogaríamos a democracia na lata do lixo? Já não basta se deixar enganar por políticos sem escrúpulos, que durante a campanha adotam um discurso e, uma vez eleitos, mudam radicalmente na maior desfaçatez, deixando o eleitor na fila por longos quatro anos para consertar o erro?

Bolas! Questionar quaisquer manifestações que não se confundam com badernas, que respeitem o contraditório e não usem da violência é o fim da picada.

Outra coisa: é bom que fique claro de uma vez por todas: o Brasil não votou em Temer, evidente. Uns chamam de golpista, outros de oportunista e há aqueles que preferem sortudo – e complementam: o governo caiu no seu colo.

Seja lá como for, o Brasil não o escolheu. Não votei em Temer e nem o internauta votou, certo? Mas diante do caos que Dilma Rousseff deixou o Brasil qualquer um que estivesse em condições constitucionais de assumir seu lugar assumiria, sobretudo legitimado pelo Congresso e com o aval do Supremo. O sentimento era visível nas ruas: a maioria não queria mais Dilma.

Agora, petistas e aliados têm razão quando se agarram ao discurso do golpe? Claro. As urnas elegeram Dilma Rousseff. Além disso, é imprescindível manter o PT em evidência até 2018. Sonham com Lula lá outra vez. É do jogo. Portanto, estão nos seus papéis.

O problema é que o PT não pode ser e jamais será maior que o Brasil. Não convence aos lúcidos – aqueles que não morrem de amor por cor partidária, mas cobram dos seus representantes coerência com os discursos de campanha – a pessoa dormir e acordar falando em golpe, mas negar ao país um amplo debate sobre o que Dilma fez e deixou de fazer pelo Brasil. Um debate sobre a distância oceânica entre a Dilma candidata x a Dilma presidenta. Um debate sobre o caos.

Terceiro e último ponto, que não pode ser atribuído à postagem do Cristian Góes, evidente, mas sempre pega carona no tema: vamos acabar com está ideia louca de querer dividir o Brasil à força entre petistas e aliados x adversários de petistas e aliados. Ou como a animosidade tenta cunhar: petralhas x coxinhas. Aliás, deprimente. Nível mais rasteiro para começar o debate impossível.

Mas, como ia dizendo, é preciso sepultar essa coisa ridícula, bufa, grotesca de tentar dividir o Brasil. Por que na cabeça de certas pessoas não podem existir outras que, ao invés de abraçarem partidos e suas ideologias, optam pelo interesse coletivo? E quem se permite ao luxo de pensar e não escolher nenhum dos dois lados? Não conta?

Não podemos criticar, quando acharmos necessário, e termos a hombridade de elogiar nos momentos certos? Não podemos apoiar e, a depender das ações, descartar e buscar novos caminhos? Os apartidários só têm direito ao voto? Abrir a boca é estar condenado a ter que aderir a um dos lados?

Nunca aceitarei a mordaça. Pessoas que pensam do mesmo jeito jamais aceitarão também. Nem petralha nem coxinha: opto pela coerência em prol do coletivo. Opinar, votar, apoiar, manifestar, descartar, são verbos que só têm sentido no mundo político quando colocados em prática à luz da liberdade, velando a democracia e a sinceridade. Não pode e nem deve haver coação de sentimentos. O pensamento é livre. E, a menos que a pessoa abra mão desta que é uma das maiores preciosidades da vida, sempre será.

Modificado em 01/12/2016 19:54

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