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Genocídio, pobreza e repressão: o legado do socialismo

Por Paulo Márcio

Na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra começa a experimentar uma profunda transformação no processo de produção de mercadorias, ocasionada pelo aprimoramento das máquinas a vapor, pelo desenvolvimento de novos produtos químicos e pelas inovações nos métodos de produção do ferro. Milhares de pessoas deixam o campo atraídas por oportunidades e postos de trabalho nas fábricas instaladas nos centros urbanos. Mas a realidade com que se deparavam logo deixava claro que o progresso trazido na esteira dos avanços tecnológicos e econômicos só beneficiava aos proprietários dos meios de produção, ao passo que, para os trabalhadores, restavam as jornadas de dezesseis horas diárias de trabalho, os baixos salários, a subnutrição, as doenças, acidentes e mortes.

Em um ambiente tão hostil e sem horizontes, não é de espantar que as ideias que pregavam desde reformas no sistema capitalista até a sua completa e total destruição por meio de uma revolução levada a efeito pela classe trabalhadora encontrariam terreno fértil e reuniriam, cada vez mais, adeptos não só na Inglaterra como nos países recém-industrializados – mas não só nestes.

O Manifesto Comunista de 1848 é o divisor de águas na história de polarização entre burguesia e proletariado, de acordo com o conceito de luta de classes proposto à época. As ideias emancipatórias e revolucionárias de Karl Marx e Friedrich Engels servirão como régua e compasso à incipiente e desorganizada luta do proletariado contra a opressão e o Estado burgueses. Depois delas, o mundo nunca mais seria o mesmo.

Mas é o século XX quem assistirá às grandes revoluções que testarão, na prática, o modelo político-econômico concebido para superar o capitalismo e estabelecer a igualdade plena entre todos os cidadãos, pela imposição, dentre outras, de medidas extremas como a abolição da propriedade privada e a coletivização de todos os meios de produção.

A Rússia largou na frente, fazendo sua Revolução Bolchevique em 1917 – que desaguaria na criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no ano de 1922. Nas décadas seguintes, por influência soviética, os tentáculos comunistas se estenderiam a diversos países do Leste Europeu, um processo que se consolidaria no pós-guerra, quando razões geopolíticas levariam à divisão do território alemão em quatro zonas administrativas (Conferência de Potsdam) – uma das quais, sob a ocupação de Moscou, daria origem à Alemanha Oriental. Ao clube de Estados comunistas, logo viriam juntar-se China, Coreia do Norte, Cuba, Vietnã, Laos e Camboja.

A polarização ideológica entre os blocos socialista e capitalista consumiu montanhas de recursos, gerou guerras e instabilidade em todos os continentes, produziu uma crise que por pouco não culminou em uma guerra nuclear e deixou um rastro de milhões de mortos em todo o mundo. No entanto, à medida em que o bloco capitalista experimentou avanços sem precedentes em todas as áreas, os regimes comunistas se exauriram social e economicamente muito antes de conseguirem proporcionar aos seus cidadãos as maravilhas do tão propalado “outro mundo possível”. O totalitarismo, a corrupção nas hostes dos governos e no partido único, as crises de abastecimento, o empobrecimento da população, tudo isso somado às notícias de liberdade, prosperidade e bem-estar vindas do mundo livre, criou as condições que levariam à implosão do bloco socialista no final do século XX.

O chamado socialismo real foi um flagelo, algo tão abominável que alguns países chegaram a proibir a existência de partidos comunistas, a exemplo da Ucrânia. Não sem razão, apenas um século após a Revolução Russa já não há países comunistas na Europa, à exceção da obscura e inexpressiva Transnístria. O vento da mudança que derrubou o Muro de Berlim em 1989 rapidamente varreu o regime marxista-leninista da União Soviética e seus países satélites. Por trás da cortina de ferro (expressão cunhada por Winston Churchill), nada mais do que um rastro de destruição, fome, atraso e miséria, tão bem escondido pela propaganda comunista que remonta a Lênin.

O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão estima que os regimes comunistas foram responsáveis pela morte de aproximadamente 94 milhões de pessoas em todo o mundo. Não há notícia de outros regimes tão sanguinários na história da humanidade, desde os conquistadores mongóis até o nazi-fascismo. Não obstante, a ideologia marxista-leninista ainda conta com numerosos seguidores e defensores em todo o mundo, sobretudo na América Latina, onde sua mistura ao caudilhismo e bolivarianismo põem a nu nosso subdesenvolvimento político e nossa absoluta incapacidade de compreender a realidade e romper com as imposturas e equívocos históricos.

Nos estertores do comunismo no Leste Europeu, lideres regionais de esquerda deram início a um movimento cujo objetivo era fazer da América Latina e Caribe o novo polo das ideias e experiências socialistas. Essa estratégia, consubstanciada no Foro de São Paulo, em 1990, teve seu ponto alto na eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, e de Lula, no Brasil, pupilos e aliados do ditador cubano Fidel Castro, cujas ventosas não tardaram a envolver e sugar suas presas, criminosamente desviando recursos das duas economias para financiar ditaduras aliadas na América Latina e África.

Em nome dos mais altos ideais socialistas, os governos ungidos pelo Foro de São Paulo arrasaram as economias do Brasil, Venezuela e Argentina, transformaram a Bolívia em um narco-Estado, sucatearam as agências policiais e permitiram a expansão do crime organizado em todo o continente, mais precisamente as atividades ligadas à corrupção, ao tráfico de drogas e ao contrabando de armas. A culpa por todas as mazelas, no entanto, continua sendo atribuída ao imperialismo norte-americano, ao FMI, ao neoliberalismo, à mídia golpista, ao capitalismo ou aos Protocolos dos Sábios de Sião.

As condições existentes à época da concepção do socialismo científico não mais existem. Por outro lado, sabe-se que ainda há enormes distorções no modelo socioeconômico adotado pelas democracias liberais, que vem se aprimorando desde a expansão marítimo-comercial dos séculos XV e XVI. Mas a história vem nos ensinando que, a cada geração, novos direitos vão surgindo e se afirmando, a produção e a circulação de mercadorias geram riqueza, emprego e renda para bilhões de pessoas no mundo inteiro, possibilitando o acesso a bens de primeira necessidade. A mão invisível do mercado, nos dizeres de Adam Smith, continua sendo o melhor antídoto contra a miséria e a estagnação econômica. Já não há mais espaço para o marxismo-leninismo e outras ideologias totalitárias em uma sociedade pós-industrial formada por homens livres e verdadeiramente emancipados.

Paulo Márcio Ramos Cruz é delegado de polícia civil e articulista do Universo

Modificado em 05/03/2018 10:21

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