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André Moura: “Não vislumbro um cenário com resultados muito positivos”

Por Joedson Telles

O deputado federal André Moura (PSC) aponta nesta entrevista o que julga problemas a serem enfrentados pelo Governo do Estado neste primeiro ano de gestão de Jackson Barreto (PMDB). Apesar de ratificar oposição, André Moura assegura ter esperança de dias melhores. “Até porque lutamos para ampliar a qualidade de vida dos sergipanos e jamais apostaríamos no quanto pior melhor. Mas do jeito que a coisa anda, não vislumbro um cenário com resultados muito positivos para a atual gestão. Ao menos, não no médio prazo”, arrisca. Leia a entrevista completa.

Sua reeleição foi obtida enfrentando uma guerra na Justiça, e mesmo assim conseguiu ser diplomado e empossado. O senhor pulou uma fogueira?

Fácil não foi, claro. Porém, pior do que a querela judicial foi enfrentar a poderosa máquina governamental, cujos canhões foram apontados para mim. Disseram tantas mentiras e calúnias contra minha vida pública e contra a minha campanha, você nem imagina. Mas afinal, graças a Deus e à infinita generosidade do povo de Sergipe, lutei um bom combate e venci.

Qual o foco do seu novo mandato, neste primeiro ano?

No ano passado aprovamos a PEC das Defensorias Públicas, que amplia o acesso gratuito dos mais carentes à Justiça, em um país onde mais de 140 milhões de pessoas não têm como se defender em processos judicais por falta de dinheiro para pagar um advogado. Também aprovamos o piso nacional dos agentes comunitários de saúde e de combate as endemias, vitais para fazer a ligação entre a comunidade e os serviços de saúde pública, trabalho que ajuda a desafogar a demanda nos postos de saúde e hospitais. Neste ano, além de continuar trabalhando na organização política da bancada do PSC, na condição de líder do partido na Câmara, lutarei também para aprovar substanciais mudanças no Estatuto do Torcedor e cobrar que ele seja aplicado com rigor, a fim de coibir a violência em eventos esportivos. Outra meta é aprovar as 30 horas para a enfermagem e a regulamentação das carreiras da categoria. Também pretendo aprovar o projeto que obriga presos a trabalhar e destinar o auxílio-reclusão à família da vítima, além de lutar pela aplicação da lei das Defensorias Públicas, para que elas tenham autonomia e, ainda, aprovar a contratação de mais defensores públicos, os advogados do povo. Claro que, entre as prioridades, vou lutar para aprovar a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, atendendo um antigo anseio do povo brasileiro, que clama por mais segurança.

Há membros da oposição que defendem a tese de que a presidente Dilma Rouseff não termina o seu mandato. O senhor pensa assim também?

As dificuldades do governo são muitas. A cada dia, surgem fatos novos e cada vez mais desabonadores para o PT e, de modo específico, para a presidente. Não bastasse o escândalo do Petrolão, o segundo mandato de Dilma Rousseff se inicia com índices econômicos muito piores quando comparados aos que ela encontrou em janeiro de 2011. A dívida pública federal, por exemplo, passou de 1,7 trilhões de reais em dezembro de 2010, para 2,2 trilhões de reais em agosto de 2014, um crescimento de 31%. O dólar nunca subiu tanto, o que representa uma desvalorização imensa do real frente a moeda americana. Como se não bastasse, enquanto a inflação entre janeiro e dezembro de 2010 foi de 5,91%, o mesmo índice entre outubro de 2013 e setembro de 2014 foi de 6,75%. Claro que essas dificuldades contaminam o cenário político. A inabilidade do atual governo em discutir com o Congresso Nacional não é recente, e o termômetro que mede a temperatura nas ruas e no mundo virtual não a favorece, mas ainda não vejo clima para o impeachment da presidente. Ao menos, não neste momento.

Qual o sentimento, hoje, do Congresso Nacional no tocante à presidente Dilma Rousseff?

As últimas votações, com a aprovação do Orçamento Impositivo e a criação da Comissão que avaliará a Reforma Política e a CPI da Petrobras, representaram derrotas grandiosas do Governo. O diálogo está prejudicado, pois não há interlocutores com habilidade suficiente para entender esse novo estágio do parlamento. A eleição de Eduardo Cunha para presidir a Casa é o melhor exemplo. A presidente radicalizou, não buscou o diálogo no momento em que estava claro que o candidato do Governo não seria eleito, e deu no que deu: o PT está fora da Mesa Diretora da Câmara e não terá o comando das principais Comissões, como ocorria nos últimos 12 anos dos governos Lula e Dilma. A presidente parece não gostar de fazer política e delega a terceiros essa tarefa, um erro que acaba gerando essa falta de empatia com o Poder Legislativo.

A oposição já desceu do palanque em Sergipe, deputado? O que esperar do governo Jackson Barreto, num ano em que os recursos estão escassos?

A eleição é uma página virada. O povo fez sua escolha e a nós coube permanecer na oposição. Como ocorre em todo começo de gestão, daremos um tempo, um refresco de 100 dias para o governador arrumar a casa, mesmo tendo sido reeleito, já que ele governava o Estado há mais de um ano. Depois desse prazo, vamos iniciar as cobranças, começando pelas promessas de campanha. Quanto ao que esperar da gestão de Jackson Barreto, sinceramente, acho que já estamos tendo uma prévia. Fazia tempo que o servidor não era penalizado com atraso de salário. Pior ainda ocorreu com a suposta reforma administrativa, que, na verdade, trocou seis por meia dúzia, ao promover esse festival de nomeações políticas sem qualquer critério técnico. Em resumo: ele loteou o Estado entre seus apaniguados políticos, prejudicando, ainda mais o servidor efetivo. Obras paralisadas por falta de recursos é o que mais tem, especialmente no interior do Estado. Em Sergipe, impera a lei da selva: a matança virou rotina, sem que a SSP consiga coibir os assassinatos, sobretudo de jovens, em sua maioria pobres e negros. A dívida do Estado, acumulada entre 2007 e 2013 é imensa, chegando hoje, somada a anterior, a quase R$ 3,5 bilhões. Claro que manteremos a esperança de dias melhores, até porque lutamos para ampliar a qualidade de vida dos sergipanos e jamais apostaríamos no quanto pior melhor. Mas do jeito que a coisa anda, não vislumbro um cenário com resultados muito positivos para a atual gestão. Ao menos, não no médio prazo.

E na Assembleia Legislativa? Deputados como Augusto Bezerra já anunciam independência. A oposição pode ser minúscula?

Não me amedronta trabalhar com um grupo pequeno, desde que seja aguerrido, coerente e mantenha-se no papel que as urnas nos delegaram. Ser oposição não é fácil. Claro que eu e meus colegas gostaríamos de agora estar ao lado de Eduardo Amorim no comando do Estado, mas não foi esse o veredicto eleitoral, e nesse cenário, quem não está na oposição é porque quer estar no Governo. O deputado Augusto Bezerra optou por não estar conosco. É um direito que lhe assiste. Melhor assim, que fique tudo às claras e que o eleitor saiba quem é quem no jogo político.

Qual a grande lição das eleições 2014 para o seu grupo?

Nunca devemos desistir dos nossos ideais, nunca. Eduardo Amorim é um homem preparado para o exercício da vida pública, é um político com “P” maiúsculo, um líder com visão modernizadora, que tem como maiores bandeiras a transparência e a eficiência nos serviços oferecidos à população, sobretudo para a parcela mais humilde do nosso povo, que é quem precisa de governo. Rico se vira, consegue pagar para ter saúde, segurança, educação. O pobre depende do poder público para tudo. Infelizmente, o marketing e a enganosa propaganda governista foram mais eficientes e conseguiram convencer o eleitor que seu projeto era melhor do que o nosso. Por onde eu ando ouço sempre alguém dizer “fomos enganados”. Intimamente penso com meus botões, “mas agora é tarde”.

Quais os erros que devem ser evitados nas próximas eleições?

Erros que acabam por passar para o eleitor uma ideia de falta de ação. Por exemplo, responder na lata às calúnias, injúrias e mentiras. Não calar diante das falsas promessas, do engodo e da falta de um projeto consistente, vale salientar, o que aconteceu no plano estadual a presidente Dilma também fez no nacional. Creio que deveríamos ter tido mais arrojo e mais determinação na comunicação de nossa campanha, que em alguns momentos parecia se deixar pautar pelo adversário. Por outro lado, não tínhamos o mesmo aporte de recursos financeiros ilimitados que eles tinham, usando para tanto o poder da máquina governamental. Aquela foi uma das mais caras eleições da história de Sergipe, se não a mais cara de todos os tempos. Contra esse tipo de força, somente com o engajamento do povo para vencer.

Na sua ótica, Eduardo Amorim deve tentar o governo, em 2018, ou a reeleição no Senado?

O senador Eduardo Amorim é a maior liderança da oposição em Sergipe. Como disse, é um homem público preparado para vencer os desafios que se impõem sobre nosso Estado. Não conversamos ainda sobre o futuro, mas entendo, pessoalmente, que, seja qual for a sua decisão, ele terá nosso irrestrito apoio. Mas, tenha a certeza de uma coisa, mesmo que não seja o senador Eduardo Amorim, nosso grupo terá candidato próprio em 2018 ao Governo de Sergipe, bem como à presidência da República. Somente assim, com candidaturas próprias, conquistaremos mais simpatizantes e mobilizaremos o eleitor em torno dos temas que defendemos, sobretudo a família.

O grupo da oposição já esteve mais robusto. Há o risco de, até 2018, está esfacelado?

De modo algum. Não adianta pensar em quantidade e sim na qualidade. Vamos em breve começar uma campanha para ampliar o número de filiados ao PSC, uma campanha nacional que chegará a todos os Estados. O Brasil é um país onde a atividade política já não atrai tanto a juventude. Precisamos mudar esse quadro e trazer para os partidos os melhores nomes. Da mesma forma, queremos atrair as mulheres para o nosso agrupamento, pois elas têm demonstrado muita força e poder de organização. Queremos ampliar a participação feminina já para o próximo pleito. O PSC vai fazer a sua parte, mobilizando a nossa juventude e as mulheres. Somente assim poderemos melhorar a qualidade do trabalho político e, por consequência, da própria atividade política.

Se o grupo liderado pelo governador Jackson Barreto conseguir a Prefeitura de Aracaju, em 2016, dará um grande passo para manter o Governo do Estado nas eleições de 2018?

Minha bola de cristal diz outra coisa (risos), acho que a oposição vem com tudo. Espero que dr. João Alves Filho, mesmo com todas as dificuldades que enfrenta e já chegando a metade do mandato, faça uma boa gestão, diante de uma crise financeira terrível, que atinge todos os municípios. Sou municipalista e converso com prefeitos do Brasil inteiro. A falta de recursos atinge a todos, grandes e pequenos municípios. Estamos lutando no Congresso para aprovar um novo Pacto Federativo, sem o qual as prefeituras vão continuar sendo, em sua maioria, apenas pagadoras da folha de servidores, sem condições de realizar uma obra de vulto ou investir em infraestrutura. Por outro lado, o grupamento da oposição trabalha cada vez mais com a possibilidade de apresentar candidato próprio à sucessão em Aracaju.

E quem seria o candidato, o senhor?

Essa é uma decisão para mais tarde. O importante agora é formatar um cenário favorável, conversando com as lideranças de bairros e com o eleitor. Estamos acompanhando diariamente as demandas que surgem e fazendo uma radiografia dos problemas de Aracaju, para apresentar soluções viáveis a todos eles, especialmente no tocante à saúde, educação básica, segurança nos bairros e ao trânsito. Nomes para concorrer com chance de vitória nós temos, e no momento certo escolheremos aquele que estiver mais bem posicionado no coração do povo.

Modificado em 18/02/2015 20:43

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