Por Joedson Telles
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, confessou, nesta quinta-feira 27, em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, que não apenas os pagamentos das compras de luxo feitas por ele e esposa eram fruto de caixa 2, mas também que a prática é um “fato real da vida nacional”.
Dias antes, Emílio Odebrecht já havia dito que “temos no Brasil um negócio de 30 anos”. Referiu-se à corrupção. E poderia ter voltado anos e anos e lembrado que o país, ao ser descoberto pelos portugueses, contrariando historiadores que creditam o feito aos índios, era palco do chamado escambo, com os europeus levando sempre a melhor.
Pode até soar exagero chamar isso de uma relação política à base da corrupção. Tudo bem. Mas, no mínimo, semeou-se ali a cultura de olhar o próprio umbigo ainda que isso sacrifique a outra pessoa. De se dar bem em detrimento o prejuízo alheio. Aliás, a posterior escravidão é tão nociva quanto à corrupção. Mais violenta no sentido físico, claro. Mas o mesmo estrago é feito na democracia.
Não é surpresa, portanto, que, no Brasil, caixa 2, corrupção e qualquer esperteza seja tão comum quanto erros sucessivos dos árbitros durante os jogos de futebol. A diferença, evidente, está no estrago que as consequências das primeiras práticas fazem na vida da maioria das pessoas – sobretudo dos mais necessitados.
Encarcerar Sérgio Cabral, Emílio Odebrecht e os demais fisgados na Lava Jato e, em se tendo provas irrefutáveis, mantê-los separados dos cidadãos de bem por longos anos – infelizmente não temos pena perpétua – pode não resolver o velho problema.
Neste exato momento, há gente (e bote gente nisso) assistindo ao andamento da Lava Jato num confortável sofá, mas roubando ou fazendo de tudo para meter a mão no suado dinheiro do contribuinte. Já disse neste espaço: ladrão é fogo: é só ter a chance rouba.
Portanto, o momento imprescindível proporcionado pelas investigações que desnudam desonestos não fará milagre. Não acabará com estas pragas do dia para a noite.
Todavia além, evidente, de inibir boa parte dos gatunos, inegavelmente, vive-se o início de uma fase na qual importantes órgãos como o Ministério Público, as polícias e o próprio Judiciário criaram mais musculatura para combater o câncer, desmoralizando “bacanas” até então intocáveis.
Infelizmente, nem tudo são flores. Ainda tem gente influente, por covardia ou cumplicidade, dificultando o trabalho cogente de combate à corrupção. Gente protegendo quem não merece “sabe-se lá” pelo qual motivo. Nada, contudo, que o bom uso das urnas não resolva.
Políticos elaboram leis, administram União, Estados e municípios, se fiscalizam, nomeiam e exoneram… Políticos têm inúmeros benefícios que a maioria dos mortais não temos. Mas nenhum político consegue um mandato se o eleitor não lhe conferir. Corrupção não pode continuar sendo “um fato real da vida nacional”.