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As perspectivas de Eduardo Amorim

Por Paulo Márcio

Em seu primeiro mandato como governador, Marcelo Déda não cansava de alardear que era um líder de líderes. Embora imodesta, a sentença não deixava de refletir uma realidade: à época, sob a batuta do petista, desfilavam expoentes da política sergipana como o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) e os então deputados federais Jackson Barreto (PMDB) e Eduardo Amorim (PSC), sem falar nos decadentes e menos expressivos Almeida Lima (PMDB) e José Eduardo Dutra (PT).

Dos pesos-pesados da política local, ficaram de fora da aliança apenas os ex-governadores João Alves Filho e Albano Franco. A força do bloco era tamanha – e tão confortável a maioria na Assembleia Legislativa (proporcionada sobretudo pelo apoio do grupo liderado por Eduardo e Edivan Amorim) – , que Déda se deu ao luxo de rejeitar o apoio do então prefeito de Itabaiana, Luciano Bispo (PMDB), e seu irmão, o deputado estadual Arnaldo Bispo (DEM).

Naquele cenário, caracterizado por um bloco governista amplo e uma oposição aguerrida comandada por João Alves Filho – que se preparava para uma revanche no pleito de 2010 -, não havia espaço para o surgimento de uma terceira via com condições de disputar em pé de igualdade a sucessão estadual de 2014. Era natural, portanto, que na base governista os interessados na sucessão de um provável segundo mandato de Déda tivessem primeiro que se viabilizar internamente, conquistando espaços e arregimentando apoios dentro e fora do governo.

A disputa de 2010 seria o ponto de partida. Conseguir uma vaga na chapa majoritária ao lado de Déda era condição “sine qua non” para adquirir a musculatura necessária e lançar-se ao pleito seguinte com o aval do grupo. Como Valadares era candidato à reeleição e Belivaldo Chagas, supunha-se, estava bem acomodado no cargo de vice, sobrou, em tese, apenas uma vaga para o Senado, na medida em que o neoaliado Almeida Lima encolhera e já não tinha como defender sua reeleição ao cargo majoritário (consolou-se com uma vaga para deputado federal).

Entre os pretendentes ao Senado, Eduardo Amorim, por ser líder de um grupamento mais forte e numeroso, conseguiu a indicação, desbancando os primos Almeida Lima e Jackson Barreto. Este último, nitidamente enfraquecido, vislumbrou na vaga de vice-governador sua tábua de salvação. Sem hesitar, avançou sobre o PSB de Valadares e deu um chega pra lá em Belivaldo – o mesmo Belivaldo que, na convenção do PMDB, foi anunciado como candidato a vice de quem há quatro anos o desalojara do mesmo posto. Como na canção de Cazuza, encontrou um abrigo no peito do seu traidor. Faz parte do show da política. Mas sigamos.

Começa o segundo mandato de Déda e, nos bastidores, Eduardo Amorim e Jackson Barreto, de maneira legítima, tocam seus projetos. Valadares e seu suplente, José Eduardo Dutra, assistem a tudo de longe, não demonstrando interesse na disputa (na verdade, o senador está de olho na PMA, antigo sonho de consumo). No entanto, eclode um fato que alterará completamente o rumo da política sergipana. A Assembleia Legislativa antecipa a eleição de sua Mesa Diretora, e Marcelo Déda, inconformado com o ato (independente) do Poder Legislativo, rompe unilateralmente com o bloco do senador Eduardo Amorim, eleito bode expiatório pelo PT e seus sócios minoritários. Estranhamente, Déda aceita ou finge aceitar as explicações do senador Valadares, cujos liderados não só participaram como apoiaram a antecipação da eleição, assumindo, inclusive, cargos na nova Mesa Diretora. Jackson Barreto, óbvio, comemora. Entretanto, o ato açodado do governador, ao contrário do que imaginam as hienas da situação e a imprensa chapa branca, só iria fortalecer o projeto de Eduardo Amorim.

Com efeito, expulsos da base governista e hostilizados diariamente por certa imprensa caudatária, Eduardo Amorim e seus aliados não desistem do seu objetivo. Ao reverso, rearticulam-se e mostram sua força já nas eleições municipais de 2012, quando vencem em cidades estratégicas e simbólicas como Itabaiana e Capela. Em Aracaju, apoiam o projeto vencedor de João Alves Filho – um golpe certeiro no governo, que perde para a oposição seu principal reduto. Por um ano e meio Jackson busca uma aproximação com João Alves, seu outrora mais ferrenho adversário. Mas não obtém êxito. O prefeito de Aracaju, para infortúnio dos governistas, desembarca no projeto de Eduardo Amorim, trazendo a senadora Maria do Carmo para a chapa e prometendo arregaçar as mangas para vê-lo Governador do Estado a partir de 1º de janeiro de 2015.

Faltam menos de três meses para a eleição. Assim como nos pleitos anteriores, não houve ensejo para o surgimento de uma terceira via. Salvo um acontecimento totalmente imprevisível, a Eduardo ou Jackson será outorgado o mandato de governador para os próximos quatro anos. E se o primeiro conseguiu um arco de alianças de maior envergadura, o segundo está no comando da máquina administrativa e se move com bastante desenvoltura. Um exemplo foi a rápida resposta de adesão de “parte” da família Franco a sua candidatura, em contraponto ao anúncio do ex-deputado federal Augusto Franco Neto (PSDB) como vice na chapa de Eduardo.

Numa eleição que será decidida nos detalhes, ao menos dois fatores contam a favor de Eduardo Amorim: primeiro, um forte desejo de mudança que perpassa grande parte do eleitorado nacional quanto do sergipano; segundo, uma carreira política em franca ascensão, como demonstram suas vitórias anteriores. No entanto, se já foi difícil para Eduardo consolidar os projetos para a Câmara Federal (2006) e o Senado (2010), a edificação da atual candidatura ao Governo do Estado, dadas as incontáveis dificuldades, assume ares de trabalho hercúleo. Em casos que tais, o genial Nietzsche respondia com invejável sabedoria: “aquilo que não me destrói me fortalece”.

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Foi Superintendente da Polícia Civil de Sergipe e Presdente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de Sdrgipe. Escreve para o portal Universopolítico.com.br desde 2009. Contato paulomarcioramos@oi.com.br

Modificado em 14/07/2014 14:57

joedson:

Comentários (1)

  • Parabéns a vocês que fazem o universopolitico.com.br e principalmente a Paulo Márcio hoje, a meu ver, o melhor comentador da política sergipana, leio sempre, aumento meu vocabulário e amplio meu conhecimento sobre o assunto, Parabéns!