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FHC sugere “renúncia com grandeza”. Mas ele faria o mesmo?

FHC: pregando a renúncia adversária

Por Joedson Telles 

Goste-se ou não do ex-presidente FHC, só mesmo uma falta de inteligência gritante ou cobiça idem para não enxergar pelo menos dois traços invejáveis no político: intelectualidade e elegância. O Ex-presidente domina o procedimento político como poucos – e é capaz de jogar um adversário na lona usando apenas um beijo. Ontem à noite no Programa Roda Vida, da TV Cultura de São Paulo, foi o entrevistado. Falou do seu novo livro, aliás, do primeiro volume da obra ‘Diários da Presidência’, que desembarca nas livrarias, na próxima quinta-feira, dia 29.

Todavia, obviamente, jamais deixaria de ser provocado sobre a crise do governo da petista Dilma Rouseff. E aí, evidente, reside o ponto a chamar mais atenção da rica entrevista. FHC salientou que o governo de coalizão acabou sendo permutado por um governo de cooptação, onde o projeto coletivo, perigosamente, sai de cena. Também lembrou que o Brasil perdeu o rumo. E voltou a dar a receita do bolo para a festa: renúncia.

“Tinha que ter uma renúncia com grandeza. A presidente Dilma não pode desconhecer que a economia está em uma situação desesperadora, que há uma crise política. Ela tinha que dizer: ‘eu saio, eu renuncio, mas eu quero que o Congresso aprove isso, isso e isso'”, sugeriu.

“Isso, isso e isso”, óbvio, são pontos capazes de convencer o brasileiro que a política existe para lhe servir bem. Que o Brasil tem jeito. Que é possível sair dessa crise ética, política, econômica, moral, de valores… Que o apego não pode ser maior que a esperança do brasileiro.

Difícil é imaginar que a presidenta Dilma não saiba disso. Que a sua consciência não lhe antecipou o óbvio antes mesmo de FHC. O problema é que ela é uma política. Além do apego inerente ao material que há no DNA dos políticos, ao combustível da vaidade garantido pelo poder, ela sabe que tem muita gente envolvida no processo.

Note-se, uma renúncia de Dilma seria também uma foice pra lá de amolada a decepar pernas e mais pernas. Sonhos e sobrevivência. Entraria para a história como traidora dos aliados dada a faxina que certamente seria feita pelo futuro gestor. Renúncia, só quando a faca é encosta na jugular por um processo de impeachment ou algo com o mesmo poder de remoção à força da cadeira de gestor.

De fato, uma permuta de gestão atrelada a condições impostas ao Congresso Nacional seria uma solução. Dilma não tem mais o comando do seu próprio governo, e isso por si só já seria o suficiente para o bom senso lhe acordar para a necessidade de deixar a presidência. Mas se enxerga outra saída, a presidenta tem toda a legitimidade das urnas para tentar salvar o seu governo, salvando também a si mesmo e aos companheiros. Renúncia é algo muito pessoal.

Além do mais, cá pra nós, qual a garantia que nas mesmas circunstâncias FHC ou qualquer outro crítico que aconselha Dilma a se mandar faria o mesmo no lugar dela? No fundo no fundo, FHC, como disse no início do texto, é um intelectual. Um elegante no trato. Mas não deixa de ser um político. Assim como Dilma. Do mesmo jeitinho.

Modificado em 27/10/2015 12:12

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