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A quem interessa desgastar o PT?

Por Silvio Santos

O PT sergipano, depois de um longo e tenebroso inverno em que se viu obrigado a fazer, a fórceps, uma transição para lideranças emergentes no pós Marcelo Déda/José Eduardo Dutra que nos deixaram prematura e repentinamente, se reposiciona na política estadual e busca retomar o protagonismo político que perdeu nos últimos anos de rearrumação.

Enquanto uma nova geração de quadros políticos petistas tentava, entre previsíveis e compreensíveis, contendas juvenis, se afirmaram no cenário político, aliados e adversários davam como certo o fim do petismo aqui e alhures, enquanto apostavam na incapacidade de as novas lideranças reunificarem o partido, movimento fundamental para mantê-lo forte.

As disputas intestinas pelo comando do novo comando partidário era a senha para que os ditos aliados operassem a extrema unção do PT. Para fragilizar adversários internos, correligionários buscavam o apoio de aliados externos. Hora eram uns, hora eram outros, mas, em comum, a ação suicida de buscar apoio nos potenciais adversários para derrotar companheiros.

Depois de anos de uma espécie de Guerra do Fim do Mundo, eis que o PT começa a dar sinais de lucidez e maturidade quando, construindo finalmente a unidade partidária, se desata do nó górdio em que estava amarrado, numa aliança que mais parecia Síndrome de Estocolmo, e resolve lançar a candidatura do ex-deputado federal Marcio Macedo à prefeitura de Aracaju em 2020.

Passadas as eleições, claro que não faltariam as vivandeiras a, mais uma vez, vaticinarem o fim do PT, ao anunciarem a derrota eleitoral do partido. Geralmente os jogadores de dama não compreendem um tabuleiro de xadrez. Apressados e míopes não entenderam que a grande vitória petista foi política, ao ousar se libertar do jugo de um campo dito aliado, acostumado a usar estrelas petistas como símbolos em eleições para em seguida rasgar compromissos programáticos. Não à toa que Marcelo Déda, mesmo após sua morte, esteve em todas as campanhas, como um El Cid à frente da cavalaria. Acabada a campanha, petistas viravam personas non gratas.

A atitude petista em 2020 parecia pôr fim a uma luta interna que perdurava há tempos e anunciava um novo momento de unidade entre as forças e lideranças partidárias. Esse novo ambiente estimulou o partido a de novo uma candidatura própria nas eleições de 2022. E mais uma vez não faltou coragem aos petistas.

Contra todos os aparelhos do estado, aí incluídos prefeituras e poder econômico local, além de uma esmagadora votação para Lula à Presidência da República, a campanha petista levou seu candidato, o senador Rogério Carvalho, ao segundo turno das eleições para o Governo do Estado, em primeiro lugar entre os aptos à disputa e, mesmo perdendo a eleição no final, obteve quase 50% dos votos dos sergipanos, fazendo com que, o candidato e o partido, saíssem do processo eleitoral muito maiores do que entraram.

O resultado eleitoral possibilitou um reposicionamento do partido e de seus principais quadros. As urnas deram a Rogério Carvalho a condição de liderar a oposição em Sergipe, e, gostem ou não, essa condição tem a força de uma delegação, de um mandato, de uma ordem popular, das quais o senador não tem o direito de abrir mão. A força eleitoral do PT em Sergipe propiciou a eleição de Rogério para a primeira secretaria da Mesa do Senado, a reeleição do deputado federal João Daniel, a nomeação do ex-deputado Marcio Macedo como ministro de estado no governo do presidente Lula e de Eliane Aquino para assumir uma importante secretaria nacional no principal programa social do governo federal. Se alguém acha que isso é pouco, busque nos anais da política sergipana se já existiu por aqui de uma força política ocupar, ao mesmo tempo, tantos espaços importantes no poder nacional e com tantos quadros qualificados.

Pois bem, diz o ditado que “o vício do cachimbo deixa a boca torta”. Em primeiro lugar é preciso entender que, o fato de o PT readquirir seu protagonismo, não quer dizer que nossos adversários abandonaram a luta política. E começaram a agir exatamente ali onde estão acostumados a fazê-lo: apostando na divisão interna, nas idiossincrasias, nos egos e ambições particulares das lideranças do PT e isso, de novo, provoca recaídas nos pitadores do cachimbo petista.

Nem é preciso ser muito inteligente para perceber as armadilhas usadas pelos adversários do PT no estado. Primeiramente articularam uma agenda inócua, insípida e insossa para Lula em Sergipe. Estava ali o primeiro cavalo de batalha – ou de Tróia -. Na semana que antecedeu a agenda toda a imprensa nativa deu em manchetes e “análises” que a vinda de Lula a Sergipe era uma demonstração de força do governador do estado e do ministro chefe da secretaria geral do governo Lula, o petista Marcio Macedo, e significava o isolamento do senador Rogério Carvalho. O curioso é que para esses mesmos narradores, o Marcio que agora era aplaudido, é o mesmo Marcio que em 2020 era o monstro do divisionismo. É tão difícil assim perceber a cilada? Ou seja, a narrativa não poderia deixar de diminuir a força do PT e fomentar a luta interna. Tão primário e inteligível, né? Pois é, mas parece que os petistas não perceberam e foram adiante como se nada tivesse acontecendo.

Sobre a agenda de Lula em Sergipe, ninguém teria notado se não fosse pelos fatos negativos. Um evento que conseguiu desagradar a gregos e troianos. No palanque armado na praça principal de Maruim, enquanto jornalistas, radialistas, fotógrafos, cinegrafistas, grudados uns aos outros num puxadinho, derretiam sob o sol escaldante, petistas, aliados, neoaliados e bolsonaristas conviviam num ambiente de pseudo harmonia, entre vaias, falsos sorrisos, desgostos generalizados e uma pergunta que corria de boca em boca: tudo isso por uma foto com um tratorista em Pedra Branca e um repetido anúncio de retomada de 14 mil obras paralisadas? Ah, para confirmar o fiasco da agenda presidencial nas terras de Serigy, o evento culminou com uma nota oficial assinada pelo ministro chefe da comunicação social da presidência da república, Paulo Pimenta, pedindo desculpas pelos maus tratos aos profissionais da imprensa que cobriam o evento. O único fato digno de nota.

Nem vou falar no tal almoço na casa do pai do governador. Aí também já é demais também. Sobre isso fico com a frase do Nobel de Economia Milton Friedman: não existe almoço grátis.

Mas não pensem que a guerra ao PT parou por aí. Se nos dias que precederam a vinda do Lula a Sergipe, a narrativa apontava para o isolamento do senador Rogério Carvalho, no pós agenda a vítima passa a ser o ministro Marcio Macedo. Agora, além do desgaste por uma agenda presidencial intempestiva e mal planejada, o ministro também é acusado de vetar nomes para assumir cargos no governo federal. Sinceramente? Acho inverossímil. Não acredito que o poder de Marcio chegue ao ponto de vetar um nome que o próprio Lula aprovou, tem mais caroço nesse angu, mas me chama a atenção que os porta-vozes dessas narrativas são os mesmos de sempre: imprensa oficial e a guerrilha antipetista da internet. Me surpreende a incapacidade de lideranças petistas de perceberem o óbvio e diante disso, sentarem-se a mesa, alinharem seus projetos pessoais a um projeto coletivo e entenderem definitivamente que não há saída individual. O que não me surpreende é a capacidade dos petistas de darem tiros nos próprios pés, alimentando-se das narrativas do adversário e praticando o fratricídio. Infelizmente essa parte já é jornal velho.

*Silvio Santos é jornalista, pós graduado em Ciência Política, ex-vice-prefeito de Aracaju

Modificado em 27/02/2023 17:53

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