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Mandar jornalista calar a boca é cafezinho. “E daí?” resume a ópera

Por Joedson Telles

A propósito da mais recente pérola exibida pelo presidente Jair Bolsonaro publicamente, indago ao internauta: o que significa mandar um jornalista calar a boca – ainda que aos berros – perto de questionar “e daí?” diante de várias mortes de pessoas vítimas do coronavírus? Eu mesmo respondo: nada. Um zero à esquerda. Um cafezinho sem leite. O “e daí?” resume a ópera.

Evidente que os jornalistas merecem respeito, inclusive por não existirem em si mesmo: representam a sociedade, vivem em função do coletivo. Ofício nobre é o bom jornalismo. Imprescindível. Mas quando se trata de vidas perdidas não há argumentos convincentes.

Ao soltar o infeliz “e daí?”, Bolsonaro disse ao Brasil – e às demais partes do mundo – que é capaz de tudo que pegue a contramão do bom senso, da empatia, do humano, do respeito, da liturgia do cargo que ocupa temporariamente.

Bolsonaro deixou evidente que o brasileiro pode esperar dele o pior. Se não houver sensibilidade e respeito diante de mortes e do sofrimento provocado, haverá em quais circunstâncias?

Ali, o presidente, que já fez e disse muita asneira, neste curto tempo de mandato, se superou. Os mais antenados não têm dúvida: se ele deu a entender que sequer fingiu preocupação com os óbitos, se nem a demagogia lhe socorreu, por certo, terá muita dificuldade de convencer que está preocupado com o país.

Como persuadir que a saúde, a educação, a segurança, o emprego… são, de fato, preocupações do seu governo? Que pessoa estaria sensível a tudo isso, mas diante de tantas mortes indagaria “e daí?”?

Bolas! Que tipo de ser humano o brasileiro elegeu e está à frente do governo? Respondo outra vez: o pior possível: despreparado e desumano.

E, se esta é a triste realidade, por que a surpresa com a ignorância, o desrespeito, a falta de educação com um jornalista que trabalha num jornal, que, a exemplo da maioria dos veículos de comunicação, está fazendo jornalismo sério?

A verdade é que, ao desnudar o político Bolsonaro, a imprensa paga o preço de passar a ser vista por ele como inimiga. Ainda que a maioria dos jornalistas esteja a fazer apenas o seu trabalho de forma séria. Não invente os fatos. Apenas possibilite que as notícias cheguem à população, que, por sua vez, vai formando opinião.

Aliás, muitas pessoas que não conheciam Bolsonaro – e até votaram nele – passaram a conhecê-lo através da cobertura jornalística. E, obviamente, não falta quem tenha mudado de opinião. Há arrependimentos – e isso alimenta a ira do presidente contra a mídia. Sacou?

Bolsonaro parece assustado com a transparência velada pelo jornalismo. Ironicamente, o presidente anda assombrado por uma frase que o candidato usou na campanha e se virou contra ele mesmo: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Talvez, Bolsonaro não tenha ciência, mas a palavra de Deus não volta vazia.  Jamais.

 

Modificado em 06/05/2020 10:45

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