“Há muito tempo, Edvaldo deixou de ser de esquerda”, garante professor Dudu
Por Joedson Telles
Como o senhor avalia os primeiros dias, as primeiras ações do governo Jair Bolsonaro?
Os primeiros dias do governo Bolsonaro tem sido um festival de trapalhadas: todo mundo fala e manda, menos o presidente. Todos os acenos, até aqui, têm sido para a classe dominante, enquanto vira as costas para as camadas vulneráveis do povo. Acho que o presidente terá dificuldades em manter o apoio da maioria daqueles que o elegeram, uma vez que, muitas das bandeiras de campanha, a exemplo do combate à corrupção, perderam credibilidade por conta do caso Queiroz, que envolve um filho do Mito e a primeira dama, como também o nepotismo, que prometeu combater, mas está em alta no governo, uma vez que o vice-presidente promoveu o próprio filho na estrutura do Banco do Brasil, e o presidente promoveu o amigo para um cargo importante na Petrobras. Vejo com preocupação o governo oferecer o Brasil na bandeja para os Estado Unidos. Até aqui, tenho visto muitas bravatas e contradições.
Na sua ótica, o presidente já desceu do palanque ou este discurso de ‘despetização’, por exemplo, é um dos pontos que mostram que não?
O governo Bolsonaro ainda não desceu do palanque, e vai continuar enquanto o povo não perder a paciência. Como ele é um deserto de ideias, e não opina sobre a maioria dos assuntos sérios do governo, a exemplo da economia, só lhe resta dar entrevistas e vomitar bravatas. Falar mal do PT tem dado audiência entre os seus apoiadores, a questão é saber até quando.
O presidente fala uma coisa e depois surge um ministro e fala outra. Estão batendo cabeça?
É trágico perceber que o presidente não sabe o que fala, ao ponto de ser desmentido por ministros e assessores, como aconteceu no caso do anúncio do aumento na taxa do IOF, mas não só.
Inexperiência ou despreparo?
Não há dúvidas de que o presidente é despreparado. Ele mesmo assumiu de público que não entende de economia. Como não entende também de educação, cultura, meio ambiente etc. Limita-se a incitar o ódio contra o PT e a esquerda.
As urnas colocaram o PT na oposição. Como deve ser este enfrentamento?
O PT, naturalmente, fará oposição ao governo até o fim do mandato (se o Mito não cair até lá), e não pode ser uma oposição vacilante: é preciso fazer oposição dura e forte como merece um governo de direita com algumas características do fascismo. O PT deve fazer sistematicamente comparações entre os governos petistas e os governo do golpista Michel Temer e o do Mito, e mostrar ao povo que são governos distintos: o PT marcado pela inclusão dos mais pobres, pela soberania nacional, pela ampliação da democracia, pela geração de empregos e melhoria da economia, mas não só, e os governos pós-PT. Não tenho dúvidas que ganharemos o povo para o nosso lado.
Aqui em Sergipe, como a oposição atuará?
Os parlamentares eleitos pelo PT deverão fazer parte da bancado de oposição a Bolsonaro. João Daniel, em segundo mandato, manterá a toada, uma vez que teve papel destacado na luta contra o golpe, no parlamento e também nas ruas. Quanto a Rogério Carvalho, que tem um perfil mais de diálogo, espero que encarne a conjuntura de guerra e aja como um soldado do PT.
Qual o papel da CUT neste contexto?
A CUT continuará cumprindo o seu papel histórico de defender a classe trabalhadora sem fazer concessões. A palavra de ordem é “nenhum direito a menos.” Além dos direitos trabalhistas, a CUT continuará defendendo a democracia. O governo já elegeu os movimentos sindical e social como inimigos e vai tentar desmantelá-los, porque sabe que para cumprir o que prometeu, primeiro precisará remover as barreiras. Collor tentou fazer o mesmo para implantar a política neoliberal que incluía privatizar e desregulamentar a legislação trabalhista, mas não conseguiu porque houve muita resistência, agora deverá acontecer o mesmo.
O que espera do governo Belivaldo Chagas?
O governo Belivaldo deverá buscar o alinhamento com o Governo Federal. Não o vejo com disposição nem perfil para enfrentar o enquadramento via determinações do Mito e seus ministros. Isso significa que o compromisso de não privatizar a Deso e o Banese pode ser revisto por ele – e esse deverá ser o primeiro embate com o movimento sindical. Não é novidade que o Governo de Sergipe está estudando a possibilidade de vender ações da Deso, e isso é uma forma de fazer uma privatização de forma sorrateira. Outro ponto de alinhamento será a Reforma da Previdência, outro ponto nervoso que gerará conflitos. Não podemos perder de vista que Belivaldo é um conservador e por isso a sua política não deve ser progressista, ele é parte da velha política.
Como avalia a polêmica questão da Saúde de Aracaju?
Há muito tempo, Edvaldo Nogueira deixou de ser um quadro de esquerda. Hoje, ele se esforça para ser um bom gerente que se resume a cuidar da cidade, especialmente onde mora a burguesia. Em contrapartida, decepciona nas políticas públicas e na relação com os servidores. Ele já cortou salário dos enfermeiros em greve, não dialoga com o movimento social, a exemplo do aumento da tarifa de ônibus, e, por último, entregou o hospital municipal Nestor Piva à iniciativa privada, para tentar enfraquecer a luta dos trabalhadores da saúde em greve. Ou seja: ele usa os mesmos métodos da direita reacionária. Hoje, Edvaldo se sente mais à vontade com André Moura e com os empresários do que com a esquerda.
Ainda assim, o PT estará com Edvaldo no projeto de reeleição ou apresentará candidato próprio?
O PT em Sergipe é composto por várias forças. Então, não posso falar pelo partido. Mas posso externar a posição da Tendência Articulação de Esquerda, que defende candidatura própria. Não há consenso, por exemplo, se agora em 2019, o PT deixará os cargos na Prefeitura de Aracaju. O assunto está na ordem do dia do PT. Eu, particularmente, acho que já deveria ter feito isso há muito tempo. Alguém viu efetivamente Edvaldo na campanha Haddad e Manuela? Tacitamente, ele se empenhou para ajudar a campanha de André Moura.
A Articulação já tem um nome para 2020?
O PT em Sergipe é extremamente pragmático. Por isso, não arrisco dizer que terá candidatura própria em 2020. Isso vai depender dos interesses das lideranças que definem a política do partido. Na maioria das vezes, eles olham o que é melhor para eles e não para o partido. O partido, que deveria ser a vanguarda, termina servindo aos interesses pessoais dos seus quadros. Se depender de mim, desde já o PT anuncia que terá nome para disputar a Prefeitura de Aracaju, em 2020. É sintomático que os quadros do PT prefiram uma aliança complicada, a colocar o nome à disposição do partido para fortalecê-lo, independentemente do resultado. Às vezes, certas “vitórias” passam a ilusão de crescimento, quando, na verdade, o partido fica menor. Belivaldo é governador, hoje, porque o PT abdicou da disputa, e eu não tenho dúvidas: Eliane foi decisiva para a virada do jogo.
E 2022? É obrigação do PT ter candidato a governador?
Se o PT não tiver candidatura própria ao governo, em 2022, se tornará um partido coadjuvante, abrindo mão de ser protagonista. Sinto que o PT, em Sergipe, caminha para perder referência nas massas, caso se omita das grandes disputas. Mas o meu palpite é que o PT terá candidatura própria, e nos bastidores já se fala em dois nomes: Eliane e Rogério. E espero que a Articulação de Esquerda também apresente um nome. Pra mim, o nome do PT para disputar o governo, em 2020, deverá ser resultado de um plebiscito transparente entre todos os filiados, e não só com os delegados. Mas antes do plebiscito os pleiteantes deverão apresentar uma síntese da suas plataformas, bem como a realização de debates regionais.