Por Joedson Telles
Já notou que a moda é falar em reforma política? Conscientemente ou não, atores se reversam no papel, provocando nos lúcidos um misto de repulsa e sofreguidão. E quando trajam terno e gravata e, comprovadamente, se beneficiam do atual modelo imoral, nem é bom falar. É certo que estamos no Brasil, onde o errado soa o certo e o certo padrão de comportamento para otário. Mesmo assim, a desfaçatez não deveria ser tão voraz. Tão à cata de holofotes.
Poderíamos ter limites impostos, pelo menos, pelo sentimento de empatia com o conjunto da sociedade. Subestimar menos a inteligência alheia. Isso quando há, evidente. Pensar, infelizmente, continua sendo artigo de luxo.
Mas por que continuar ludibriando os que estão fora da panela dos sonhos? Os trabalhadores? Os excluídos? A turma das migalhas? Anotem: a menos que a sociedade se una pela causa disposta a ir às últimas consequências, nunca haverá uma reforma política que corresponda às expectativas do coletivo. Nunca. Quando muito, haverá lampejos. Mas uma reforma que atenda, de fato, às necessidades, ainda que as básicas, da maioria da população, jamais. Matar a galinha dos ovos de ouro? Como?
Eis a verdade de forma seca. Cristalina. Apesar de sonegada com tanta facilidade e cinismo na retórica usada por gente que tem o poder para fazer a coisa certa, mas não faz. O juízo atinge 100% dos atores? Evidente que não. Em nada na vida a unanimidade é marca registrada.
Entretanto, seguramente, a imensa maioria dos que poderiam escrever uma história diferente não o faz. Não o fará. Poucos querem se permitir ao luxo de deixar a zona de conforto em nome de uma gama de pessoas sedentas por justiça social. É uma questão cultural. Aquela história desgastada da pouca farinha para o disputado pirão.
A história não teve início ontem. Também não tivemos sempre o mesmo grupo político comandando União, Estados e municípios. Mas os vícios são apartidários e os mesmos, note-se. É como se estivéssemos norteados por alguma frase, mais ou menos, assim: “se eu estou bem, problema de quem não está”… Quando muito, “se eu, minha família e os amigos mais próximos”…
E, se é esta a cultura, como admiti-la publicamente sem colocar em xeque a sequência do jogo, se o passaporte para a zona de conforto imoral é justamente o aval dos excluídos? Como chegar e falar a verdade na lata?
A maioria é vítima do embrutecimento, evidente. Mas tudo tem limite. A sociedade não suportaria uma confissão como esta tão nua e crua. Seria a falência de um modelo nocivo ao coletivo, mas de uma utilidade ímpar aos que se beneficiam dele.
Imprescindível, então, continuar fingindo buscar soluções que amenizem o drama social. Forçoso prosseguir mentindo sobre reforma política e outros temas da moda que só servem para renovar o ciclo de vida da podridão instalada. Os atores parecem adorar a ideia. Agem com maestria. E perde tempo quem tenta separar por partido. É notório que há pessoas distintas. Mas partidos? Está no DNA . Muda-se a retórica, jamais a intenção.