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Quando o jornalista se torna mais governista que o governo

Por Joedson Telles

No dia 15 de novembro de 2001, lá se vão 12 anos, num dos seus lúcidos artigos publicados no caderno B do então impresso Jornal do Brasil, hoje on-line, o jornalista Eugênio Bucci escreveu sobre uma crise que acreditava rondar o jornalismo brasileiro já naquela época. Com o título, se a memória não me trai, “Jornalismo: essa conta fecha?”, o articulista chamava atenção para o que definiu ali como uma “crise surda” que pairava nas redações dos mais variados veículos de comunicação.

O jornalista apresentava como justificativa uma dívida das empresas de comunicação preocupante. E, pelo quadro, previu que o jornalismo de qualidade estava (está?) em xeque, e o medo do desemprego acossando os jornalistas. Aí sentenciou: “nada pior para o direito à informação e para a cidadania que um jornalista sobressaltado e medroso. Ele se torna mais governista que o governo. Mais patronal que o patrão”, disse.

Gostaria não apenas de sentir o cheiro do papel no velho JB, sem saudosismo, mas por respeito à paixão dos antigos jornalistas, os quais a inteligência manda usar como espelho, mas também que Eugênio, o Bucci, passasse um pente fino na mídia dos papagaios e cajueiros que se propõe a levar informações da nossa política à sociedade. Por certo, escreveria um texto fantástico dentro da sua visão de que há “jornalista mais governista que o governo”. Jornalista que fecham os olhos para os erros do governo, mas tem verdadeiro tesão em desgastar a oposição, mesmo sabendo que é da democracia política todos os governos terem aliados e adversários.

Aliás, o papel da oposição, o exercício permanente e incansável da fiscalização do poder político, deve ser feito com responsabilidade – sob o prisma de se garantir um eficaz amparo aos direitos das chamadas minorias. Até porque, como enfatiza Montesquieu, todo aquele que dispõe de poder tem a tendência natural de abusar deste domínio. E, neste sentido, velemos que o Estado não apenas respeite, mas sobretudo preserve os direitos de qualquer cidadão pagador de impostos.

Lembremos que o bom e necessário jornalismo é, antes de tudo, antes mesmo de ser uma forma de ganhar dinheiro, uma função social. A sociedade precisa ter acesso a informações sérias, imparciais e de qualidade que irão compor o repertório imprescindível para o seu desenvolvimento. Para salientar as críticas oriundas e cogentes à transformação dos  problemas em soluções. E ninguém tem tanta responsabilidade neste processo como o jornalista. À medida que este profissional se omite, e ainda tenta colocar o dedo no suspiro da oposição, a interminável luta de classes, por natureza desigual em favor dos poderosos, tende a ser mais covarde ainda – o que, evidentemente, é nocivo à sociedade. Muito maléfico.