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Jackson Barreto: vinte anos depois

JB: 20 anos depois

Por Paulo Márcio

Na década de 1980, Jackson Barreto figurava no imaginário popular como o político predestinado a varrer do poder as velhas oligarquias sergipanas. Suas gestões à frente da prefeitura de Aracaju, sua identificação com o eleitorado mais ideologizado (posteriormente amealhado pelo PT), sua base de sustentação nas camadas mais populares e seu discurso virulento e demolidor contra os dois maiores representantes da direita – seus outrora arquirrivais João Alves Filho e Albano Franco -, prenunciavam que, chegado o momento certo, as urnas lhe fariam justiça e Sergipe teria, pela primeira vez na história, um governador verdadeiramente comprometido com as questões sociais mais urgentes.

Em 1994, como que descortinando um cenário épico, as forças políticas mais expressivas do estado se aglutinaram em torno de Jackson Barreto e Albano Franco. Numa época em que praticamente não havia telefonia celular, internet e suas mídias sociais, e as notícias circulavam de boca em boca nos senadinhos, bares, clubes, escolas, num período em que o voto de cabresto era contabilizado como certo nos currais eleitorais dos mais atrasados grotões, e que o Ibope, a despeito das vozes das ruas, dava como certa a vitória do candidato oficial no primeiro turno, Jackson provou para um estado atônito por que encarnava, naquele momento, a esperança de uma nova forma de fazer política, não só levando a eleição para o segundo turno como vencendo o primeiro contra seu principal oponente.

Todavia, veio o segundo turno e Albano Franco obteve a vitória que o Ibope lhe prometera para semanas antes. Os aliados de Jackson falaram em fraude eleitoral. Pediram recontagem de votos. Mas tudo se manteve inalterado. Pelos doze anos seguintes Albano e João, agora em polos opostos, continuariam dando as cartas na política sergipana. O que ninguém esperava era que Jackson Barreto, logo ele, se alistaria ao exército de Albano Franco em 1998, ajudando-o em seu projeto de reeleição desta feita contra João Alves e perdendo a vaga de senador para Maria do Carmo Alves.

Embora não se possa exigir muita coerência do eleitorado, é inegável que o ato de Jackson jamais foi digerido ou assimilado por aqueles que sempre o acompanharam. De tão inusitado, para não dizer paradoxal, não faltaram explicações ou especulações pouco lisonjeiras à imagem do combativo líder popular. Volta e meia, algum adversário ou desafeto traz à baila o assunto incômodo, não sem ser levado às barras da justiça, porém o desgaste é inegável e até hoje traz dissabores, por mais que haja uma explicação plausível para a aliança mais incompreendida da história.

Não bastasse o pacto com Albano, vinte anos depois de ter quase conquistado o governo do estado, Jackson Barreto, agora no pleno exercício do mandato em decorrência do falecimento do titular, tentará a reeleição em outubro próximo. Entrementes, no arco de alianças que vem compondo, não mede esforços para amealhar o apoio do prefeito de Aracaju João Alves Filho (DEM), sem sombra de dúvida seu maior adversário histórico. Essa tentativa de aproximação, ao contrário do que se almeja nas hostes governistas, está provocando uma tremenda confusão na cabeça do eleitor, e uma eventual aliança com João poderá ser rejeitada, diminuindo drasticamente as chances de vitória de Jackson.

Se tiver competência e habilidade, características que não lhe faltam, Jackson poderá ser reeleito em outubro, não sem grandes dificuldades, evidentemente. Ele tem a chave do cofre e mais de 1,5 bi para investir nos municípios. Porém, muito mais producente do que demonizar o senador Eduardo Amorim (PSC), seu mais forte concorrente este ano, Jackson tem que rever sua própria estratégia. Sobretudo a coerência com seu passado e seu discurso. Diz uma anedota que só árabes e judeus conseguem viver eternamente em guerra. Mas não é sempre que se consegue fumar o cachimbo da paz com um arqui-inimigo sem se engasgar com a fumaça.

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase). Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 5ª Delegacia Metropolitana. É colunista do Universo Político.com.br E-mail paulomarcioramos@oi.com.br

Modificado em 25/05/2014 07:18

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