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Após 12 anos, ciclo do PT chega ao fim

Por Paulo Márcio

Eu tinha 14 anos de idade em 1989, ano da primeira eleição direta para Presidente da República após a redemocratização. Embora não pudesse votar, acompanhava com especial interesse a campanha eleitoral, buscava informações sobre os candidatos e torcia para que o meu preferido, Leonel Brizola, PDT, saísse vitorioso das urnas.

Não tinha identificação ou afinidade ideológica com nenhum dos presidenciáveis. Aliás, naquele tempo sequer sabia o que era ideologia. Para mim, era suficiente o critério que dividia os políticos em duas categorias: os que combateram e os que apoiaram o regime militar. Ingenuamente, acreditava que os primeiros eram sensatos e honestos, ao passo que os segundos eram desprovidos de honra e caráter.

Brizola, pela ousadia e coragem, pelo discurso nacionalista e pela identificação com Getúlio Vargas, personificava o modelo de político pertencente ao primeiro time. Além do mais, ninguém defendia com tanto vigor e entusiasmo a implantação de um modelo de ensino público de qualidade no País. Não foram poucos os que sonharam com Centros Integrados de Educação Pública – os famosos Cieps que ele havia construindo no Rio de Janeiro – espalhados por todo o Brasil.

O alagoano Collor de Mello, do minúsculo PRN, a mim se afigurava como o tipo mais repulsivo e desprezível de político. Oportunista, parasitário, aliado dos militares, ex-prefeito biônico de Maceió. O exato oposto de Brizola, o mesmo Brizola que, curiosamente, ficaria ao seu lado em 1992, durante a campanha pelo impeachment.

No entanto, foi o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores, a grande estrela daquela eleição. Após atropelar Brizola no primeiro turno, o “sapo barbudo” enfrentaria o “caçador de marajás” em uma das eleições mais empolgantes e surpreendentes da história.

Assim como a Dilma de 2014, o Collor de 1989 “fez o diabo” para vencer a eleição. Ganhou perdendo, como diria Marina. Não obstante, independentemente do resultado das urnas, o que sobressaiu daquele pleito foi a imagem de um líder honrado, amado pelas massas, admirado por artistas e intelectuais da esquerda. Sim, a esquerda parecia o reduto das pessoas de bem, dos homens e mulheres nobres e verdadeiramente comprometidos com o país.

Fora da esquerda – mais precisamente do PT de Lula – não havia salvação, pensei. E lá fui eu, como tantos outros, atraído pelo discurso em defesa da ética, da moralidade, dos interesses nacionais, da erradicação da pobreza, do ensino de qualidade e até do calote na dívida externa, por que não?

Votei em Lula em 1994, 1998, 2002 e 2006. Cheguei a me filiar ao partido, embora nunca tenha militado de forma mais ostensiva, exceto na campanha de Marcelo Déda ao governo do estado, em 2006. Eu estava verdadeiramente convicto de que iríamos promover uma profunda transformação no país.

Não houve transformação nenhuma. Os erros foram se acumulando e a inapetência administrativa do PT começou a ficar cada vez mais visível. Por sorte, Lula manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso e aprofundou as reformas sociais iniciadas pelo ex-presidente. Mas até mesmo o Bolsa Família, um programa de segurança alimentar criado a partir da junção dos programas desenvolvidos por FHC, foi desvirtuado e transformado no maior programa de compra de votos do Ocidente.

Todavia, o erro mais grave perpetrado pelo PT foi, sem dúvida, o episódio da compra de apoio parlamentar conhecido como mensalão. Não porque o PT tenha se nivelado aos outros partidos, como dizem os militantes e simpatizantes da sigla, em um estúpido argumento relativista. Mas justamente por ter chegado a um nível de degradação moral e institucional jamais visto na história republicana.

A figura que cativara a tantos em 1989 começa a empalidecer. Por mais que nos negássemos a acreditar, os fatos eram pródigos em demonstrar que o Presidente sabia de tudo. Dirceus, Genoínos, Delúbios, Valérios não passavam de operadores de um esquema controlado pelo “capo di tutti capi”.

Ainda que admita irregularidades aqui e ali, é pouco provável que o PT faça um mea culpa. Se o partido não tem grandeza para reconhecer os acertos e realizações dos outros, sobremaneira os do tucano Fernando Henrique Cardoso, como poderá ter humildade para admitir publicamente os próprios erros?

Mas isso agora pouco importa. O Brasil cansou de tanta arrogância e baixeza. O Brasil está farto do PT, cujo ciclo, felizmente, parece ter chegado ao fim. Apeado do poder no próximo dia 26 de outubro, o partido vai embora sem deixar saudade. Parte com as malas carregadas de ódio e ressentimento, as burras e cuecas cheias de dinheiro e a lição de que não se pode dividir um país e um povo para se perpetuar no poder.

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. É colunista do portal Universo Político.com.br desde 2009. Contato:  paulomarcioramos@oi.com.br

Modificado em 20/10/2014 19:38

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