Por Joedson Telles
Já se tornou bufo o choro quando o assunto é a Rede Globo noticiando ou analisando fatos envolvendo o PT, Lula e Dilma. E mais grotesco ainda sonhar com críticas duras dirigidas ao PMDB pela opção em saltar do avião em queda. Apesar de toda a mídia – inclusive grande parte da imprensa internacional – focar não só a crise econômica e política que espelha cada vez mais um Brasil sem rumo e sem comando, mas, sobretudo, as investigações sobre roubalheira avassaladora, a cólera deságua apenas na Rede Globo. Creio que tal idolatria até deva despertar ciúmes em outros veículos.
Recorro aos botões, como sempre, aliás, e indago de pronto: essa mágoa toda seria a consciência pesada, acossada pela memória do dinheiro público (e bote dinheiro nisso) que os governos petistas de Lula e Dilma deram e continuam a dar a Globo via publicidade? E aí se compute não apenas a TV aberta, a mãe, mas os vários canais a cabo, o jornal O Globo, a Revista Época, as emissoras de rádio e todos os sites da emissora dos Marinhos. Estariam esperando que a Globo silenciasse por gratidão? Optasse pela omissão? Sentisse piedade? Se deixasse pautar pelo PT, pelo governo Dilma ou por Lula? Que tal pelos três? Se for este o juízo é de uma ingenuidade ou arrogância ululante a beirar a desfaçatez.
A Globo nunca gostou do PT. Tampouco dos seus admiradores que saem às ruas em protestos e, às vezes, os ânimos permitem agressão contra jornalistas. O PT chegou ao poder porque foi inevitável. Outros partidos falharam, e na fila há anos estava o PT, esperando pela chance que chegou. Mas, se dependesse da Rede Globo, até hoje o PT estaria onde sempre esteve: se esgoelando nas ruas para desgastar governos alheios, tentando persuadir que tinha o melhor projeto. Igualzinho a uma esteira ergométrica a provocar suor sem sair do lugar.
Exagero? Que nada. Basta lembrar o preconceito que sentiu na pele o próprio Lula – sobretudo antes de ser eleito presidente pela primeira vez. E se hoje a Globo apela frente indícios numa clara semiótica a atestar o desejo de ver Lula sepultado politicamente e até preso, e Dilma desempregada como milhões de brasileiros em seu governo, ontem nem indícios existiam. Rifou-se Lula o quanto pôde de “graça”. Eleição após eleição. Mas nada disso impediu que o PT no governo continuasse dando o suado dinheiro do contribuinte à emissora via publicidades no atacado.
A Rede Globo, portanto, faz o que sempre fez. Está onde sempre esteve. Tirou o pé do acelerador por um tempo, é verdade. Mas parece até que esperava toda essa roubalheira de ‘mensalão e petrolão’ emergir para se divertir e divertir torturando psicologicamente petistas e admiradores. A Globo continua sendo a Globo. E enxergando o PT como o PT. Aliás, até uma criança sabe distinguir com facilidade quem mudou, se a Globo ou o PT.
Evidente que em provando inocência, o PT, Lula e Dilma desmoralizarão Globo e quem mais estiver semeando ventos fora do bom jornalismo. Até o momento, há fortes indícios, sobretudo, depois da revelação do conteúdo dos tais grampos, mas prova irrefutável que possa condenar não emergiu.
E se não se provou nada e o processo está em andamento, se os petistas acusados são, de fato, inocentes como eles mesmos asseguram, porque, então, tanto açodamento com a pilha global? Desesperança? Esperneio? Choro? Por que este desespero em propagar que no dicionário vermelho investigação é sinônimo de “golpe”? Por que não respeita a democracia? Respondo: o PT sente-se cada vez mais abandonado. Inclusive por grande parcela da população. As pesquisas são frias com Lula e Dilma. O PT sabe que se não reverter o jogo, chamemos assim, corre o risco de não apenas deixar o poder precocemente, mas, sobretudo, levar anos e anos para voltar. Se é que a história permitirá uma volta – a depender dos desdobramentos dos fatos.
Bem mais que salvar a pele da Dilma, a pele do Lula, o PT tem consciência que está em xeque o seu projeto de poder. Se antes o inimigo era o PSDB, o DEM ou qualquer partido de oposição, hoje o PT elegeu a Globo, a Lava a Jato, o Ministério Público, o Judiciário, os chamados “Coxinhas”. Só falta se revoltar contra o conjunto da população. “Nunca antes na história deste país”, o PT se sentiu tão ranzinza. Tão fragilizado. Tão na parede. Tão perto da cova. A estrelinha parece perto de submergir antes de o pedido ser atendido. E os próprios petistas se perguntam angustiados: será que o PT terá como provar inocência e reverter o quadro nada favorável? O bom senso espera que se isso não for possível, os que não gostam do PT ao menos tenham a hombridade de separar os erros petistas dos serviços prestados ao país – sobretudo na área social. A história tem que ser contada de forma imparcial.
P.S. Não só o Brasil merece solidariedade. Os petistas que não procuraram este caminho, como, por exemplo, os sergipanos, não merecem o constrangimento coletivo.