body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

A vendedora de água de coco, a empatia e Lula

Por Joedson Telles

Enquanto deixo a feira, na manhã deste sábado, dia 1º, passo próximo a uma barraca de água de coco e pesco a vendedora soltar o verbo em tom de desabafo – possivelmente provocada por alguém que já havia vazado: “Não quero nem saber se ele está preso: é Lula. Roubou? Roubou. E daí? Qual deles não rouba? Pois… Eu só voto em Lula. Preso, solto… É Lula. E se partir pra cá escuta”, dizia em alto e bom som como quem temia ofuscar a satisfação de declarar o voto. “Foi o único que pensou nos pobres. Este aí mesmo, o ‘Treme’, bota o pobre para tremer também.”

Confesso que tive vontade de transformar o monólogo num dedo de prosa.  Interagir. Mostrar aquela mulher dos seus cinquenta e poucos anos que estava atento ao seu desabafo. Fazer algumas perguntas e, quem sabe, passar algumas informações. Coisa de jornalista… Mas me contive em apenas tornar os passos mais lentos para escutar o máximo de palavras possível.

Evidente que as pesquisas estão aí e não há novidade em Lula ser o preferido, mesmo na condição de preso condenado. Tampouco a rejeição que pesa nos ombros do golpista Michel Temer e dos que rezam sua cartilha. Para quem abraçou a política como parte do ofício, nada mais trivial.

Entretanto, chamou a atenção a sinceridade e a convicção de uma pessoa que, certamente, tem uma vida difícil: trabalha duro por um dinheiro mensal que não paga um destes jantares de praxe na vida dos políticos. Estava na feira desde as 3 horas? Dormiu ali? Acho que sequer sabe o que é um triplex, mesmo com o assunto sendo batido…

Mas pouco importa. Eis o detalhe que estaria a passar despercebido: grande parte dos pobres que estão abraçados ao presidiário Lula, como é o caso da vendedora de água de coco, entende que o presidente é corrupto, sim. Que enfiou o pé na jaca mesmo. Embora não falte quem cobre as tais provas irrefutáveis sem as quais Lula, afirmam eles, é mais um preso político, há os que estão com Lula mesmo tendo a certeza que ele errou. Tire com o gancho…

Volto a incomodar os botões com a indagação óbvia, enquanto dirijo de volta ao lar com sarapatel, pé de moleque, couve e outras coisas na carona: se a feirante tem em mente que Lula é corrupto, o que, mesmo assim, a motiva não apenas a querer votar nele como também demonstrar publicamente ter orgulho disso?

O pobre, sobretudo o pobre trabalhador, usa da empatia com o Lula. Não importam as notícias de enriquecimento ilícito de Lula e família. Dá de ombros pra isso sem sequer exigir provas. Para a maioria dos pobres, seja pelas pesquisas ou pelo boca a boca, Lula condenado é o mesmo Lula que, quando presidente, melhorou suas vidas.

O raciocínio da vendedora de água de coco é implacável e pode ser resumido: todos roubam, mas Lula é o que mais pensou no pobre. E pronto. Certa ou errada, retire isso da cabeça dela… Da cabeça de outros eleitores… E se uma trabalhadora pensa assim, o que dizer de uma gama de preguiçosos que recebem o bolsa vício, quer dizer, família?

Goste-se ou não do Lula, acredite-se ou não na sua inocência, uma coisa não é possível negar: com ações certas ou erradas, o governo Lula chegou positivamente aos mais necessitados e estes serão eternamente gratos. Viveram a experiência e querem Lula presidente. O fitam como um herói.

Não entro no mérito se os governos FHC prepararam ou não o terreno. É discussão para outro momento. O fato é que, com o Lula, o pobre teve vez. E o pobre faz esta leitura e a coloca sobre quaisquer acusações ou condenações que pesem contra o ex-presidente. Quando se chega ao ponto de ter certeza que Lula é corrupto, mas, mesmo assim, se quer ele solto presidindo o Brasil, acabou qualquer chance de persuasão adversária.

Como se sabe, por 6 x 1, o TSE acaba de sepultar (no mínimo adiar) o sonho de milhares de brasileiros que querem Lula lá outra vez. Barrou o petista à luz da Lei da Ficha Limpa. O Partido dos Trabalhadores tem, agora, 10 dias para apontar o substituto do Lula. Fernando Haddad, hoje na posição de candidato a vice, pode ser alçado a candidato a presidente.

De acordo com a defesa do Lula, ele pode aparecer na TV pedindo voto para outro candidato. Lula tentará a chamada transferência de votos para o nome do PT, óbvio. Algo que com as palavras certas dirigidas a um eleitor revoltado e emotivo por natureza jamais pode ser definido como missão impossível.

Aliás, a sinceridade espontânea daquela vendedora de água de coco, hoje na feira, fecha este texto e dá a dica: “Só voto em Lula, e se não deixarem ele ser (sic)… Voto em quem estiver com ele”. Precisamos de pesquisas?

Modificado em 01/09/2018 12:50

Universo Político: