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Da cusparada ao caminho do sepultamento político pela “gripezinha”

Por Joedson Telles

Se tivesse memória, milhares de brasileiros, certamente, teriam suas almas lavadas pelo ex-deputado federal Jean Willys. Ao menos esta é a impressão que nutro, ao navegar nas redes sociais atento aos inúmeros comentários motivados por postagens de sites jornalísticos sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante do letal coronavírus. “Lixo” parece ser o vocábulo favorito numa espécie de déjà-vu com Willys.

Aos esquecidos, era domingo, dia 17 de abril de 2016, Plenário da Câmara dos Deputados, votação do prosseguimento ou não do impeachment da presidente Dilma Roussef e coube a Jean Willys cuspir no rosto (ou na cara, se o internauta preferir) do então deputado Jair Bolsonaro. Cuspir e dizer  à imprensa que não estava arrependido. Aliás, jurou que o faria outra vez. “Quantas vezes tivesse vontade”, enfatizou. Agora, em meio à pandemia, ele teria vontade?

Resgato no site da revista Época Negócios uma fala de Jean Willys para tentar ser fiel à temperatura daquele momento. “Na hora em que fui votar, esse canalha decidiu me insultar na saída e tentar agarra meu braço. Ele ou alguém que estivesse perto dele. Quando ouvi o insulto eu devolvi, cuspi na cara dele que é o que ele merece”, gloriou-se Willys.

O ex-deputado do PSOL carioca demonstrou não temer um processo. “Processo merece quem é machista, quem é a favor da violência, quem defende a memória (do coronel Carlos Alberto) Brilhante Ustra, um torturador. Isso deveria escandalizar vocês, não um cuspe na cara de um canalha”, lê-se na revista…

Voltando às redes sociais, fica claro que cada vez mais pessoas estão indignadas com essa ideia de o presidente tentar bancar o “garoto” propaganda do fim do isolamento social. Achar que sabe mais que especialistas no assunto e propor ideias contrárias – quando há o registro de várias mortes e vidas em xeque – soa insanidade. E os brasileiros, inclusive muitos eleitores de Bolsonaro, não aceitam isso.

Autoridades e a imprensa de outros países também reprovam o comportamento do presidente do Brasil. Criticam a postura equivocada. Alguns até já pregam o seu impeachment. Há quem se refira ao brasileiro como “BolsoNero”. Administradores das redes sociais constrangem o presidente, ao deletarem suas postagens julgadas absurdas. Inapropriadas. Nocivas.

O despreparo cantado em verso e prosa, lá atrás na campanha, foi longe e, hoje, nem dentro do seu próprio governo, Jair Bolsonaro é unanimidade. O pensamento contrário é visto, sobretudo, no seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que, sob qualquer ótica, está ministro porque o próprio Bolsonaro o vê como o mais preparado para a missão.

Caso contrário, Bolsonaro teria que admitir que abriu mão deste imprescindível critério numa nomeação tão importante. Algo que seria um erro gritante. A política não é mais importante que salvar vidas. Jamais será. E o ministro, coerente com autoridades em saúde de todo o mundo, contrariando o presidente, defende o isolamento social.

É fato que muitos comentários negativos partem de pessoas que sequer votaram em Bolsonaro. Há, evidente, “choro de derrotado”, e não é desrespeitando o presidente que o problema será resolvido. Jamais terá razão quem cospe no rosto de uma pessoa ou se refere a ela como lixo. Há meios mais inteligentes de recolocar o trem nos trilhos. Cito como exemplos, a longo prazo, o voto na urna. E a curto prazo, o impeachment.

O brasileiro que votou em Bolsonaro argumenta que o fez para exterminar a possibilidade de o PT voltar ao poder. Vê a legenda como uma quadrilha sedenta pelos cofres públicos. Entretanto, parte deste mesmo eleitor começa a perceber que o político despreparado é tão nocivo aos interesses coletivos quanto o desonesto. Em momentos de crise pode ser até pior.

Há, evidente, quem ainda aprove os passos do presidente por convicção, falta de inteligência, descompromisso com o país, por não querer admitir que errou ou pelo ódio ao PT, mesmo tendo outras opções no primeiro turno das eleições. Entretanto, isso parece ter pouca força para segurar o presidente no cargo.

Cada vez mais rejeitado por brasileiros e seus panelaços, sendo exposto pela imprensa negativamente, perdendo aliados, o governo batendo cabeça, isolado e sem a simpatia dos Poderes Legislativo e Judiciário, contrariando organizações sociais, sendo alvo de críticas em grande parte do mundo…

Ou o presidente reage mudando sua postura, reinventando-se (se é que ainda há tempo) ou o seu sepultamento político será questão de tempo. Ironicamente, o atleta Bolsonaro se acha tão imune ao coronavírus que não consegue enxergar que está sendo morto pela tal “gripezinha”.

Modificado em 04/04/2020 07:45

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