Por Joedson Telles
Anunciado ministro da Educação, o professor Carlos Alberto Decotelli da Silva, que substitui o polêmico e despreparado Abraham Weintraub, evidentemente, pelo perfil do governo, surpreenderá se conseguir corresponder às expectativas daqueles que fitam, por exemplo, Paulo Freire um símbolo da educação sonhada. É ir além da realidade esperar isso de um técnico que se encaixa nos pré-requisitos do presidente Jair Bolsonaro.
Entretanto, se demonstrar a capacidade de liderar um projeto educacional que desembarque na escola e reprograme professores e alunos de modo a criar a cultura de priorizarmos a empatia como base de tudo deixará uma marca positiva. Eis o seu principal desafio, os demais estão a reboque.
Evidente que há graves problemas na área da educação clamando por soluções urgentes e não podem ser esquecidos. O descaso com as universidades, a falta de valorização dos professores e demais servidores e a ausência de uma política de educação básica capaz de conscientizar alunos da importância de aprender o conteúdo, de fato, e não apenas mudar de série são exemplos da lista dos mais gritantes. O internauta, por certo, apontará mais questões. A empatia, no entanto, soa a mais urgente.
Creio que poucos se dão conta, e se muitos compreendem banalização é o vocábulo: vivemos um caos no terreno empatia. Quando o assunto é se colocar no lugar do próximo, poucos se permitem sequer pensar na hipótese. Descartar é o verbo. É quase uma regra: os pais falharam, a escola idem e o resultado é uma geração, em sua maioria, a desprezar usar da empatia. Até mesmo um simples bom dia, um muito obrigado são artigos raros.
O preço desta estupidez coletiva a ser pago impreterivelmente pela própria sociedade não poderia ser mais alto. Agora mesmo, em tempos de pandemia a assombrar, temos um exemplo que não permite a contra argumentação. Até o momento deste texto ser postado, registramos, no Brasil, mais de 55 mil mortes por covid-19, e estamos perto da triste marca de 1,3 milhões de infectados pelo novo coronavírus.
Apesar da obviedade, difícil é colocar em cabeças ignorantes – e são inúmeras – que muitas destas mortes e infecções seriam evitadas, se fôssemos um povo educado a usar da empatia. Note-se que é a mesma empatia que falta quando algum pobre de espirito ateia fogo num morador de rua. Quando dizemos não podendo dizer sim. Ou “sinto muito” sem sentir nada…
Voltando à pandemia, quantas pessoas obedeceram aos protocolos de isolamento social, mas acabaram contaminadas por outras pessoas (sobretudo familiares), que se acharam imunes por não pertencerem a grupo de risco e deram a carona que o vírus queria para agir contra um idoso, um diabético, hipertenso…? Sem falar nos lixões humanos que, conscientes que estão infectados, dão de ombros à quarentena e, por tabela, à vida das demais pessoas.
A força destes números, que somados a tantos exemplos que a falta de empatia e de educação são inseparáveis e pedem soluções conjuntas e urgentes, dão o cartão de visitas ao ministro Decotelli. Que por ser da área e pelo posto que passou a ocupar não pode se permitir ao luxo de desconhecer o diagnóstico da principal doença do paciente. Basta ter a responsabilidade e a coragem de iniciar o tratamento.