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Urnas não revogam biografias: uma crônica da presente eleição

Por Paulo Márcio

O eleitorado sergipano decidiu não renovar o mandato do senador Valadares. Da mesma forma, houve por bem não outorgar ao ex-governador Jackson Barreto o tão sonhado mandato de senador, único faltante em sua rica biografia. Surpreendentemente, enviou para a Câmara Alta um delegado debutante e um líder partidário que apresentava viés de baixa, mais uma vez desmoralizando os institutos de pesquisa.

É bem provável que, em razão da idade e suas naturais limitações, Valadares e Jackson não venham a disputar outros mandatos, doravante compondo, ao lado de João Alves Filho e Albano Franco, um seleto grupo de ex-governadores que, entre erros e acertos, ajudaram a escrever a história de Sergipe nas últimas quatro décadas.

Não é aceitável, portanto, que Jackson e Valadares, não obstante as simpatias e antipatias angariadas em mais de quarenta anos de vida pública, deixem a cena política sob apupos e comentários os mais desairosos e injustos. Ao contrário, ambos são merecedores do respeito e da gratidão por tudo que fizeram de bom e útil por toda a coletividade, a despeito das ressalvas que podem ser expressadas a qualquer tempo de uma maneira menos agressiva.

Não julgo correto taxar pessoas venerandas e experientes de ultrapassadas, dinossauros, como se fossem carcaças a serem removidas da estrada sobre a qual marcharão os novos heróis ungidos pelo povo. Certa feita, o arrogante Fernando Collor chamou Ulysses Guimarães de senil e desequilibrado. Sem titubear, o Senhor Diretas redarguiu: “sou velho mas não sou velhaco. Os remédios que tomo não me criam problemas com a polícia, pois são comprados em farmácia.”

Felizmente, assim como no caso Collor versus Ulysses, os arroubos e indelicadezas próprios da juventude são contidos ou corrigidos pelo equilíbrio fruto da experiência de quem já é entrado em anos. Não por acaso, os anciãos são tão valorizados nas culturas tribais e ágrafas, nas quais funcionam como esteio e constituem inesgotável fonte de sabedoria para toda a comunidade, sobretudo os mais jovens.

O fim de uma carreira política pode ser antecipado por uma decisão soberana e democrática do eleitor, como no presente caso, mas esse fato não tem o condão de revogar a biografia dos derrotados nem dá aos vencedores o direito de tripudiar sobre quem não foi sufragado e, dadas as circunstâncias, já não dispõe do vigor e do tempo necessários para recomeçar.

A democracia é realmente o melhor regime jamais concebido em todos os tempos. Mas um dos seus efeitos mais deletérios é o ostracismo a que são submetidos homens e mulheres que dedicaram seus melhores anos à democracia e um dia são compulsoriamente substituídos. Talvez fosse o caso do nosso quarteto de ex-governadores aparar as arestas e cantar em uníssono para os noviços da política aqueles versos de Lupicínio Rodrigues: “Esses moços, pobres moços. Ah! se soubessem o que eu sei. Não amavam, não passavam aquilo que já passei.”

 

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