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Jornalista se preocupa se Dilma faz sexo. Enquanto isso, o Brasil é assaltado. Foi preciso uma descarga

Por Joedson Telles

Editor de Época, o jornalista João Luiz Vieira, autor do polêmico artigo “Dilma e o sexo”, através do qual colocou, neste final de semana, política e sexo no liquidificador, certamente, não esperava a repercussão negativa que avocou para os seus quase 30 anos de profissão. Jogou os bons princípios do jornalismo na lata do lixo, ao invadir – inclusive no mundo da fantasia – a vida sexual da presidente da República. O vexame foi tamanho que a revista dos Marinhos enfrenta o constrangimento de ter precisado retirar o texto de rede mundial dos computadores. A descarga foi inevitável.

Descarte-se de pronto petistas de plantão (com ou sem CCs) que velam Dilma e seus milhões de erros a qualquer custo. Baba ovo não merece crédito algum para opinar em defesa da companheira. O faz sempre independente da situação. Muitos sobrevivem da caridade de quem não detesta e, quando Dilma e outros aliados deixarem o poder, entraram na lista dos desempregados. Imoralidade mesmo é que muitos já são desempregados, mas recebem o dinheiro suado do contribuinte todos os meses. Mas por justiça é bom registrar: o PT não teve a “inteligência” de inventar o apadrinhamento. O faz, digamos assim, de forma mais escrota, já que chegou ao poder pregando a moralidade e criticando justamente o que mais faz “com erotismo”. Homenageemos, assim, o jornalista João Vieira.

Não gastaria o meu tempo, muito menos o do internauta, repetindo o que o jornalista escreveu sobre Dilma. A vida pessoal – sobretudo quando envolve sexo – de qualquer pessoa diz respeito somente à própria pessoa – quando muito à sua família.  E quando se trata de uma pessoa pública, e neste universo logo da presidente da República, os cuidados devem ser redobrados – sobretudo por jornalistas, profissionais treinados para lidar com a informação sem ferir a honra de ninguém. Se a baixaria já é abominável nas redes sociais, onde qualquer imbecil tem opinião, como cunhou o filósofo e escritor italiano Umberto Eco, imagine no jornalismo. Retirar o texto de circulação não basta. Sobretudo porque a notícia ainda circula. A coisa já fedeu a quilômetros. É preciso que a presidente – inclusive a cidadã – Dilma Rouseff bata à porta que as pessoas de bem batem nestes momentos: a Justiça. Até por medida pedagógica. Se um jornalista não respeita a vida pessoal da presidente da República, a expõe em sua maior intimidade, o que é capaz de fazer com as demais pessoas?

Agora, não podemos deixar de observar que o episódio ilustra bem o momento atual do Brasil. O cenário de anarquia que o próprio governo Dilma Rousseff ajudou a montar, sequenciando o lado ruim do governo Lula, que deveria ter sido extirpado quando a máscara do Zé Dirceu caiu com o mensalão. Dilma e os equívocos do seu governo (desgoverno?) alimentam no brasileiro – e não é preciso muita lucidez para isso – o sentimento que o atual governo terminou assim que começou. Passa a ideia que se zomba das pessoas que não fazem parte da panelinha. Que as medidas são pensadas justamente para massacrar o trabalhador – sobretudo a classe média, que paga a conta não apenas dos ricos, que mamam nos CCs obesos e de outras formas, mas também dos miseráveis, que trocam seus votos na “esmola família”.

Evidente que como já enfatizado, o jornalista está equivocado, ao penetrar onde não foi convidado. Mas uma presidente cujas ações criam problemas e desmoralizam a candidata, que prometeu soluções no programa eleitoral, convida atitudes afins. Note-se que tanto presidente como jornalista convergem num ponto: atestam não estarem muito preocupados com o que dizem. Não medem as consequências. Ou se fazem isso não estão incomodados com os resultados. Descartam a empatia. Ou dão a entender isso. Uma presidente que não tem palavra acaba ficando vulnerável às mais duras e ousadas críticas. E neste exercício peculiar aos jornalistas, às vezes, tem gente que passa dos limites. Nada justifica invadir a vida pessoal, claro. Mas um político que se joga no contraditório motiva reações negativas conta ele mesmo.

O pior de tudo, em se tratando do coletivo, ressalvo que Dilma merece a solidariedade do brasileiro, evidente, é que descobrir quem viu a presidente nua, muito menos se ela faz ou se deixa de fazer sexo, não mudará nada, ao menos no campo social. Moral. Político. Econômico. A crise segue. Estados e municípios enfrentam sérias dificuldades. Sergipe mesmo vive de empréstimos. O Brasil capenga. O incontável dinheiro roubado dos cofres públicos – ou pelo menos a sua maior parte – desde que o PT desembarcou no poder, por exemplo, jamais será restituído. Os ladrões deram um prejuízo tão grande que só mesmo uma mente muito ingênua para imaginar que um orgasmo da presidente tem espaço neste capítulo negativo da história do Brasil.

O problema não é saber se “A”, “B” ou “C” emite sexualidade. Se ficam nus para espectadores ou não. E, muito menos, se têm ou deixam de ter orgasmos. O Brasil precisa é ter mais consciência. Lucidez. Saber avaliar melhor o caráter, a competência e as ações das pessoas que se oferecem, a cada dois anos, para ocupar um cargo público. Se Dilma não está dando certo, é preciso lembrar que não chegou lá sozinha. Se ela enganou, se prometeu e não cumpriu, se aumentos e outras maldades não pregadas em campanha, hoje, massacram o brasileiro, tudo isso deve ser computado também nas contas de todos os políticos que pediram voto para ela.  Dos aliados que ainda hoje, mesmo com o País atolado numa crise histórica, cinicamente, defendem os erros da presidente. Dos que não têm coragem de cobrar ajuda para Sergipe, assim como tiveram para pedir ao sergipano para votar na petista. Aprender a refletir sobre isso e dar o troco nas urnas é o caminho. Aliás, mal comparando, como Jesus Cristo, o único caminho. Votou, elegeu, acabou. Mexer só no próximo pleito. A menos que haja argumentos irrefutáveis do ponto de vista legal, impeachment, tomar o mandato à força argumentando má gestão, é golpe. É pior que imaginar a presidente nua como solução.

Modificado em 23/08/2015 09:53

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