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Elegemos Bolsonaro! E agora?

Por Paulo Márcio

O eleitorado de Jair Bolsonaro (PSL) é predominantemente formado por messiânicos e utilitaristas. Para eles, somente o “Mito” reúne as condições, valores e virtudes capazes de retirar o Brasil do cipoal em que foi enfiado por todos os presidentes que governaram o país após João Figueiredo (1979-1985).

À semelhança de Lula em 2002, Bolsonaro apresenta um time de notáveis que pretende indicar para os ministérios mais estratégicos, a começar pelo renomado economista Paulo Guedes, que comandará a Fazenda a partir de uma cartilha liberal: privatizações, redução dos juros, desregulamentação, flexibilização das relações de trabalho, reforma da previdência, dentre outras.

Bolsonaro também promete mais rigor no combate à corrupção. Não se sabe exatamente o que ele pensa sobre o tema, mas garantir o livre funcionamento das instituições responsáveis pelo controle e apuração, preservada a independência entre os poderes, é o que fazem as democracias avançadas, sem caça às bruxas, sem pirotecnia, sem partidarismo.

O messianismo em torno da figura de Jair “Messias” Bolsonaro não é algo que assuste. Trata-se da manifestação de um fenômeno recorrente na América Latina, com origem nas monarquias de Portugal e Espanha, capaz de produzir salvadores como Collor, Chávez, Lula, Evo Morales, Ortega e tantos outros personagens desse infortunado subcontinente.

Se o messianismo bolsonariano não assusta, o mesmo não se pode dizer em relação ao discurso utilitarista do Mito em torno da Segurança Pública. Parabenizar policiais que executam pessoas arremessando-as do alto do telhado, garantir absoluta presunção de inocência a policiais que matam em serviço, tratar com descaso e zombaria graves problemas como a superlotação de presídios, armar a população civil sem nem um critério, nada disso se coaduna com aquilo que se espera de um estadista.

Como um moralista defensor da ordem e dos bons costumes, Bolsonaro enxerga o crime não como um fenômeno de origem multifatorial, mas como um problema moral. Segundo sua linha de raciocínio, a eliminação física do criminoso – como meio para se alcançar a máxima segurança da sociedade -, deve ser levada a efeito pelo Estado, seja diretamente, por meio da polícia e das Forças Armadas, seja indiretamente, armando-se a população.

Para Bolsonaro e seus seguidores mais radicais, questões como ampla defesa, devido processo legal, contraditório, presunção de não-culpabilidade – todas elas reduzidas na fórmula direitos humanos -, são entulhos a serem removidos pelo Estado a fim de se garantir à sociedade, nos dizeres de Jeremy Bentham (1748-1832), criador do Utilitarismo, a “máxima felicidade” – aqui entendida como uma utópica sociedade sem criminosos.

O diabo é que Bolsonaro pode não estar errado quanto ao alcance do fim almejado através dos métodos utilitaristas. Se todos os “policiais” e “cidadãos de bem” armados tivessem licença para matar “criminosos”, ao fim de quatro anos teríamos uma drástica redução de todos os crimes catalogados, inclusive o homicídio.

Acontece que não estamos diante de uma escolha moral, pura e simplesmente. Gostem ou não os inimigos da democracia, somos regidos por uma legislação extremamente avançada em matéria de direitos individuais; nossas instituições são constituídas por advogados, promotores e juízes com sólida formação humanística; nossa polícia evoluiu e tornou-se protagonista na promoção dos direitos humanos. Ninguém pense que somos uma sociedade entrincheirada e armada até os dentes esperando a ordem de um maluco para começarmos a atirar uns contra os outros.

Um eventual governo Bolsonaro seria uma decepção no campo da Segurança Pública para aqueles que sonham com as valas cheias de cadáveres e já sentem o cheiro da carniça. Muito embora necessitemos de mudanças profundas, não seria o utilitarismo de Bolsonaro nossa tábua de salvação. O Brasil não é as Filipinas nem Bolsonaro é o Rodrigo Duterte tupiniquim – mas apenas um oportunista criado no pântano da política brasileira onde vicejam lunáticos, gatunos e populistas irresponsáveis.

Paulo Márcio Ramos Cruz é delegado de polícia civil e colunista do Universo Político

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