body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

Fatalidade ou crime? O que explica tantas tragédias envolvendo autoridades brasileiras?

Por Paulo Márcio

Certos acontecimentos são tão improváveis que, mesmo passíveis de uma explicação racional e sustentada em fortes evidências, são simplesmente transformados pelo imaginário popular em confabulações infernais e tramas hollywoodianas. A morte trágica do ministro Teori Zavascki vem somar-se a episódios nebulosos da nossa história como o acidente que vitimou o ex-presidente Juscelino Kubitschek em pleno período militar, a misteriosa doença que matou Tancredo Neves às vésperas de assumir a presidência da República, a queda do helicóptero que transportava Ulysses Guimarães após o impeachment de Fernando Collor de Mello e, claro, o surreal desastre que ceifou a vida do presidenciável Eduardo Campos em 2014.

Evidente que teorias da conspiração também inundam a história política de outros países. Ora a CIA, ora a União Soviética são acusadas de arquitetar a morte do presidente John Fitzgerald Kennedy, no auge da Guerra Fria. Também não é segredo para ninguém que Stálin ordenou o assassinato de Trotski quando este se encontrava no México, encantado com as cores de Frida Kahlo. Querem saber se Hugo Chávez foi envenenado pela CIA? É Só perguntar para Maduro, que foi visitado pelo ex-comandante em forma de passarinho.

O mesmo Hugo Chávez que acusara o Pentágono de causar o terremoto que matou mais de 100 mil pessoas no Haiti, em 2010 (entre elas a brasileira Zilda Arns).

É difícil encontrar alguém que acredite ter Getúlio Vargas de fato se suicidado, apesar da carta em que dizia estar saindo da vida para entrar na história. A versão de um complô para assassinar o mais popular dos presidentes brasileiros (antes de Lula, é claro) continua sendo muito mais atrativa.

Teori Zavaski morre em circunstâncias suspeitas, mas a hipótese de crime com viés político é remota, sobretudo ante a obviedade de tal ilação. As investigações certamente dirão que houve falha técnica ou humana, não se descartando a influência do mau tempo, sabido que chovia bastante na hora do desastre.

Todavia, as versões espocam nas redes sociais, cada uma mais estúpida que a outra. Incriminar o outro lado, sem nenhuma prova ou indício, é a atividade mais comum e patética dos contendores na atualidade.

O mais absurdo, no entanto, é ver algumas autoridades e ex-autoridades da República dando declarações açodadas ou fazendo insinuações maldosas, com interesses claramente políticos. Assim, não importa quão infundada ou descabida seja a versão, contanto que ela seja mais interessante que o fato e atenda aos meus interesses mais rasteiros.

No caso presente, somente a distribuição do processo da Lava-Jato para um ministro verdadeiramente imparcial (Celso de Mello é o nome mais indicado) ou a nomeação de um novo ministro igualmente isento restaurará a normalidade na Corte e a confiança nas instituições. Já a sanidade da turba, essa é insuscetível de restauração.

*Paulo Márcio Ramos Cruz é presidente da Associação dos Delegados de Polícia Civil de Sergipe (ADEPOL)

Modificado em 19/01/2017 21:40

Universo Político: