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A fadiga da greve na tora

Por Joedson Telles

Li em uma parede de um dos banheiros da UFS, certa feita, que “o amor cega e faz o feio belo”. O internauta que indagar manifestantes sobre a greve desta terça-feira, dia 5, mesmo com o bom senso gritando que não foi das melhores, certamente, ouvirá o contrário a espelhar a frase que virou lugar comum. Dirão algo como “demos o recado à população sobre este governo golpista…” Colocarão também os problemas do governo JB no bolo. E, se o internauta der corda, a batata de Temer carboniza. Os vermelhos não digerem ter abraçado o então vice da Dilma para derrubar o PSDB, e, hoje, vê-lo sentado na cadeira de presidente. O PT projetou não perder jamais o poder. Mas isso é assunto para outro texto. Fiquemos na greve. Ou melhor: no que sobrou das greves históricas deste país.

Hoje, quando se reflete sobre uma greve como a anunciada em Sergipe, com o mínimo de agudeza, nota-se, de pronto, a fadiga. A impressão que se tem é que jaz o tempo em que a credibilidade dos movimentos persuadia pessoas – inclusive intelectuais – da necessidade de sair às ruas por uma causa nobre.

É lamentável, mas um instrumento importantíssimo como a greve parece banalizado. Sem força em si mesmo. Tudo hoje é motivo para manifestação que desrespeita pessoas que não têm culpa do problema em tela.

Evidente que não vão admitir a verdade. Humildade para reconhecer erros e capacidade de se reinventar e superar crises, de fato, não são predicados para todos. Mas a greve, da forma que vem sendo posta em prática, precisa ser repensada.

A beleza da greve só existe no perpassar do sentimento pela justiça social valendo-se da retórica. Da boa oratória capaz de convencer à adesão. A persuasão intelectual sustentada por dados concretos que levem sempre em conta o bem coletivo.

No momento em que a sociedade percebe que o discurso não tem coerência com a prática e dar de ombros aos apelos, atônitos, os atores dos protestos ferem a democracia e, ao invés de rever equívocos, partem para a violência. É como se dissessem: “se a retórica não funciona mais, busco adesão à força. Na tora”. A propósito, sexo na tora é estupro. Pegar o alheio na tora roubo. E obrigar a pessoa a fazer greve na tora?

Mas ninguém quer discutir isto. O “importante” é fazer a greve. De qualquer jeito. Queira ou não a maioria. Com ou sem necessidade, greve. Falando a verdade ou usando um tema para encobrir outro, greve. Greve que provoca berros em alto falantes contra políticos e governos, mas que só atinge pobre, que nunca vai ter um mandato. Covardia pura.

Quando grevistas atiram no coração da Constituição e cassam o direito de o trabalhador circular, ao impedir a saída dos ônibus das garagens, doentes de buscarem médico e tantas outras situações de praxe numa paralisação, óbvio, o movimento está a atingir a gama mais pobre da sociedade. Político e empresário não andam de ônibus. Não é novidade para ninguém.

Precisamos colocar em prática leis duras contra os abusos. Greve? Sim. Claro. Óbvio. Mas voluntária. Respeitando as demais pessoas e seus diretos estabelecidos na Constituição. É preciso só permitir uma greve quando se souber antes quem será responsabilizado por danos às pessoas ou ao patrimônio público e privado. Contra quem mover uma ação por dano moral, quando se perde o emprego pela impossibilidade de transitar. Ou quando se perde a vida ou se tem a doença agravada pelo mesmo motivo.

Políticos – com ou sem mandatos – sempre estarão na essência de uma greve. Não gratuito que praticamente todas as pessoas ligadas aos movimentos sindicais têm filiação partidária. E o PT é de longe o partido com maior adesão. São pessoas, em sua maioria, idôneas. Merecem o respeito de todos, mas merecem também a crítica quando usam da violência para obrigar outras pessoas a entrarem na onda, sobretudo sem prancha.

Modificado em 05/12/2017 22:12

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