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“O assassino precisa ser capturado, torturado, para contar quem foi o mandante, e morto com requinte de crueldade”

Este é o sentimento predominante na classe policial, revela ex-presidente do Sinpol

Antônio Moraes: observações sobre a segurança

Por Joedson Telles 

O policial civil Antônio Moraes, ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Sergipe, revelou em uma rede social o sentimento que predomina na classe dos policiais sergipanos por conta do assassinato do delegado de polícia Ademir Melo, na noite da última segunda-feira 18, no bairro Luzia, em Aracaju. “A morte do delegado Ademir precisa ser vingada. O assassino precisa ser capturado, torturado, para contar quem foi o mandante e morto com requinte de crueldade”, postou Antônio Moraes. “Esse é o forte e compreensível sentimento de revolta dentro de toda a Polícia Civil sergipana”, disse o policial Antônio Moraes ao Universo, ao ser procurado para comentar a postagem que ecoa sentimentos dentro da Polícia Civil.  “Tão chocante quanto foi a morte de nosso colega policial foi esse desabafo de todos seus pares”, diz Moraes.

Segundo Antônio Moraes, não há dúvida de que é urgente a necessidade de se dar uma “pronta resposta” a essa tragédia, sob pena de se desmoralizar ainda mais a já combalida credibilidade da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). “Com toda certeza, será dada resposta a esse triste fato. Acredito que, em pouco tempo, serão presos e/ou mortos todos envolvidos. Não tenho dúvidas de que os assassinos serão capturados e, se revidarem, tombarão”, disse Moraes.

Para Antônio Moraes, cabe a seguinte indagação: o que deu ao assassino a tranquilidade para ficar na via pública esperando por horas o delegado descer de seu prédio para executá-lo? E ele mesmo responde: “a certeza de que não seria, como não foi, abordado por policiais em policiamento ordinário. No quesito repressão, estamos entre as melhores polícias do país. Já no de prevenção, só falatório”.

Cultura de Guerra

O ex-presidente do Sinpol acredita que o delegado Ademir Melo foi mais uma vítima do que define como cultura de guerra. “Cultura de guerra promovida por todos os secretários que passaram pela Secretaria de Segurança Pública de Sergipe. O foco exclusivo na repressão tem criado essa cultura que tem deixado um rastro de sangue de todos os lados. Se ficarmos apenas na ‘pronta resposta’, sem refletir na necessidade de se pôr em prática uma concreta e efetiva política de prevenção, a próxima vítima poderá ser qualquer um de nós”, alerta.

De acordo com Antônio Moraes, tanto a Polícia Civil como a Polícia Militar têm a missão de realizar policiamento ordinário. E ressalta que realizar policiamento ordinário consiste em preservar a ordem pública no cotidiano da população. A manutenção da ordem pública, enfatiza, é função comum a todos os órgãos de Segurança Pública.

“Isso se evidencia com a simples leitura da cabeça (caput) do artigo 144 da Constituição Federal que diz se a segurança pública, (…), é exercida para a preservação da ordem pública (…), através dos seus órgãos. Embora a Polícia Militar seja a polícia da preservação da ordem pública por excelência, a Polícia Civil também tem, em menor grau, essa característica. Ocorre que, em Sergipe se coloca de lado o policiamento ostensivo e se reduz o conceito de ‘preservar a ordem pública’ ao conceito literal de ‘reprimir’”, assegura Moraes.

 

PM falha no policiamento ostensivo 

Na ótica de Antônio Moraes, a Polícia Militar não tem realizado, de modo regular e planejado, o policiamento ostensivo – o policiamento ordinário. O máximo que faz, argumenta o ex-sindicalista, é deixar viaturas paradas com um ou dois policiais em alguns pontos da cidade, fazendo os chamados Pontos Base (PB). “Já houve inclusive matéria jornalística em que se verificou viaturas quebradas e sem poder se deslocar. O foco são as unidades especializadas para única e tão somente trabalharem na repressão (preservação da ordem pública). Recorrentemente, ouve-se notícias das operações de capturas e prisões de meliantes. Siglas como RP e GETAM são frequentemente ouvidas nos programas radiofônicos matinais. Perseguir e prender meliantes que já cometeram crimes é midiático evitar nem tanto”, disse.

Segundo Antônio Moraes, a Polícia Civil também não faz policiamento ordinário, à medida em que foca seu trabalho apenas no exercício da função de polícia judiciária e na repressão – nos mesmos moldes da Polícia Militar. Moraes afirma que, no quesito ‘apuração das infrações penais’, a PC falha por não dá resposta a totalidade de fatos que lhe são narrados e registrados sob a forma de Boletins de Ocorrência, que se avolumam sem a devida e meticulosa análise das informações.

“Não há informação de que cidadãos tenham levado notícia de fatos delituosos à delegacia e, posteriormente, terem sido visitados por equipe de Policiais Civis para realização de levantamentos preliminares. Atualmente, o cidadão comum vai à delegacia apenas para cumprir formalidades. Isso tem gerado o fenômeno da subnotificação, que significa que fatos criminosos têm deixado de ser comunicados oficialmente, inviabilizando possíveis planejamentos de ações policiais. Repete o erro da Polícia Militar em se dedicar à repressão policial, através de suas unidades especializadas. Siglas como COPE, DIPOL, DENARC, DHPP GERB são também frequentemente ouvidas nos programas radiofônicos matinais. Perseguir e prender meliantes que já cometeram crimes é midiático evitar nem tanto”, diz, observando que a Polícia Civil relega suas unidades comuns ao descaso, ao abandono.

 

Fixação por repressão

Antônio Moraes assegura que essa fixação por repressão resulta no acentuado aumento das prisões, bem como na instalação de um clima de guerra que estimula os marginais a reagirem, aumentando significativamente os índices de violência e criminalidade. “Em suma, o foco exclusivo na repressão policial vem se mostrando ser o caminho mais fácil para gestores mais compromissados com apelos midiáticos do que com a eficiente prestação do serviço policial. Não se faz política pública de prevenção em Segurança Pública com o fígado. Sem ações de prevenção, os marginais vão continuar andando livremente sem medo de serem abordados”.

Por fim, Moraes enfatiza não ser possível obter resultados diferentes fazendo as coisas da mesma maneira. “É de suma importância que se inicie um processo de reforma institucional, empodeirando as bases das polícias, estimulando-as a participar do processo de reformulação. O foco precisa ser a aproximação dos organismos policiais do dia a dia da população, conquistando sua confiança e recebendo em troca informações primárias para o estabelecimento de estratégias de controle. O inimigo é o crime e não o criminoso. Tratar Segurança Pública como se fosse uma guerra serve apenas como discurso político populista. Que a morte de nosso colega não seja em vão. Que nos faça refletir”, finalizou.

Modificado em 19/07/2016 22:27

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