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“Eu queria morar na cidade que os políticos prometem, mas, infelizmente, a gente vive na cidade que eles administram”

Candidato a prefeito de Aracaju, Dr Emerson diz que a velha política disputa o poder com as armas do financiamento ilegal, do loteamento dos espaços públicos e de promessas que não serão cumpridas

Emerson: foco nos problemas sociais e urbanos

Por Joedson Telles

Eleições 2016 – Candidato a prefeito de Aracaju pelo partido Rede Sustentabilidade, o médico e vereador Emerson Ferreira, o Dr Emerson, alerta o eleitor, nesta entrevista que concedeu ao Universo, para a lógica de que a velha política disputa o poder com as armas do financiamento ilegal, do loteamento dos espaços públicos e de promessas que não serão cumpridas. “Eu costumo dizer que queria morar na cidade que os políticos prometem, mas, infelizmente, a gente vive na cidade que eles administram – e não há perspectiva de mudar essa realidade se não fizermos uma mudança na representação política. Às vezes, as pessoas vêm falar comigo e diz que sou um excelente candidato. Talvez o melhor que tenha. Mas o problema é a chance de ganhar”, diz, observando que o foco são os problemas sociais e urbanos.  “A população tem dificuldades na saúde, educação, saneamento, mobilidade. São problemas que se avolumam. A turma fica prometendo que vai resolver, e a gente precisa ter alternativas. Se a população disser que está insatisfeita com isso e buscar uma alternativa terá dado uma resposta grandiosa para essa classe política.” A entrevista:

A campanha pela Prefeitura de Aracaju começou. Como o senhor está sentindo as ruas?

Eu tenho avaliado dois sentimentos: primeiro o sentimento que a população tem da perspectiva que precisa mudar. A população não se sente representada pela classe política, que ao longo das últimas décadas tem governado Aracaju, o Estado de Sergipe e até com os que nos representam nacionalmente. Há uma crise da representação política. Esse é o cenário. A moldura desse cenário é a crise política, econômica e moral que acontece em todo Brasil e Sergipe não fica fora disso.  E aqui tem um detalhe nessa moldura que é a mudança de fase no ciclo político de Sergipe. Temos políticos que estão com mais de 70 anos e isso deixa a visão de que vivenciamos essa fase de mudança no ciclo político.

Como a população acompanha este processo?

Isso é outro cenário que se acrescenta a tudo isso, fazendo com que a população veja com mais cuidado, com mais zelo sua representação. As pessoas podem até não gostar da política. Eu costumo dizer que essas pessoas que não gostam da política é do que fazem em nome da política. A política é algo inerente ao ser humano. Nós não podemos viver sem que essas relações sociais sejam definidas pela política. A política está aí, mas, como dizia Martin Luther King, “o que preocupa não é o barulho dos maus. É o silêncio dos justos”. A população está decidida a não silenciar. A gente tem andado Aracaju inteira e sente essa sensação de descrédito, mas que produz indignação tem que virar uma ação com mais cuidado, apesar de que a gente sabe que a velha lógica da política vai trabalhar numa campanha muito curta baseado na compra da consciência. Nós temos esse cenário que acho importante.

E o que diz este cenário?

Tem o cenário que aponta para uma rejeição ao que está aí. Com relação ao nosso nome nós temos sido surpreendidos positivamente pela aceitação. Mesmo nesse cenário muito é muito freqüente as pessoas reconhecerem o nosso nome, a perspectiva de uma ação política fora dessa lógica velha, que está na origem da causa dos nossos problemas sociais. Eu costumo dizer que essa prática política que está na origem desses processos é financiamento ilegal das campanhas. Se a gente for analisar as reformas eleitorais que acontecem nesse país, todas elas apontam para o encurtamento da campanha eleitoral, tornando as campanhas não propositivas e que o dinheiro seja concentrado para a compra de votos.

Mas a coisa já foi prior…

Temos agora limitação de gastos e o encurtamento da campanha e essa perspectiva desse financiamento ilegal, dessa aquisição ilícita do voto, mas temos as instituições que estão atuando no sentido de reduzir ao máximo a influencia desses vícios. O segundo desses vícios é o loteamento dos espaços públicos. Nesse loteamento, se a gente analisar o cenário das alianças no cenário para governador, já mudou substancialmente para essa, que já está de olho na de 2018. Não existe compromissos ideológicos, propositivos. Existe pragmatismo puro em função da disputa pelo poder. O que essa velha política disputa é o poder e com essas armas do financiamento ilegal e do loteamento dos espaços públicos. Qualquer estrutura política que trabalhe nessa lógica coloca a possibilidade de que possa enfrentar e amenizar os problemas urbanos e sociais que a população vivencia no dia-a-dia. É nesse sentido que a população tem que ficar muito atenta. Não há como essa lógica resolva os problemas.  A observação da população é nesse sentido. Quem atua nessa lógica pode saber que estará diante de um processo de candidatura que inviabiliza qualquer possibilidade de resolução dos problemas. Quando a gente estuda o orçamento do município de Aracaju, temos uma média de 2 a 4% do orçamento disponibilizado para investimento. A capacidade de investimento da prefeitura é praticamente inexistente. Nós vamos ter muita promessa nessa campanha eleitoral. Se alguém faz política nessa lógica, abre o ‘prometômetro’, vai realizar com o orçamento que vai ser aprovado este ano de 2 a 4% de investimento, onde mais da metade da folha de pagamento está comprometida com cargos comissionados e esses cargos comissionados são ocupados pelos loteamentos dos espaços públicos, de maneira que a gente chega aos milhares de cargos comissionados que perfazem o valor superior a mais de 50% da folha de pagamento. Temos que atuar sem essas práticas na campanha, porque se tiver não resolve.

É preciso, então, mudar esta prática?

Temos que fazer o reajuste de todo esse cenário. A gestão tem que mudar substancialmente. Tem que ser uma gestão compartilhada com os trabalhadores, com a academia, com a população, conversarmos no sentido de colocar a gestão em outro patamar. Fazendo isso, a gente consegue melhorar o desempenho fiscal, ajustar as contas do município, a gente aumenta a capacidade de investimento. A gente precisa despolitizar a ocupação de cargos públicos notadamente na educação e na saúde. A gente precisa colocar técnicos que não estejam ali para construir projetos eleitorais. É preciso que sejam técnicos voltados para a saúde, educação, priorizar investimento para essas áreas. Nós tivemos 0,2% no incremento do orçamento da saúde no último ano, mostrando que não há prioridade para isso. É preciso esse ajuste no primeiro ano porque vamos executar o orçamento que vai apontar para essa baixa capacidade de investimento. A gente fazendo esse ajuste da máquina administrativa é possível que, em 2018, a gente faça diferente. Quem quiser prometer vai prometer muita coisa. Eu costumo dizer que queria morar na cidade que os políticos prometem, mas, infelizmente, a gente vive na cidade que eles administram – e não há perspectiva de mudar essa realidade se não fizermos uma mudança na representação política. Se não sairmos da mesmice, para que a gente tenha perspectiva de ter uma gestão comprometida com outros valores e construída sem esses vícios.

O eleitor, então, tem que tomar muito cuidado porque vem muita mentira nesta campanha?

Infelizmente vem. A gente já percebe claramente. Assistindo aos veículos de comunicação. Nós estávamos vendo a entrevista sobre a convenção e praticamente ninguém falava sobre a convenção, sobre o processo da escolha, sobre o fato de estar ali mais vez. Cada pessoa que foi entrevistada dos candidatos majoritários era prometendo. Teve um que prometeu que agora, sim, vai fazer o BRT. Teve outro que prometeu isso e aquilo, enquanto a realidade é essa: vai buscar recurso onde? Qual a proposta criativa? Estamos aprontando para isso.  Que modo criativo a gente vai ter para buscar recursos? Ajustando a máquina e criando parcerias. Temos isso no programa de governo, para que a gente torne a coisa palpável, dialogue com a sociedade. Não é possível resolver tudo. Nós não resolvemos tudo na casa da gente, então porque essa avidez de usar marqueteiros para que façam promessa numa campanha distanciada da população? Os candidatos passam na rua e dá um adeus, ou vai para a televisão e ficam prometendo muita coisa, e a gente está vendo aí…

Outras eleições ilustram seu argumento, não?

Houve uma lição muito boa para a população. Tivemos um desfile de promessas na eleição passada, tivemos uma gestão e o que fez? Se a gente ficar na mesmice vai ficar na alternância dos que fazem política dessa forma. O ponto crucial que a população precisa entender e ver que nessa lógica não temos saída é mudar essa prática. Os políticos que estão instituídos usam essa lógica: campanha com muita promessa e loteamento dos espaços públicos. A gente tem dito que a grande coligação que deveria ser feita é com a população, que é o patrão dessa história, que é outro paradigma que precisa ser modificado na relação política. O dinheiro é da população e não tem por que o político estar gastando sem transparência.

Os políticos não entendem que o dinheiro é da população?

Os políticos não fazem isso. Aracaju é a segunda pior cidade em transparência, e é o dinheiro da população. A gente precisa trabalhar no sentido de resgatar a dignidade das pessoas. A soberania da população e conclamar essa população através de uma democracia participativa e do controle social, que essas pessoas tomem em suas mãos o destino da ação política. Não pode deixar entregue à classe política que atua com esses vícios. Aí nós perdemos a oportunidade de resolver todos esses problemas.

Como o senhor avalia o governador do Estado comentando alianças alheia, mesmo com Sergipe enfrentando vários problemas?

Eu uso esse espaço político, nesse momento da disputa, e busco orientar. Olhe outra prática nociva: as práticas de política de governo e não de política de Estado. Isso é um vício no Brasil. As pessoas disputam o pode o tempo inteiro e faz o patrimonialismo na gestão pública. É preciso que a gente tenha políticas de Estado, que sejam maiores que política de governo. As pessoas que estão tendo a oportunidade de nos ler vão saber da história do seu município. O prefeito que estava fazendo a obra perdeu a eleição, e aí o outro eleito não dá continuidade. Isso é de um desrespeito a população enorme. Nós precisamos acabar com essa história de disputa pelo poder e disputa de um projeto para a política enquanto bem comum. Aquilo que interessa a todos, e não o individualismo de projetos pessoais de disputa pelo poder. Tivemos um cenário na eleição, há dois anos, com políticos que estavam na campanha do governador, que estavam com a oposição e, hoje, tem muita coisa misturada porque os projetos são pessoais, e muito do que foi feito agora já aponta para 2018. Isso é uma desconsideração com a população, quando a classe política diz que a disputa é entre eles, que loteiam o estado.

A população, como sempre, em segundo lugar… 

Nesta lógica da disputa pelo poder, nesse vale tudo da disputa pelo poder, a gente desconsidera a população. A gente entende que a população é despolitizada, que não tem consciência, que a depender da aliança que a gente faça a gente arrebanha mais pessoas e votos e a gente ganha a eleição. Trabalham muito as assessorias de imprensa no sentido de polarizar as disputas entre eles. É um processo que desconsidera a população, tanto na sua construção quanto na prática do exercício do poder. A população passa a ser um detalhe que a gente manipula e a gente continua fazendo o mesmo exercício na prática do desempenho do poder. A população, num determinado momento, disse que não queria mais um grupo político e queria outro, que tinha tirado pouco tempo antes do governo do Estado. Aí a rejeição, agora, está lá em cima e não tem como ganhar a eleição com essa rejeição tão alta. Agora vamos buscar no mesmo a alternativa para o que a gente não tem agora? Há algum tempo não servia e agora começou a servir. O que mudou na lógica para que a gente entenda que pode ter essa oportunidade?

E o eleitor nesta história?

A população precisa construir essa alternativa. Dar essa resposta à classe política, porque a gente vai buscar uma alternativa fora desse processo. Vai dar uma resposta à classe política. Eles têm interesse de polarizar entre eles como se só eles tivessem chances de ganhar. Às vezes, as pessoas vêm falar comigo e diz que sou um excelente candidato. Talvez o melhor que tenha. Mas o problema é a chance de ganhar. O foco da nossa questão são os problemas sociais e urbanos.  A população tem dificuldades na saúde, educação, saneamento, mobilidade. São problemas que se avolumam porque não são capazes de acompanhar o incremento populacional. A turma fica prometendo que vai resolver, e a gente precisa ter alternativas. Se a população disser que está insatisfeita com isso e buscar uma alternativa terá dado uma resposta grandiosa para essa classe política. Se os políticos fazem de conta que não querem ouvir os anseios da população, esses problemas sociais urbanos que existem, se a lógica de fazer política deles só avoluma tudo isso. Então, é preciso que a população dê um basta. Busca uma alternativa. Se não der certo, muda de novo. Mas a classe política precisa entender – e a população quem precisa dizer isso – quem são os patrões da história. A população de Aracaju dá cerca de R$ 1, 8 bilhão por ano para o prefeito administrar Aracaju, e não pode ser desse jeito. Cinco meses que o trabalhador ganha é para pagar imposto nesse país. Imagine um mês sem receber dinheiro. Cinco a seis meses de salário, a gente paga para salário de prefeito, vereador, desembargador, juiz, polícia… Qual a contrapartida de tudo isso? As pessoas administram suas famílias com seis a sete meses de salário, porque o resto é para financiar toda essa estrutura da gestão pública que precisa ser mais eficiente e eficaz.

A imprensa tem um papel fundamental para que a disputa não seja polarizada, abrindo espaços para todos os candidatos. Mas, infelizmente, nem todos os espaços são abertos para políticos como o senhor ter a oportunidade de apresentar suas ideias. O senhor sente isso também?

Existem setores que, não sei por qual motivo, são induzidos a usar esse critério. Contribuir para essa polarização dentro dessa disputa pelo poder e eliminar os outros. Outro dia, eu vi (em algum veículo de comunicação) que ninguém (os candidatos) empolga. Mas quando eu li, dizia que nenhum dos três empolga… Mas temos sete (candidatos). Pelo menos diga que os outros quatro também não empolgam. Não pode desconsiderar. Não é justo com a população. Existem sete candidatos colocados e qualquer comentário deve contemplar uma análise sobre os sete. A compreensão que cada um faz, aí cada um tem a liberdade para isso. Não tem a liberdade de distorcer ou de querer “fazer a cabeça” do cidadão em função dos interesses que o motivam a fazer isso. É o compromisso com a informação e não com a formação da opinião pública.

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