Por Joedson Telles
Indubitavelmente convencional no papel de pedra – seja se valendo do microfone de uma rádio ou da tribuna da Assembleia Legislativa -, o deputado estadual Gilmar Carvalho parece mesmo disposto a, desta vez, realizar o antigo sonho de tentar ser vidraça. Leia-se: disputar a Prefeitura de Aracaju.
Óbvio que a missão é espinhosa do início ao fim – sobretudo em cruzando a linha de chegada. A administração pública é impessoal – e o eleitor mais impaciente que torcedor de time grande com jogador que não rende. Com a mesma aptidão que vota cobra imediatos resultados. E problemas existem no atacado.
Tais vertentes, no entanto, não deixam dúvidas: Gilmar, em levando o sentimento adiante, já seria vitorioso por permutar a “zona de conforto” da comunicação e da cadeira que ocupa na Alese pelo papel reservado aos audazes que se aventuram no exercício de chefiar um Poder Executivo – mormente num momento em que escassez de recursos é frase recorrente. E se o foco for a Prefeitura da capital bote coragem…
Mas é bom não confundir as coisas. O vitorioso em questão repousa sobre a boa política. Sobre um Gilmar Carvalho que não deixaria dúvidas de ser um homem com vocação para se sacrificar em prol de tentar resolver os problemas do coletivo. Um político que não se furtaria a dar passos arriscados em nome da boa causa.
Pessoalmente, entretanto, se algo escapar do script – e os riscos são gigantescos, dada à grande demanda -, Gilmar Carvalho pagaria sozinho uma conta salgada. Num português simples: teria tudo para sair queimado da PMA, mesmo que tivesse dado o seu melhor e que fosse, miseravelmente, traído pelas circunstâncias.
Esperto e calejado com a política, Gilmar demonstra estar atento aos detalhes imprescindíveis à análise obrigatória antes de carimbar o passaporte e partir para o voo.
Aos radialistas Paulo Sousa e Rosalvo Nogueira, da Pan, disse, esta semana, que tem “procurado estudar formas e maneiras de como resolver os graves problemas dos municípios, porque não é só ser candidato… Se nós chegarmos à conclusão que temos a condição de administrar a capital, serei candidato”.
Não deixa de ter razão. Evita, assim, atirar no escuro…
O problema, porém, é que mesmo vencendo esta difícil etapa, Gilmar ou qualquer outro que almeje ser prefeito, principalmente de uma capital, tem a necessidade imperiosa de ter um forte grupo dando sustentação ao projeto por razões mais que óbvias.
Com Edvaldo Nogueira sentado na cadeira de prefeito e aliados de primeira hora – como o PT e o PSD – sonhando com a vez, restaria a Gilmar “disputar”, provavelmente contra o deputado federal Valadares Filho, quem conseguiria reunir a fragmentada oposição em torno de uma candidatura a prefeito de Aracaju.
Fora isso, só restaria a Gilzinho Cheirosinho Fofinho da Mamãe adiar o sonho, mais uma vez, ou assumir o risco de se jogar numa candidatura praticamente isolada, que, se não já nasceria morta, no mínimo, enfrentaria sérias desvantagens em relação às concorrentes e seus agrupamentos. Gilmar sabe disso. Sabe que ser vidraça é bem mais difícil que ser pedra.