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Laércio Oliveira: “Não importa quem errou. Vamos caminhar na esperança de um país melhor”

Deputado também explica porque foi injustiçado por conta do Projeto de Lei que regulamentaria centros de convivência nas empresas

Laércio: aposta na palavra esperança

Por Joedson Telles

O deputado federal Laércio Oliveira (SD) comenta nesta entrevista a aprovação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) e fala da sua expectativa frente ao governo interino de Michel Temer (PMDB). Usando como base a palavra “esperança”, ele acredita em dias melhores e entende que os parlamentares votaram em sintonia com o brasileiro que não aceitava mais o governo petista. “Sinceramente, se eu tivesse num governo onde mais de 80% da população não aceitasse o meu modelo de gestão eu pediria para sair, porque quando se alcança um grau desse não há como reverter”, diz Laércio Oliveira. “O meu voto foi o melhor que eu tive para oferecer ao meu país. Eu senti isso nas ruas, as pessoas se sentindo representadas com aquele voto. É muito gratificante.” Sentindo-se injustiçado, o deputado explica também o Projeto de Lei que regulamentaria os centros de convivência nas empresas brasileiras, preservando os chamados espaços de conforto para os trabalhadores em horas de folga, mas que acabou sendo retirado de pauta. “Foi uma injustiça muito grande. Eu acho que foi por causa do voto que eu dei (pelo impeachment). Nesse sistema de redes sociais, existe uma espécie de uma esquadra figurando que ataca todos os smartphones, através do whatsapp para transmitir ofensas ou maldades com referência às pessoas. Eu acho que uma das formas que encontraram de me agredir foi buscando um projeto meu, desvirtuando o propósito e provocando uma tristeza muito grande no meu coração. Um mal estar muito grande na minha família, porque a questão era exatamente o inverso. O projeto simplesmente preservava a continuidade dos centros de convivência”, lamenta. A entrevista:

O senhor disse, há alguns meses, que a crise era Dilma, e que com ela no poder não acabaria, pois os investidores perderam a confiança. Agora com Temer, a esperança são os investidores voltarem a acreditar no Brasil?

Eu li no Valor Econômico uma matéria interessante que me deixou muito feliz. A palavra que eu tenho mais usado desde o dia da votação do dia do impeachment na Câmara é esperança. Eu li uma matéria cujo título era que os investidores acreditam que o novo governo vai permitir a volta dos investimentos ao Brasil. Algo parecido com isso. No jornal inteiro foi a única notícia boa que eu li, durante o voo. Por isso que eu me ative a ela e fiquei feliz. Tudo está voltando a partir da mudança do governo. Quando a incerteza vai embora, certamente, temos um ambiente novo para viver, mas é preciso que todo mundo dê sua parcela de contribuição para que a gente possa passar por isso. Aquilo que foi dito, lá atrás, na entrevista anterior, renova-se nesses sinais que a gente já começa a enxergar. Desde o dia 12, o Brasil é outro país com a participação de todos na reconstrução.

Como o senhor avalia a posição de petistas que tentam jogar para a sociedade que houve um “golpe”?

Nos dias que antecediam a votação do impeachment na Câmara, eu chamava a atenção de todo mundo dizendo que a gente precisava pensar que o nosso partido é o Brasil. Vamos deixar as questões partidárias de lado e pensar como vamos resgatar o país nesse momento. Não importa quem errou. Todos os desmandos que foram feitos. Sem essa ideologia que não constrói nada, vamos todo mundo caminhar na esperança de um país melhor, porque ele está acima de todos nós. Mas não enxerguei isso muito na atual situação que passou a ser oposição. Eu vi que se instalou uma agressão verbal de todas as formas e se instalou o discurso que não condiz com a verdade dos fatos. Uma reação totalmente contrária ao curso natural do processo, que por mais que o PT e os partidos que fizeram a base do governo Dilma não quiseram enxergar, é que os fatos técnicos são muito robustos, mas não é só isso. A gente tem uma questão maior que precisa ser enfrentada, que é a realidade que a gente vive. Temos um país envolvido em uma corrupção num grau altíssimo. Estamos num país no qual aonde foi possível uma ocupação com objetivo de estabelecer a corrupção foi feito. Nas companhias brasileiras, nos fundos de pensão, em tudo que é canto. Isso não basta para que haja uma consciência de que realmente o que está demonstrado através das investigações do Ministério Público é a certeza que está tudo errado. Parece que isso não acontece com o Brasil. Que eles são alheios a isso. As denúncias que envolvem nomes importantes do governo parecem uma coisa normal, natural. Tanta gente citada com provas claras, tanto que o STF, a través do relator, está com dezenas de pedidos para que pessoas da República sejam investigadas suspeitas de participação em esquemas de corrupção, e parece que nada é com eles. Dezenas de pessoas presas, pessoas muito próximas. Pessoas que faziam o marketing do governo estão presas, o tesoureiro, o líder do governo, gente dizendo a forma como se estabeleceu essa situação como um todo. É lamentável que não haja acima de tudo aquilo que eu defendia e defendo até hoje: pensar no Brasil. Até hoje, até o final desse processo de impeachment as pessoas estão achando que foram injustiçadas porque não era para fazer isso, que o Brasil não merecia isso. Felizmente, temos esse instrumento dentro da nossa Constituição. Se não tivéssemos, aonde iríamos parar?

Mas, se há críticas aos parlamentares que votaram sim, há, por outro lado, mais pessoas que respaldaram este sim. Isso mostra que o senhor e os demais ecoaram a maioria dos brasileiros, não?

Um exemplo que enriquece muito bem esse comentário é como a população enxerga o governo. Sinceramente, se eu tivesse num governo onde mais de 80% da população não aceitasse o meu modelo de gestão eu pediria para sair, porque quando se alcança um grau desse não há como reverter. 80% da população não queria mais aquele governo porque se sentiu enganada. Um governo desmoronando com seus indicativos de inflação, desemprego e todas essas coisas. A contemplação do povo sobre a votação de cada um dos deputados na Câmara – e agora no Senado – é a esperança que as pessoas têm de mudança. Praticamente ficou muito pouco para tentar se restaurar alguma coisa e com um indicativo de 80% não tinha mesmo como reverter isso. Para mim foi o dia mais emocionante da minha carreira política. Eu nunca pensei em participar de um processo de impeachment. Claro que como brasileiro, e o Brasil acima de qualquer coisa, eu jamais queria ter vivido um momento deste. Mas como vivi, tenho convicção plena de que fiz o melhor pelo meu país. O meu voto foi o melhor que eu tive para oferecer ao meu país. Eu senti isso nas ruas, as pessoas se sentindo representadas com aquele voto. É muito gratificante.

Como ficou a Casa depois da cusparada?

Ali têm dois personagens: um é de extrema direita e outro de extrema esquerda. Aquela atitude a Casa não comenta. Os dois erraram. Você não pode exaltar um assassino, mas também não é permitido que se agrida um colega cuspindo.  Eu fico fazendo uma reflexão sobre o que motiva uma pessoa a cuspir no rosto de outra… Será que não teve um fato motivador antes? Eu estava bem distante daquele momento. Só soube alguns dias depois pela imprensa. A Câmara foi criticada em vários momentos pela forma com que os deputados apresentaram os seus votos. Acho que é a maneira que cada um tem de expressar. Todos estavam extremamente emocionados, nervosos porque o Brasil todo parou para assistir aquele momento. É preciso que os críticos, a população entenda que essa é a importância do voto do cidadão. A população brasileira se sentiu representada por aqueles 513 deputados que ali estavam. Essa é a democracia. Eu acho que quando um colega oferecia um voto em homenagem a seus eleitores, sua cidade, seus filhos, sua família… Eu acho que ele estava querendo dizer que ali ele estava representando o eleitor dele. O que acreditou nele, que proporcionou aquele momento. Eu preferi falar pelo Brasil, pelo meu estado e pela minha cidade, usando a palavra que eu tenho carregado todos os dias, que é esperança. A verdade é que isso tudo serve para mostrar que a crítica precisa ser mais dosada para que a gente não provoque uma reação contrária a necessidade que o país tem hoje que é a unidade de todos.

Recentemente, o senhor foi alvo de críticas nas redes sociais por conta de um Projeto de Lei, mesmo explicando que estava havendo um mal entendido. A poeira já baixou?

Foi uma injustiça muito grande. Eu acho que foi por causa do voto que eu dei (pelo impeachment). Nesse sistema de redes sociais, existe uma espécie de uma esquadra figurando que ataca todos os smartphones, através do whatsapp para transmitir ofensas ou maldades com referência às pessoas. Eu acho que uma das formas que encontraram de me agredir foi buscando um projeto meu, desvirtuando o propósito e provocando uma tristeza muito grande no meu coração. Um mal estar muito grande na minha família, porque a questão era exatamente o inverso. O projeto simplesmente preservava a continuidade dos centros de convivência, às vezes conhecido em alguns lugares como espaço de conforto. O mundo moderno do trabalho estabeleceu que sua empresa não é apenas o local onde você vai trabalhar. Como você convive muito mais na empresa do que na sua casa, o mundo moderno do trabalho entende que seu lugar de trabalho tem que ser um ambiente que promova conforto, bem estar, tranquilidade, e isso se estabeleceu e se firmou no mundo inteiro através desses centros de convivência, que nada mais é do que vestiários largos, com televisão, muitos deles climatizados, internet livre, atividades esportivas, onde tem uma ilha que tem um cafezinho, espreguiçadeira. Todos esses detalhes para fazer com que o trabalhador se sinta bem na empresa. Muitas têm até academia. O que acontece no país é que muitas pessoas quando vão à Justiça do Trabalho fazer uma reclamação diz que entrou na empresa às 7h da manhã e só saiu às 7h da noite, mas que o seu horário de trabalho é só das 08hs às 18hs.  A Justiça do Trabalho pergunta se ele entrou sete e se estava trabalhado, ele diz que sim, mas, na verdade, estava usufruindo desse ambiente. Isso tem trazido prejuízos enormes para as empresas, ao ponto delas se sentirem motivadas para acabar com essas áreas de convivência. Aí que entro na história e digo para não acabar. Não é muito melhor regulamentar? Será possível que a gente tenha que retroceder 10 anos na relação de trabalho? Trabalhadores da construção civil, por exemplo, recebendo uma quentinha e indo procurar uma sombra para fazer sua refeição? O trabalhador do comércio procurando seu papelão para colocar debaixo de um vento fresco para poder se deitar? Não é muito melhor ele estar em um ambiente de conforto, fazendo dali uma continuidade da casa dele? Se a gente regulamentar a gente resolve isso. Eu recebi uma sugestão da Associação Brasileira de Recursos Humanos. Uma associação respeitada no país inteiro que trabalha junto às empresas para promover a valorização dos recursos humanos, ou seja, das pessoas. Se seu horário de trabalho começa às 8h e encerra-se às 18h, se você chega às 6h na empresa, das 6h às 8h não é considerado horário de trabalho, e se fica na empresa até as 19h, das 18h às 19h não é considerado horário de trabalho. O horário de trabalho é das 8h às 18h. Esse tempo das 6h às 8h e das 18h às 19h, se você ficar lá, não vai ser considerado. Pode reclamar na Justiça do Trabalho se quiser, mentindo, mas como está regulamentado num Projeto de Lei, isso não pode reclamar mais. Mas desvirtuaram isso tudo e fizeram o que fizeram comigo. A proposta do projeto era tão somente isso. A minha tristeza anterior eu já vivi porque não trabalharei jamais enquanto exercer mandato político para prejudicar trabalhador nenhum. A minha luta é pelo equilíbrio de forças de uma relação saudável entre empregador e trabalhador. Isso é a minha regra. A minha luta todos os dias é para promover a geração de emprego, valorizar a produtividade, as pessoas acima de tudo. A minha tristeza é não saber o que vai acontecer com os centros de convivência. A minha impressão é que vão acabar todos. Onde tiver um centro de convivência o empresário vai mandar fechar porque além dele ter feito um investimento para construir ele está pagando para quem fica lá usufruindo, porque quando a pessoa vai à Justiça do Trabalho diz que estava trabalhando, mas não estava.

Ou seja, por conta de pessoas de má fé, os trabalhadores honestos perderam o beneficio…

A grande maioria por sinal. Pessoas corretas, decentes leais, honestas vão pagar por essas pessoas maldosas que desvirtuam as coisas. Eu só entrei nesse negócio porque eu enxerguei uma possibilidade de regulamentar, mas em função de tudo isso eu apresentei à Mesa Diretora da Câmara Federal um requerimento para retirar o Projeto de Lei, que hoje não existe mais. O cafezinho (tão polemizado nas redes) que eu falava era dentro desses centros de convivência, não é que se quisesse tomar um cafezinho colocava sua digital, depois voltava e colocava de novo. Isso nem pode fazer porque existem acordos coletivos em todas as categorias do Brasil. A CLT não permite fazer isso. Só permite o controle de ponto de acordo com a jornada de trabalho. Você entra às 8h, coloca sua digital comprovando que chegou ao trabalho. Saiu às 12h, registrou, voltou às 14h, registrou e sai às 18h e registrou que saiu da empresa. A única exceção que a CLT permite é a hora extra até no máximo duas horas por dia. Em nenhuma empresa do país não pode entrar 8h e 9h sair porque a jornada de trabalho já está definida em acordo coletivo e isso não se altera. Além de tudo, não foi inteligente a forma que quiseram vincular que o projeto não permitia que o trabalhador tomasse seu cafezinho, que fosse ao banheiro. Isso é uma coisa que foi plantada por aí e que, infelizmente, pessoas entenderam que eu estava prejudicando os trabalhadores. O meu conforto é que quem me conhece e sabe da minha relação com as pessoas que trabalham comigo, quando soube dessa notícia notou que tinha alguma coisa mal explicada.

Muitas pessoas que trabalham com o senhor são também eleitores seus?

A maioria deles. Quase todos. Eu me elegi em 2010 e em 2014 e grande parte da minha vitória é creditada aos meus colegas de trabalho, que não só votaram em Laércio Oliveira, mas também pegavam o santinho e pediam voto aos seus familiares, amigos, nos pontos de ônibus, nas caminhadas, carreatas. As caminhadas que eu faço no estado todo para a campanha, a grande maioria delas é dos meus funcionários que vão com seus carros por contra própria, que fazem daquilo uma festa. Carregam bandeiras, fazem uniformes da empresa para mostrar uma participação organizada. Isso me deixa muito feliz. É uma segunda família que eu tenho. Eu olho para aquelas pessoas e penso que jamais vou fazer alguma coisa que as decepcione. As pessoas abrem mão da convivência com sua família para tentar me ajudar voluntariamente. Todas as eleições foram assim e tenho certeza que todas as eleições serão assim porque meu foco é honrar as pessoas que acreditam em mim quando me deram seu voto.

Os empresários quando entram na política são vítimas de preconceito por parte de setores da sociedade?  

Muito. O meu discurso pelo Brasil a forma é que os empresários precisam participar das decisões políticas, estarem presentes defendendo seus interesses na Câmara ou no Senado, como os trabalhadores fazem. Quando eles têm seus projetos que são positivos eles ocupam as galerias, falam com deputados, vão de gabinete em gabinete. Esse debate é legítimo. Os empresários não fazem. Em função de tudo isso, os políticos não enxergam muito positivo o discurso da pessoa que defende os empresários exatamente em função desse vazio que o empresário deixa de não ir lá para defender, lutar em função da redução da carga tributária, por exemplo. Isso é uma cultura que se instalou, mas que meu discurso é por essa mudança. Quando o empresário começar a enxergar isso, vamos ter uma condição melhor de trabalhar essas reformas tão importantes que o Brasil precisa tanto.

O partido que o senhor preside em Sergipe, o Solidariedade, está firma para as eleições de Aracaju?

Está sim. Está tudo pronto. Trabalhamos o estado inteiro. Aracaju a gente tem um bom número de pré-candidatos inscritos, um time de qualidade, pessoas comprometidas com a boa política. Eu tenho certeza que o partido se sairá muito bem, não só pelas vagas nas câmaras municipais, mas também nas prefeituras. É mais de uma dezena de prefeituras que a gente construiu até aqui um cenário que é muito favorável para o processo que irá em breve. O Solidariedade não está presente em todos os municípios do estado. Não é essa a intenção. O partido quer crescer com segurança e qualidade. Não existe a possibilidade de a pessoa representar o Solidariedade em qualquer lugar do estado e ser um instrumento de troca. Isso não acontece sob hipótese nenhuma. Eu destituo o diretório na primeira informação que eu receber. Eu desejo um partido atuante que tenha filiados, que construa caminhos de vitória nas ruas dentro dos seus quadros, que faça aliança saudáveis, coligação que pense o município nesse momento atual, cujo interesse maior é apenas que o compromisso seja com a população. Não sou favorável a governo de coalisão porque é um perigo muito grande. Você tem que fatiar o bolo com muita gente e as vezes fatia com quem você nem conhece. Essa prática no mundo político eu não concordo. Quero participar apenas por acreditar que aquele prefeito que será eleito ou aquele vereador vai fazer o melhor por aquele município, mas sem nenhum interesse de participar de gestão de nada. Essa é uma política vencida. A gente precisa pensar numa política muito melhor porque a política em si já é uma ciência muito melhor do que estes costumes que se instalaram no processo político no decorrer dos anos. A minha esperança é que isso vai mudar um dia.

Modificado em 14/05/2016 09:43

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