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Pequenas e médias empresas da construção civil do Nordeste estão destruídas, diz Luciano Barreto

Engenheiro discursa na Comissão Externa de Obras Inacabadas no País da Câmara

Por Joedson Telles

Presidente da Associação Sergipana dos Empresários de Obras Públicas e Privadas (Aseopp) e do Grupo Celi, o empresário Luciano Barreto afirmou, na última quarta-feira, dia 11, durante uma reunião na Comissão Externa de Obras Inacabadas no País da Câmara dos Deputados, em Brasília, que as pequenas e médias empresas que atuam no ramo da construção civil no Nordeste, sobretudo em Sergipe, estão destruídas. Segundo ele,  hoje, no Brasil, principalmente no Nordeste, não há capacidade técnica e financeira de 95% de empresas para executar uma obra no valor de R$ 10 milhões. “Na nossa associação, começamos com 50 associados. Hoje, temos em torno de 12 e alguns deles sequer podem pagar uma mensalidade de R$ 150. Ao lado disso, destruiu-se a engenharia”, lamentou Luciano.

“É necessário, neste momento, que os órgãos de engenharia se unam na salvação de uma atividade que já foi a mais importante, que fez as grandes obras desta nação, e que mais gerou empregos a custo baixo e com mais rapidez. A minha esperança, e da maioria dos meus colegas, é que essa comissão seja o passo inicial de uma grande luta para salvação da engenharia. Eu concordo com toda da pauta que já foi discutida, mas trago dois elementos novos. Em primeiro lugar, estabeleceu-se uma política suicida no Brasil que só interessa o preço. Não há nenhuma preocupação com qualidade e prazo”, disse o empresário sergipano.

Luciano destacou que o maior objetivo é que a obra fique pronta, mas não é esse o objetivo do Brasil de hoje. “Por que na incorporação não se fala de projetos? Porque o mais importante é a qualidade do projeto, mas no setor público o mais importante é preço. Quem quer preço não quer qualidade. Eu nunca vi uma pessoa comprar um fusca e receber uma Mercedes. Os engenheiros, hoje, pegam uma planilha, elaborada a partir de projetos, colocam preços todo tabelado, sem nenhuma possibilidade de variação e o resultado é a obra parada. Temos que entender que empresa nenhuma sobrevive sem lucro – e o lucro no Brasil hoje é proibido na atividade de construção civil. Eu conheço essa realidade. Vivo dentro dela”, disse, apelando para que os órgãos de controle se somem e busquem uma maneira de atuar com regras idênticas, para que possam dar conforto ao gestor. “Quem atua lá na ponta sente a realidade.”

Ainda durante sua fala, Luciano salientou que um problema muito mais sério é que um engenheiro formado há quatro anos, se receber em mãos a planta de uma casa, não sabe orçar. “Isso porque tudo é tabelado. Hoje, os preços são coletados nas capitais – como se fazer uma obra em Canindé fosse igual a fazer uma obra em Aracaju. Não existe nenhuma liberdade para adaptar o preço. Quando chega nos custos indiretos do BDI tudo é de acordo com os acórdãos do TCU. Acórdãos de 2011. E chega ao absurdo de separar o material do resto da construção e coloca ISS. Eu não conheço nenhuma prefeitura do Brasil que abra mão do ISS”, disse.

Segundo Luciano, o Tribunal de Contas da União (TCU) coloca nos acórdãos o lucro pequeno, médio e alto. “Não tem um gestor, pelo menos dos que eu conheço, que tenha coragem de usar o médio. Todo mundo pega pelo mínimo. No mínimo o lucro é só sobre o custo direto. Com todo respeito à advocacia, o mínimo de uma sucumbência e 10%, e está certo. Tem que valorizar a profissão. Nós engenheiros é que estamos desvalorizados”, lamentou.

O presidente da Aseopp ainda deixou claro que concorda plenamente que os órgãos combatam a corrupção, mas, salientou que, se for analisar, esses casos de corrupção não aconteceram em pequenas e medias empresas. “É importante que a gente tenha a segurança. No TCU tem uma regra com relação a aditivo contratual. É uma regra diferente da lei que diz que o aditivo contratual é de 25% no valor inicial no contrato. O TCU manda que faça as adições e as supressões. Vou dar o exemplo de uma adutora importantíssima de Sergipe, que quando chegou em determinado momento precisou de um aditivo. Pela lei do TCU não podia. O gestor mandou parar e está parada há um ano. Se iria gastar R$ 3 milhões, vai gastar R$ 7 milhões. Que economia é essa?”, indagou.

De acordo com Luciano, se somente se atua com o foco voltado para corrupção, como se justifica que 95% das pequenas e médias empresas estejam quebradas? “Houve muita corrupção, tem que ser punido mesmo. Acho o papel dos órgãos de controle do TCU importantíssimo, mas é preciso encontrar um modelo. Infelizmente, estenderam para todas as empresas de construção do Brasil os desmandos que aconteceram na série A”.

Por fim, o engenheiro observou que a segunda reflexão é que, na década de 90, as obras eram mais baratas, mas bem feitas e tinha prazo para concluir. “Eu preparei uma pasta com vários elementos e sugestões para contribuir. Eu tenho 79 anos, estou há 54 anos na engenharia, não estou entre os quebrados, estou muito bem, e tenho uma bandeira porque sei da importância para o meu estado e para a região Nordeste, como também para as pequenas e médias empresas”, disse.

 

 

Modificado em 12/09/2019 21:13

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