Nas rodas de conversas sobre a política, nas entrevistas ou mesmo entre familiares e amigos, o assunto de quem disputou as eleições 2014, independente do resultado obtido, é um só: a escancarada compra de votos. O investimento altíssimo aos olhos dos pobres mortais para ter um mandato. Inclusive políticos que compraram votos abertamente, mas sabem que não existem provas contra eles, optam pelo cinismo de resmungar também. É a mais nova moda da política. É como se o político tivesse a certeza de que, no momento em que protesta, garante junto ao eleitor a imagem de sério e vítima de corruptos.
As denúncias de crime eleitoral envolvendo compra de votos são as mais variadas possíveis. Vão desde pagar R$ 300 ou até R$ 500,00 para afixar uma placa com as informações do candidato na parede de casa, passando por favores, materiais de construção, alimentos, a contratação do “serviço” de boca de urna e chegando ao tradicional toma lá da cá – à base de colocar dinheiro vivo e mudo no bolso do eleitor desonesto em troca do voto.
A pergunta óbvia que se faz: “se todo mundo sabe que existe compra de voto, se isso é crime eleitoral e se há mecanismos para que os criminosos sejam punidos o que estaria faltando para essa gente ser punida?” A resposta é também a mesma: “falta prova”. Uma resposta tão abstrata que carrega em si não apenas a certeza da impunidade como também o estímulo para que o comércio do mal contra as soluções para as demandas sociais continue crescendo em progressão geométrica.
Outra pergunta óbvia: se o problema é conhecido e se repete a cada eleição, se o inimigo é conhecido, facilitando, assim, derrotá-lo, não seria o momento de a polícia entrar em cena com energia? Usar, por exemplo, a tecnologia, como uma simples filmadora de um celular para construir as tais provas necessárias a chamar o feito à ordem?
Bolas! É o fim da picada. Todo mundo sabe que o crime acontece de forma aberta, mas ninguém faz nada que, na prática, possa coibir o mal e gerar a justa punição para corruptos e corretores. O que esperar dos próximos pleitos, se a impunidade estimula aos desonestos permanecerem no jogo?
Seguidas eleições atestam com eloquência que não basta apenas o trabalho àrduo dos promotores de Justiça da Procuradoria Eleitoral. Insisto: a polícia tem que entrar em cena. Investigar os crimes eleitorais como faz com qualquer outro crime: dos indícios às provas. Atacar os bandidos mediante o universo de suspeitas – inclusive levantadas quando o número de votos de determinados candidatos extrapolar as mais otimistas perspectivas e, coincidentemente, houver uma estrutura de poder ou econômica a garantir a sombra.
Investigando a fundo os indícios, e, evidentemente, conseguindo provas irrefutáveis, a polícia pode, finalmente, começar a jogar criminosos na cadeia. À medida que o número de prisões for aumentando, obviamente, bandidos serão intimidados, para não persistirem na prática nociva aos interesses sociais, já que quem compra voto, dificilmente, sente-se na obrigação de trabalhar pelo bem social. Cumpre o mandato com a tranquilidade de quem não tem obrigação nenhuma de dar satisfação dos seus passos. E, literalmente, não deve nada ao eleitor desonesto.