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Sobre as eleições na OAB

Por Carlos Cauê

Deixei passar, propositadamente, duas semanas da realização das eleições na OAB para fazer uma avaliação sobre o pleito, ocorrido em 27 de novembro. Como o clima se acirrou, sobretudo na última semana de campanha, pronunciamentos sobre o episódio fatalmente seriam contaminados pelo calor da refrega. Avaliações surgidas nessas horas costumam nascer distorcidas por condições de temperatura inadequadas à racionalidade e ao bom senso.

Foi uma campanha marcante e, provavelmente, indicativa de uma eventual ampliação do escopo de atuação do marketing político. Introduziu de forma inédita as redes sociais como plataforma principal para ação dos candidatos, além, claro, das formas clássicas de campanha que o ordenamento da entidade permite aos seus participantes. Ao final, a disputa movimentou a classe e levou às urnas um total de 4.501 advogados, dos quais 2.021 votaram em Henri Clay, dando-lhe a vitória, 1.916 votaram em Rose Morais e 423 em Emanoel Cacho.

Como qualquer bom observador pode constatar, o resultado eleitoral expresso pelas urnas não autoriza nenhum tipo de fanfarronice, seja ele de caráter político ou de marketing, como querem alguns. Lastimavelmente, algumas avaliações que sucederam o resultado trataram de abandonar a fria análise dos números e mergulharam numa espécie de delírio, tentando enquadrar a realidade na ótica diminuta do seu puro desejo pessoal.

Os três candidatos em disputa cumpriram o roteiro dos projetos que suas candidaturas representavam. A grande novidade, mesmo, foi a participação de Rose Morais no pleito. Uma jovem advogada trabalhista, pouco conhecida do conjunto da classe, e que nunca havia se lançado a uma disputa desse porte.

Ela teve que enfrentar dois candidatos com extrema visibilidade na sociedade e no seio da categoria. De um lado, Emanoel Cacho, que além de já ter sido candidato à Ordem em outras ocasiões, foi até secretário de Estado da Justiça em Sergipe.

De outro lado o favorito da disputa, Henri Clay, que há 18 anos integra o grupo que conduz a entidade, que já foi presidente da entidade por duas vezes, que há seis anos é conselheiro federal da entidade e que na atualidade dirige a Escola Nacional de Advocacia. Além de toda essa visibilidade, a candidatura de Henri Clay ganhou ainda mais musculatura quando ele fez abortar a candidatura de Inácio Krauss, outra jovem liderança que se afigurava promissora entre os advogados, mas que ele conseguiu cooptar para ser seu vice, o que ampliaria mais sua margem de distância em relação aos outros candidatos.

Rose, entretanto, fez uma campanha ética, bonita, divertida, empolgante, que foi pouco a pouco revelando seu ideário de uma Ordem para todos, autônoma, independente e apartidária. Isso foi contagiando novos e antigos advogados, que se juntaram a ela numa que pode ser considerada como a mais bela jornada política dos advogados nos últimos tempos.

O resultado eleitoral mostrou isso. O franco favoritismo de Henri Clay foi pouco a pouco definhando e ele teve que se contentar com uma pálida vitória sobre uma novata por míseros 105 votos.

Algumas análises, infelizmente, parecem desconhecer esses números. Pior ainda, esquecem que, somados os votos de Rose e Emanoel Cacho, os advogados deram um sonoro não ao terceiro mandato de Henri Clay, pois enquanto este amealhou 45% , Rose Morais e Emanoel Cacho juntos conquistaram 55% dos votos, portanto mais da metade dos votos válidos da categoria.

Deixar escapar essas verdades é ferir de morte a possibilidade de uma análise séria, ou no mínimo, confundir avaliações do presente com algum vestígio de recalque por episódios passados. Não pude deixar de ver, mal contendo o riso, que algumas avaliações seguiram o script de um artigo que escrevi logo após as eleições de 2014. Poderiam até soar provocativas, se antes não houvessem assumido um tom apelativo quase infantil, daqueles que crianças costumam fazer quando querem chamar a atenção ou legitimar-se frente aos adultos.

Experiente como é, Henri Clay captou o recado das urnas e foi célere em fazer um chamamento adequado a situação, conclamando aos advogados a deixar rusgas eleitorais de lado e “unir a classe”.

Roseline Morais fez uma campanha limpa e moderna, mas sofreu ataques pouco dignos, a exemplo de um perfil fake, criado nas redes sociais, com o único propósito de denegrir sua imagem e tentar achincalhar sua honra, e que é motivo de processo que corre na Polícia Federal para tentar identificar os criadores dessa “genial” peça de marketing.

A despeito de tudo isso, ela sai da disputa na OAB maior do que entrou. Sorriso franco, honesta em suas posições, em paz consigo mesma e com a legião de advogados que hoje se referenciam na sua liderança, ela construiu, com ética, um caminho para fazer a Ordem cada vez mais de todos os advogados.

Rose, eu vejo flores em você.

Carlos Cauê é publicitário 

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