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Jackson não pode apenas cobrar segurança. Tem que participar do processo

João: precisa do governador

Por Joedson Telles   

No futebol, é praxe: quando o time não vai bem, o técnico dança. Não se leva muito em conta a qualidade do elenco. Tampouco a estrutura oferecida. A força dos adversários. Muito menos a capacidade do gestor maior do time. Nada disso balança as redes. Perdeu, já era. O presidente do clube tenta sempre fazer a média com o torcedor, jogando a culpa no treinador – ainda que a sua própria incapacidade administrativa explique os efeitos negativos.

Às vezes, o presidente sequer acompanha o trabalho do treinador. Não sugere jogadores e nem jogadas. Não vai aos treinos prestigiar in logo. Desconhece o vestiário. Mas pune o treinador, às vezes, injustamente ao bel prazer de resultados adversos.

Embora tenha cara de quem sequer entende de futebol, de quem nunca teve intimidade com a redonda, o governador Jackson Barreto parece importar este lado contraproducente do esporte para a sua fraca gestão. Numa só jogada, mandou o ex-deputado federal Mendonça Prado à guilhotina e, sem o mínimo de constrangimento, ajuizou nas entrevistas que está concedendo ao delegado João Batista, seu novo secretário de Segurança Pública, todos os poderes para escalar e agir. Para ele, Jackson Barreto, reservou apenas o papel de cobrador. Fácil, não?

Vamos por parte. Primeiro: fritar Mendonça Prado? Por que não lhe deu os mesmos poderes que está dando a João Batista? É de conhecimento até das grades das delegacias sergipanas os pensamentos conflitantes entre Mendonça e o coronel Maurício Iunes, então comandante da Polícia Militar, em determinados momentos. Não entro no mérito de quem está certo. São duas autoridades com conhecimento, ao menos se supõe, em segurança pública.

Mas das duas uma: ou o governador exercia seu poder de chefe do Executivo e controlava os ânimos, acompanhando tudo de perto, não deixando nenhum dos dois esquecer quem é o chefe maior da segurança ou, assim como fez com João Batista, agora, daria poder ao secretário. Jackson não fez uma coisa nem outra, deu no que deu e acabou exonerando os dois sem explicar os detalhes à população do que levou a gestão ao fracasso. Típico do amadorismo instalado no poder. Ao Universo, o delegado Paulo Márcio, que preside a Adepol, disse que Mendonça foi vítima de deslealdade ou traição por parte de pessoas a quem ele estendeu a mão. “Ele dormiu com o inimigo”, resume.

Outra coisa e bem mais grave: que negócio é este de apenas “cobrar”? Ah, mas João Batista aceitou o papel. Problema de João Batista? Nada. O delegado João Batista, o secretário João Batista, e não o homem João Batista, frise-se, deve satisfação à sociedade do mesmo jeitinho que qualquer servidor público. Constitucionalmente, Jackson Barreto, e não João Batista, é o chefe da Segurança Pública. Sobre os ombros de qualquer governador é que pesa a maior responsabilidade de garantir a segurança dos cidadãos que vivem no estado onde ele governa. Isso não se discute. Se João fracassar, Sergipe fracassa? É isso. Troca-se de secretário, mais uma vez, como os times trocam de técnicos? Uma vida não pode ter o mesmo valor que um campeonato. Jamais…

Cobrar apenas é lavar as mãos. Jackson tem que acompanhar passo a passo João Batista, auxiliando-o na condução da segurança. Dando ideias para o êxito do projeto. Ou não tem? O caos que toma conta de Sergipe, o número de homicídios e assaltos não permite ao governador ser um mero expectador e apenas “cobrar” resultados. Cobrar, a população de Sergipe já cobra. Jornalista que não se presta à serventia idem. O bom senso grita.

É muito pouco um governador apenas cobrar. Tem que também colocar as mãos na massa. O eleitor elegeu Jackson Barreto e não João Batista. Não é colocar um revólver na cintura e ir atrás dos bandidos – como bem disse o saudoso Marcelo Déda. Mas ajudar na formatação do projeto de segurança com o intelecto, insisto. Se não tem ideias, ao menos faça como o ex-governador João Alves Filho, por exemplo, que nunca teve constrangimento em viajar e importar soluções de outros estados. Pedir ajuda. A humildade com êxito é bem melhor que a altivez com o fracasso.

Por mais preparo que tenha o novo secretário, por mais que esteja com vontade de trabalhar, não podemos apagar informações recentes da memória. João Batista era o homem mais próximo do então secretário de Segurança João Eloy, que precedeu Mendonça Prado. E, a julgar pela violência instalada em Sergipe – e pela sua exoneração do cargo pela caneta do próprio Jackson – não deu respostas persuasivos. O mesmo João Batista, que aparecia na mídia bem mais que João Eloy, volta hoje como super secretário com todos os poderes dados pelo o governador que se permite ao luxo de apenas “cobrar”? Paradoxo, não?

Seria insano testemunhar Sergipe afogado em sangue e não torcer que João Batista recoloque o trem nos trilhos. Todos querem isso. Mas é preciso prudência. Inteligência. Não deixar brechas para o erro persistir. Somar forças. A segurança continua sendo um dever de todos. Cobrar só não resolve. Que tal o governador investir o tempo planejado para eleições 2016 na busca de soluções para frear homicídios e outros crimes que estão desmoralizando quaisquer discursos?

Modificado em 23/02/2016 08:10

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