Por Joedson Telles
As cenas do vereador Cabo Amintas tomado de cólera, tentando ir pra cima do vereador Vinícius Porto (pra meter a mão na cara?) e sendo contido, mas não de gritar (“… você não é homem. Seja homem, porra. Cínico…”) estão mais presentes nas redes sociais que comerciais de ovos de páscoa, em plena semana santa. Aliás, o que ratifica como estão vivas nas mentes dos que assistiram. Não bastou a vasta cobertura da imprensa: viralizaram na web.
Incrível como a inclinação para velar equívocos é traço marcante no ser humano. E olha que flagrei compartilhamentos em espaços de pessoas tidas como inteligentes. A febre de reproduzir o que não serve ao bem parece contagiante.
Evidente que grande parte dos que estão a ecoar o episódio o faz em tom crítico. Não aprova o óbvio: vereadores não são eleitos e pagos com o suado dinheiro do contribuinte para bater boca. Se desafiarem. Tampouco o plenário da Câmara de Aracaju é local para baixarias.
Entretanto, ao reproduzir as imagens propaga-se o que não serve como o bom exemplo. Sobretudo o vereador Cabo Amintas, errou feio. Vendo as cenas em casa, mais calmo, ele deve ter percebido que não deveria ter protagonizado tamanha arriaria. Há outros caminhos para a persuasão. Vacilou.
Não entro no mérito se o vereador Vinícius Porto deu motivo para a indignação aparente. Se foi ou não cínico. Não tenho elementos que comprovem se o tal vídeo foi ou não editado.
O fato é que, se o prefeito Edvaldo Nogueira manda ou não na Câmara de Aracaju, uma análise do que é aprovado naquela Casa – e do que deixa de ser – revela facilmente se o chefe do Poder Executivo também apita no Legislativo. Levantar estes dados e dividir com a população soa mais racional. Aliás, a oposição tem a obrigação de fazer isso.
Não é com atitudes nada condizentes com o perfil que um representante da população na vida pública está obrigado a ter que Cabo Amintas ou qualquer outro parlamentar irá recolocar o trem nos trilhos, se for o caso.
Mesmo que consiga provar que tem razão no mérito, Cabo Amintas, note-se, optou pelo caminho errado e atirou no próprio pé. Várias vezes, a propósito. Avocou pra si a fama de violento, de quem não tem argumentos para resolver nas ideias e parte para meios reprováveis. Em uma Casa que velasse mais o próprio estatuto estaria hoje com o mandato em xeque por quebra de decorro.
Ao insistir que Vinícius Porto não é homem, Amintas abriu espaço para que o julguemos como uma pessoa preconceituosa com quem, de fato, não é homem, inclusive fatia do eleitorado. Por motivos óbvios, colocou em xeque o próprio equilíbrio para exercer uma função pública da qual polêmicas, embates, discussões são partes inseparáveis. Sem falar que estará sempre na mira do bom jornalismo. A função é pública e não privada.
Até ganhando, Amintas perde. Supondo que o vídeo que ele exibiu não foi editado e prova irrefutavelmente que Edvaldo Nogueira dá as cartas na CMA, a notícia acabou sufocada pelas cenas inesquecíveis cujo ator principal é o próprio Amintas. Como dizemos no jargão do jornalismo, tirou o foco. E, evidente, prestou um desserviço à população que, certamente, gostaria e saber (confirmar?) se, de fato, Edvaldo Nogueira manda na CMA.