Por Joedson Telles
Apesar de casado, o cara não perdoava um rabo de saia. Namorador do canso. Tinha várias mulheres e quando uma desconfiava da outra, e o jogava à parede com a acusação nada amistosa, sempre se safava com a mesma tática: negava. Negava e pronto. Ficava a sua palavra contra a acusação da traída. Como desmascará-lo?
Cuidadoso, não deixava provas da perfídia. Destruía ou mandava destruir tudo. Bilhete, mancha de batom, perfume, fio de cabelo… Tudo. Mensagem no celular? Email? Zap? Quem viu?
A mesma aptidão que tinha para derrubar uma beldade com uma cantada tinha para não deixar provas do crime e, se confrontado, negar veementemente era a saída.
E, assim, a vida seguia. Uma mulher diferente hoje, assistência à esposa em casa também e amanhã a história se repetia.
Uma vez, numa roda de cachaça, foi indagado por um genro que também aprontava das suas.
– Diga aí como é que você faz para levar essa vida e a mulher engolir? Como consegue driblar a patroa? Tenho que aprender essa manha.
A reposta foi seca. Nem pensou duas vezes.
– Negue. Morra negando. A mulher pode saber tudo. Ter detalhes e jogar em rosto. Negue.
E a vida segue…
Um dia, que de belo não tinha nada, o garanhão estava em casa e, aproveitando que a patroa não, decidiu tirar uma onda com a secretária, que, aliás, já estava em sua mira há anos. O momento havia chegado. Ela gostou da ideia.
E lá estavam os dois na mesma cama que ele dormia com a esposa. O maior clima: ele por baixo e ela se acabando.
De repente, a porta abre, a esposa entra no quarto e grita atônita:
– Bosco… (o nome é fictício)
Diante da impossibilidade óbvia de valer-se da velha tática, Bosco empurrou a secretária, pulou da cama e ainda despido indagou como se estivesse sido treinado para aquela situação vexatória:
– O que é isso? Quem colocou essa mulher aqui? Tirem ela daqui. Tô doido, tô doido, tô doido…
Correu para o quarto de hospedes, fechou a porta e só abriu para, coincidentemente, o mesmo genro aprendiz. Pediu-lhe o favor.
– Chame aquele médico amigo que ele resolve isso. Ligue ligeiro…
Depois de meia hora trancados no quarto Bosco, o genro e o médico, o doutor mata a curiosidade da mulher e de outros familiares que aguardavam ansiosos do lado de fora.
– Ele não estava em si. Nem lembra o que fez. Melhor nem tocar mais neste assunto…
… Lembrei desta história, que nem sei se é verdadeira, mas que me foi contada como tal – e a qual acrescento detalhes fictícios -, ao ver tantas delações premiadas a entregar o companheiro Lula de bandeja com riqueza de detalhes.
Na mais recente delação, nesta sexta-feira 12, os depoimentos do ex-marqueteiro do PT, João Santana, e da sua mulher, Mônica Moura, assegurando que não apenas Lula, mas também Dilma sabiam da existência do caixa 2 só aumentam a lista das acusações. Por sua vez, Lula continua se valendo da velha tática: negar.
Como o bom direito carece do conjunto da obra, e provas materiais não foram apresentadas, negar ainda soa a melhor saída para Lula – seja ele inocente ou não. Todavia, se aparecerem as tais provas, a cadeia será o destino certo. Adeus 2018. Nem adianta sair por aí gritando ao estilo Bosco: “tô doido, tô doido, tô doido…”
P.S. A empregada? Procurou a Justiça. Não aceita até hoje a chamada demissão por justa causa.