Por Joedson Telles
Ainda a importunar os botões à cata de um adjetivo lacônico para encapar a entrevista que o presidente Michel Temer concedeu à Folha de S.Paulo, nesta segunda-feira 22. Todavia, o trecho campeão a espelhar este adjetivo não encontrado emerge de pronto: o plágio aos ex-presidentes petistas Lula e Dilma, que escreveram na história política deste país embrutecido a frase “eu não sabia” para servir de boia de salvação nos momentos que a medicina batiza de estado terminal.
E, assim, o presidente Temer o fez. Disse ao jornal paulista, chamado de “golpista” por petistas, que não sabia que Joesley Batista, o cara da JBS, que, miseravelmente, o traiu, ao gravar a conversa entre os dois no famoso encontro fora da agenda, às 22 horas, no Palácio do Jaburu, era uma das presas da Lava Jato. Um corrupto.
Ah é? Mesmo no país das empresas que dão propinas aos políticos sendo desnudado, vamos fingir que engolimos. Que um empresário poderoso está atolado até o pescoço em atos criminosos, que é fisgado na Lava Jato, mas a informação não circulou ao ponto de chegar ao presidente da República. É difícil, mas vamos imaginar que é isso mesmo.
Mas e aí? E quando soube, ao vivo, da boca do próprio Joesley, o que justifica o presidente da República não ter procurado à Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal… Ele mesmo não ter dado a chamada voz de prisão? Ah, o próprio Temer, tranquilamente, respondeu à Folha: “confesso que não levei essa bobagem em conta”… O Brasil lúcido, sim, presidente.
Já disse neste espaço: com ou sem provas sobre a suspeita de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa levantadas pela PGR, que pediu ao STF que investigue tudo, o presidente Temer, ao silenciar diante da, digamos, confissão de Joesley, e agora, ao chamar atos criminosos de “bobagens” perdeu quaisquer condições de permanecer à frente do governo. Pode-se e deve-se, óbvio, até investigar tudo a fundo e aplicar a lei, mas, já agora, a notícia de prevaricação por si só já colocou o ponto final no governo.
Neste momento, já são mais de 10 pedidos de impeachment contra o presidente Temer, inclusive o da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que, a exemplo do pano de fundo deste texto, dispensa o desfecho das investigações para que Temer vaze: a prevaricação já basta.
Uma pitada de cidadania, de empatia com os desempregados, de amor ao Brasil, de coerência com o sentimento em prol das reformas que o próprio Temer tanto argumentou serem necessárias para a volta do crescimento do país, seriam suficientes para que o presidente já tivesse arrumado as gavetas. Sua história grita pela ação também.
Há exato um ano, o Brasil “terminava” de viver a angustia do impeachment da presidente Dilma, que não renunciou e foi até o fim. Até o desfecho, o país sangrou por um tempo cruel. Investidores sumiram. A economia entrou em crise, levando a política e a ética juntas. O desemprego explodiu e até hoje faz vítimas. Temer e aliados que criticaram a petista querem o Brasil vivendo dias até piores que aqueles? Precisam dizer que não com ação. A situação está insustentável. A governabilidade jaz.
Ao insistir no apego à cadeira, a cada volta do ponteiro do relógio, o presidente tende a perder mais aliados. Ficar isolado soa o destino. O sentimento dos brasileiros, em sua maioria, impulsiona os políticos, sobretudo via redes sociais. Até porque, na era de Lava Jato, prisões e delações não se pode afirmar que mais podridão esteja fora do script.
Como bom jurista, o presidente tenta esquivar-se. Leva os fatos para o campo jurídico. Mas é impossível fazer isso sem combinar com os russos, que optam, evidentemente, pelo lado político da coisa. Querem eleições diretas ou indiretas.
Aliados que incentivam Temer a não renunciar, a soltar frases de efeito como “se quiserem, me derrubem” apostam na queda de braço. Sonham com Temer no governo de qualquer jeito. Democrático, é verdade. Em política vale tudo, é claro. Mas é preciso não esquecer que o futuro do Brasil está em xeque. E a conta chegará às urnas. Pode apostar.