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Políticos erram porque são seres humanos. Não por serem políticos

Por Joedson Telles

Enquanto aguardo o atendimento do barbeiro, acompanho, sem outra opção, um diálogo entre um cidadão que está tendo a barba aniquilada e outro cabeludo prestes a cair na tesoura. Política é a pauta. Indignação o tom. Lugar comum os argumentos.

Mesmo sem ter sequer um só dia de filiação a um partido político, o ofício trona-me sempre um suspeito presumido em momentos assim. Ao menos no meu subconsciente. Como vivo neste mundo, sempre nutro a sensação de que alguém, previamente avisado de como ganho o pão de cada dia, pode tentar me envolver a qualquer momento na discussão que nunca entro. Não falta quem ache que jornalistas precisam ter opinião para todos os assuntos. Quando acontece, sempre escapo…

Voltemos à conversa entre os clientes da barbearia.

– Político só pensa no bolso. Tudo safado. Só querem mamar. O povo não sabe votar. Queria ver se todo mundo votasse em branco ou anulasse o voto… Mas o povo é besta…

– Rapaz, e o saco não enche… Eu soube que já estão pensando na eleição de 2018. Parece que é para governador e presidente. Agora veja: a eleição desse ano nem chegou já querem mamar em 2018.

– Pois! Já estão pensando em 2026, na próxima…

– Agora: salários atrasados, aumentando tudo, roubo como a porra, professor tudo arrombado…

– Sabe o que era bom? Uma bomba em Brasília…

– Para matar tudo?

– Tá…

Reproduzo a parte mais leve do diálogo com a ajuda da memória, procurando ser fiel ao máximo. Certas lembranças são impublicáveis para qualquer pessoa com o mínimo de bom senso e responsabilidade. O que reporto, contudo, acredito projetar a demissão exata do problema: a sociedade, note-se, vive numa revolta tão grande com o resultado do que ela própria fez com o mundo que não economiza na hora de extravasar sentimentos – mesmo diante de pessoas estranhas.

Como disse, nunca entro neste tipo de debate. Sem presunção, o ofício acaba colocando qualquer um dos seus quadros em xeque. Pronto para assumir o papel de jogador e não torcedor. Mas nada que impeça o pensamento de fazer o que sabe. E, assim, permitir-me um monólogo. Aliás, na verdade, a reedição de mais um. Perguntei a mim mesmo em pensamento outra vez:

– Quando este tipo de gente vai derrubar a ficha? Vai entender que os políticos, que, de fato, não são santos terrestres, são homens e mulheres iguaizinhos a todos nós? Que há os bons, os mais ou menos e os maus, obviamente? Por que esperar santidade em humano?

Bolas! Garantir aos políticos a patente da prática do roubo, por exemplo, é afrontar não apenas a inteligência, mas, sobretudo, a Bíblia, que, se referindo ao satanás, deixa claro em João 10:10: “o ladrão vem somente para roubar, matar e destruir”.

Antes de o contraditório se levantar – “lá vem Joedson Telles jogando a culpa no demônio…” -, deixo claro: o inimigo, o derrotado, só age na vida de quem se afasta de Deus. E como todos têm a liberdade de escolha, cada um é também responsável pelos seus atos.

A história aqui é outra. É convergir para uma realidade inegável: com ou sem o inimigo influenciando, o político não é exceção. A crise é humana. O político é um homem ou uma mulher que chegou ao poder com o aval de outros homens e mulheres. E o homem contemporâneo, com algumas exceções, vive em xeque em si mesmo e nos demais numa corrida desenfreada por vantagens. O mundo consumista consumiu valores e vive-se num vale tudo às vezes escarnecedor.

Evidente que os políticos cometem erros imperdoáveis. Talvez a maioria mereça todas e mais algumas críticas. Entretanto, não é possível negar que ainda existem pessoas decentes. Sérias e honestas neste meio. Como disse, o político é antes de tudo um homem ou uma mulher e acreditar que só tem político desonesto e sugerir a Deus uma nova destruição do mundo à moda Sodoma e Gomorra. A bomba, neste caso, não deveria ser colocada apenas em Brasília, como sugeriu o cidadão na barbearia equivocadamente, diga-se. Não é assim que se resolve o problema. Mas, pegando carona no erro, a bomba teria que ser armada em todos os locais possíveis.

Se não, vejamos: o pastor ou o padre que pede dinheiro não para a obra de Deus, mas para viver de ostentação é melhor que os políticos? O médico que negligencia o atendimento ao paciente porque acredita que ganha pouco dinheiro é melhor que os políticos? O jornalista omisso que se cala diante de um governo fraco e sem corresponder às expectativas do seu povo é melhor que os políticos? O professor que não dá o seu máximo na sala de aula de uma escola por ser esta pública? O servidor que só pensa em incorporações? A dona de casa que manda o filho guardar o lugar na fila do supermercado? O cara que deglute cachaça e pega no volante? O filho da “p” que vende o voto?

Leis são leis. Regras são regras. Devem ser como pecado para Deus: não existe “pecadinho e pecadão”, mas pecado.

Poderia ter participado da conversa. Ter dito que os erros dos políticos aparecem mais porque eles também têm mais oportunidades. E que a solução é mudar o homem. A mulher – e não apenas os políticos com mandatos. Mas, como disse, evito entrar neste tipo de discussão. E, assim, após ter os cabelos aparados – inclusive os brancos que teimam em emergir – limitei-me a desejar uma boa tarde. E fui embora em silêncio.

Isso aconteceu na última segunda-feira. Um raro 29 de fevereiro. Saí apressado. Tive que ir colher informações, justamente, junto aos políticos, na Assembleia Legislativa de Sergipe, onde há além deles, jornalistas, policiais, servidores em geral, gente em busca de uma solução para os mais variados problemas… Lá há sempre pessoas boas como há em todos os locais. Entretanto, todas elas passiveis de erros por serem humanas. Políticos somos todos. Com ou sem mandato.

Modificado em 02/03/2016 07:18

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