O presidente Jair Bolsonaro volta a bater com força no rosto dos seus apoiadores apaixonados (não gosto de usar o termo gado) e, pelo visto, mais uma vez, anestesiados, eles sequer sentiram. Refiro-me ao recuo do presidente, que, após afrontar o STF, amedrontado pela sombra de um impeachment, se retrata publicamente, jurando na cruz que nunca teve a intenção de agredir quaisquer dos poderes. O presidente deixou na mão quem ecoou seus verbos suicidas com arrogância peculiar.
É possível imaginar a cara, o sorriso amarelo dos apoiadores que aplaudiram o discurso do Dia 7 de Setembro? Não falo dos que apoiam o presidente, mas reconhecem quando ele erra. Falo dos fanáticos. Alienados. A turma do amém a tudo. Aqueles que não perderam tempo e foram às redes sociais, aos grupos de zap, aos bares, aos programas de rádios… concordar, de pronto, com o presidente sem a reflexão devida. Avocar sem pensar duas vezes o que foi visto como crime de responsabilidade.
As perguntas: depois do recuo do “mito”, estas pessoas que o seguem fielmente vão recuar também? Voltarão aos mesmos espaços e retirarão ecos inflamados? Também usarão a desculpa que foi “o calor do momento”? Pedirão desculpas aos lúcidos que reprovaram a fala infeliz do presidente, por terem batido de frente com certa agressividade verbal?
Ou não? Nada disso… Terão personalidade e sustentarão o discurso que o ídolo acaba de rejeitar? Incentivarão o presidente a continuar desrespeitando os poderes? Ele, por sua vez, mudará de opinião outra vez? Voltará a falar para a bolha, que míngua a cada dia, sonhando falar para o Brasil?
Note, internauta, que um verdadeiro líder não deixa seus seguidores num beco sem saída. Não faz um discurso inflamado, formando opinião sem antes refletir muito e ter a certeza de que não precisará recuar. Que os verbos terão sintonia com o bem coletivo. A responsabilidade sobre aqueles que lhe são devotos e, certamente, ecoarão seus juízos, vive a pesar nos seus ombros.
No caso em tela, não foi assim. Ao contrário, o desprezo do presidente parece flagrante. Agiu para tirar o braço da seringa e nem quis saber como ficaria quem lhe idolatra e mete a cara. Aliás, aí parece residir a questão central do problema: ver o presidente como um ídolo inquestionável e sem pecados.
Se os fanáticos eleitores de Bolsonaro apostassem no projeto e não na pessoa, se quisessem mesmo um governo melhor para o Brasil que os governos do desafeto PT escolhiam alguém para representar este projeto que, basicamente, tivesse preparo e respeito à liturgia do cargo e às demais pessoas. Fitavam o presidente como ele é: um servidor público, e não uma estrela.
Contrariando alienados, assim como qualquer presidente, Bolsonaro, que é bem remunerado e tem direito a mordomias que a maioria do povo brasileiro sequer imagina existir, jamais deixará de ser um empregado do povo pago pelo povo com a obrigação indiscutível de prover soluções. Precisa trabalhar pela nação, e não criar problemas o tempo todo.
P.S. Se no discurso de 7 de setembro, Bolsonaro dissesse o que o país fora da bolha quer ouvir sobre vacina, emprego, gasolina, carne e conta de luz, por exemplo, certamente, não precisaria recuar depois. Mas…
Modificado em 10/09/2021 10:26