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A prisão de Daniel Lourival Azevedo

Por Joedson Telles

A prisão do cidadão Daniel Lourival Azevedo, nesta terça-feira, dia 6, como parte de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal de combate ao tráfico de drogas, seria apenas mais uma entre tantas efetuadas pela polícia a cada minuto neste Brasil dos justos e dos nem tanto. Aposto uma Heineken canela de pedreiro que sequer seria noticiada pela mídia genuína. Trata-se de um desconhecido, até então, para a maioria dos sergipanos. Ou não? Bola fora.

Todavia, o episódio ganhou notoriedade demasiada por um detalhe: o preso, até então, trabalhava, não comercializando drogas, evidente, no gabinete do deputado federal Valadares Filho. Era motorista. Pronto: foi a senha para, mesmo não tendo nada a ver com as suspeitas policiais, o sensacionalismo de praxe no jornalismo brasileiro permutar o nome Daniel por motorista, assessor ou sei lá o quê de Valadares Filho. Foram as manchetes. Sergipe não inventou a roda, óbvio. Mas precisava mesmo segui-la?

A regra torta: incluiu a figura notória? Beleza. Comunicou. O “manual de redação” obriga: use o nome do conhecido do público no título e comece o texto expondo-o – mesmo ele não tendo absolutamente nenhum envolvimento. No caso em tela, se fulano mergulhou ou não no mundo do crime. A notícia tendo destaque “tudo beleza”.

Rápido, Valadares Filho, tão logo soube da notícia, tratou de emitir uma nota pública comunicando a exoneração do suspeito. O caso está na polícia. Provando-se culpa cadeia. A força da lei. Até as investigações serem concluídas, e a Justiça julgar o caso, esgotando quaisquer ações da defesa e, se for o caso, condenar que pague pelo que fez. Não terá parido Matheus?

O que não deveria ter o aval – quando mais o dedo – de pessoas sérias, éticas, responsáveis é este costume abominável de qualquer fato negativo que paira sobre uma pessoa ligada a um político destacar este político – como se tivesse em mãos provas irrefutáveis do seu envolvimento no suposto crime. Não se acusa, mas se peca pela exposição de um inocente.

Seja um parente, um amigo ou um funcionário de um político não há lei que reze que qualquer crime praticado por um o outro, obrigatoriamente, estará envolvido. Nada a ver. O jornalismo precisa filtrar este tipo de praga. Hoje foi Valadares Filho, ontem foram muitos e, se não houver mudança de mentalidade, amanhã serão novas vítimas.

Bolas! Se a polícia tem algo contra o político o prenda também. O Código Penal existe para ser aplicado. Mas afora isso, respeito.

É preciso entender que o público é heterogêneo. Se por um lado há os que filtram, isentam Valadares Filho de pronto – e até critiquem envolvê-lo de graça -, por outro lado, há quem, ao tomar conhecimento da notícia da forma como foi apresentada, passe a achar que o deputado tem alguma ligação com crime em si. Veja só: o acusado foi preso e pode provar inocência, mas a imagem do político já foi arranhada.

Sem falar que adversários políticos podem muito bem se aproveitar da situação e, mesmo sabendo da inocência do político citado na matéria, fazer um carnaval. Ano eleitoral cuidado redobrado.

Embora já tenha idade suficiente para saber que não podemos duvidar da maldade humana, prefiro acreditar que quem expôs o deputado Valadares Filho desnecessariamente hoje o faz por não refletir sobre esta falha do jornalismo brasileiro.

É quase cultural informar ligações quando há pessoas conhecidas dos envolvidos. Mas nunca é tarde para se abandonar um erro. Basta uma dose de humildade e outra de empatia. Só isso.

P.S. Morder e assoprar nem é falha jornalística. Tem outra definição. 

Modificado em 07/02/2018 05:39

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